6.6.10

War of the Worlds (Guerra dos Mundos)





2005
Ficção Científica, Ação
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Josh Friedman
e David Koepp






É muito difícil ser objetivo e imparcial quando se vai escrever sobre alguém de quem se é fã. Nesses casos, muitas vezes até mesmo os defeitos do ídolo podem se tornar qualidades aos nossos olhos. Temo que esse tipo de coisa aconteça comigo quando o assunto é Steven Spielberg. Mas vamos ver no que dá.

Ray (Tom Cruise) vai passar o fim de semana com seus dois filhos: Rachel (Dakota Fanning), de 10 anos, e o adolescente Robbie (Justin Chatwin). Os dias já prometiam não ser fáceis, visto o relacionamento distante e complicado que o pai tem com os filhos, mas tudo piora muito quando rapidamente a desestruturada família se vê em meio a um terrível e desesperador ataque alienígena que se transformou em uma verdadeira guerra.

Há quem diga que Steven Spielberg seja muito blockbuster, outros o acham demasiadamente piegas. Eu acho que, quando quer, ele é genial. Ser blockbuster, ao meu ver, não é um defeito por si só. Se o filme é bom, um blockbuster pode ser a melhor opção para se ver no cinema num dia de descontração. Quanto a ser piegas, salvo raras excessões, Spielberg conhece a dificílima receita de se dramatizar uma cena de modo a comover sem melodramatizar. É raro encontrar alguém que consiga permear ótimas cenas de drama com maravilhosas tomadas de ação (ou ação com humor, ou drama com ação e humor) tão bem como ele. Mas voltarei a falar disso mais adiante.

Antes, vou falar sobre dois dos atores. Dakota Fanning dispensa comentários, mas vou falar mesmo assim: a menina é descomunal. Toda vez que assisto a um filme com ela me surpreendo com sua atuação, suas expressões, a capacidade que ela tem de chorar com vontade, de gritar com ódio, de rir com alegria e tudo devidamente tão real - sem falar que ela tem a impressionante habilidade de interpretar papéis diferentes sem nunca remeter a algum de seus trabalhos anteriores. Destaque para a cena em que Ray coloca seus filhos no carro, logo no começo do filme, quando Rachel ainda não sabe o que está acontecendo, mas está com muito medo e confusa, cheia de lágrimas nos olhos.

O outro ator, claro, é Tom Cruise. Logo no início do filme, quando Ray ainda nem chegou em casa para receber seus filhos, dá uma certa impressão de que Tom Cruise passará o filme todo interpretando ele mesmo, um verdadeiro babaca. Porém, rapidamente vê-se que não é o caso, ele impressiona pouco depois, quando Ray entende a gravidade da situação em que se encontra. Tom representa com bastante propriedade tanto o homem que se vê perdido em seu relacionamento com seus filhos, quanto o homem que se vê perdido em meio a uma guerra intergaláctica.

Agora eu volto ao que comentava no início. Permeado com eletrizantes sequências de ação, que fazem a gente segurar a respiração, Spielberg nos presenteia com ótimas passagens de pseudo-calmaria, em que os personagens são obrigados a enfrentar a falta de intimidade entre eles. São momentos importantes para humanizar os personagens, criar a fatídica empatia com o espectador do filme. Spoiler: uma das cenas finais, quando Ray finalmente chega com Rachel em seu destino e a entrega para a mãe é memorável. Tom Cruise fica afastado da filha e da ex-mulher, a câmera aberta faz questão de mostrar que, após tudo o que passou nas últimas horas para chegar naquele lugar, Ray está deslocado e só (ele estava quase mais à vontade com os extraterrestres). E, quando estamos a ponto de mandar que alguém, pelo amor de Deus, seja educado e receba esse homem mais calorosamente, surge seu filho Robbie (que uma hora dessas está dado como morto pelo pai) e o abraça. Ok, ok, acho que eu é que sou piegas...

Eu poderia falar de outras coisas também, como a bela fotografia, os ótimos efeitos-especiais, a trilha-sonora adequada. Poderia falar também do final controverso, que muitos consideram ridículo (mas nem esse defeito consigo impor ao filme, pois considero esse final perfeito). Mas, na verdade, só queria comentar sobre uma outra coisa mais: Spielber conseguiu, nesse filme, me fazer sentir o mesmo que eu sentia nos seus filmes 'de antigamente' e voltei a ser uma criança entusiasmada. Eletrizante não é a melhor palavra para descrever as sequências de ação desse filme, elas são ultra-empolgantes, desconcertantes e, ao mesmo tempo, aterrorizantes e desesperadoras. Spielberg mostra nesse filme como é um diretor corajoso ao escancarar na tela quão fatais são os invasores. E essas sensações nos atingem, não importa quantas vezes já tenhamos assistido esse filme antes.

É uma pena eu não conseguir passar com tanta ênfase o que significam, em termos sensoriais, as inúmeras tomadas de ação esmagadora. É uma pena que eu termine o meu texto com uma sensação de que não consegui exprimir como Guerra dos Mundos é um filme emocionante demais, em todos os sentidos da palavra. Contudo, posso recomendá-lo, para que veja com seus próprios olhos e tire suas próprias conclusões.