20.3.11

Changeling (A Troca)






2008
Drama
Direção: Clint Eastwood
Roteiro:
J. Michael Straczynski





Assisti A Troca sem saber que era de Clint Eastwood. Aí, nos créditos finais seu nome apareceu na tela e eu pensei: "Bem, é a cara dele mesmo...".



Ao voltar de um longo dia de trabalho, Christine Collins (Angelina Jolie), mãe solteira, não encontra seu filho Walter (Gattlin Griffith) em casa. Após meses de busca, a polícia de Los Angeles entra em contato dizendo que Walter foi encontrado. Porém, o garoto que o capitão J. J. Jones (Jeffrey Donovan) trouxe até Christine não é seu filho. Após várias tentativas frustradas de explicar o caso ao policial, a mulher se vê obrigada a enfrentar a polícia para conseguir provar que seu filho ainda não foi encontrado e que um pequeno impostor foi-lhe entregue em seu lugar. Para isso ela conta com a importante ajuda do Reverendo Gustav Briegleb (John Malkovich), o qual vê em Christine a chance de desmascarar o poder corrupto que toma conta da cidade.

Nunca sei o que escrever sobre um filme desses. Acho que é a minha falta de repertório, porque drama nunca foi muito a minha praia... Ainda assim, existem coisas que ficam evidentes e existe também a minha opinião geral sobre o resultado do filme.

A qualidade mais marcante de A Troca é a sua belíssima ambientação. A cenografia e o figurino estão absolutamente divinos e de encher os olhos. A coloração do filme, puxada para os tons pastéis e terrosos  só ressaltou ainda mais essa beleza e nos fez entrar de cabeça na época em que se passa a história.

Outro fato que salta aos olhos é que o filme é praticamente dividido em duas partes. A partir do momento em que se começam investigações de um certo crime, a história adquire um novo rítmo. Mas apesar de essa quebra existir, não a acho suficiente para compremeter por completo a unidade do roteiro.

Mas a característica que mais falada sobre A Troca foi a atuação de Angelina Jolie. Particularmente, eu acredito que houve um furor sem fundamento a respeito da interpretação da atriz. Jolie fez um trabalho bom, porém que beira o insuficiente. Ela se perdeu na complexidade da personagem, sem conseguir achar o tom da mãe desesperada combinada à mulher forte. No início do filme ela parece temer demonstrar qualquer fraquesa da personagem, de modo a não comprometer a imagem de força que ela precisaria passar no restante do filme - como se chorar e desesperar-se pela perda de um filho fosse alguma fraquesa. Não que eu esteja esperando que a personagem reagisse como eu o faria diante do desaparecimento do meu filho, mas as expressões me pareceram quase dúbios, como se a Angelina Jolie não soubesse exatamente qual era o sentimento que ela queria expressar.


Com isso, A Troca se mantém mais ou menos como a atuação de Jolie: quase chega lá, mas se perde um pouco. Talvez seja a duração, não exagerada, mas acima da média; talvez seja o rítmo algumas vezes lento, que por si só não seria um defeito; talvez seja a existência de algumas soluções que beiram o crível. Provavelmente é a somatória disso tudo. No entanto, o filme é bastante bom e vale a pena, se visto sem muitas espectativas.

13.3.11

Vincent

Imagem em preto e branco, stop-motion em massinha de modelar. Um menino branco de cabelos espetados, lisos e pretos, segura um gato preto contra o rosto. O menino tem os olhos arregalados, com olheiras e a pequena boca triste (em arco), usa camiseta com listras horizontais pretas e brancas. O gato tem o pescoço bem longo e a cabeça apoiada contra a bochecha do menino, os olhos do gato são brancos e as orelhas estão em pé e viradas para a frente.



1982
Animação, Fantasia
Direção: Tim Burton
Roteiro:
Tim Burton





Aí que um dia me indicaram que assistisse Vincent, de Tim Burton. Fiquei bastante empolgada e baixei. Mas sem saber que era um curta, coloquei numa lista de espera. Pois é, acabei de descobrir que são menos de 6 minutos de animação... Não cometam a mesma gafe que eu, assistam já!

Vincent conta a história de um garoto que queria ser Vincent Price. Quer coisa mais fofa? Pois bem. Além de toda a estética expressionista que se tornou uma marca de Tim Burton, a história é contada em forma de poema. É pouco? Certo, certo. Então vamos ao xeque-mate: o narrador da historieta é nada mais, nada menos, que o próprio Vincent Price. A-há.

O texto é lindíssimo, melodioso, delicado e soturno. Tal qual o grandioso Sr. Price. E esse texto pode ser lido em português no blog Monalisa, e na lingua original pelo site The Tim Burton Collective. A animação foi toda feita em preto e branco, o que nos aproxima ainda mais dos filmes estrelados por Vincent Price. A narração não podia ser mais perfeita - e creio que não há motivos para eu explicar essa afirmação. Por fim, além de tudo, o personagem é cativante, simpático e nos dá uma vontade tremenda de pegá-lo no colo e apertá-lo até dele arrancar um sorrisinho melancólico.

Vincent foi o primeiro trabalho em
stop-motion de Tim Burton. E com ele, o diretor mostra que já em 1982 ele era o Tim Burton de O Estranho Mundo de Jack, de Edward, Mãos de Tesoura, de Batman. Com Vincent, Tim Burton nos prova que ele já era brilhante há muito tempo!

6.3.11

A sedução do Cisne


Este é um aprofundamento ou continuação do texto já publicado há algumas semanas sobre o filme Cisne Negro.



Eu li algumas críticas internet afora e nem todas são favoráveis ao filme, como a maioria. Então, como fui ao cinema e assisti Cisne Negro novamente, busquei analisar se eu concordava com alguma dessas argumentações negativas. Mas o fato é que a minha opinião em nada mudou e eu apenas consegui ficar mais e mais adimirada com a beleza da película, na mesma proporção em que fiquei inconformada com as tais críticas.

Aprimeira vez que li algo de ruim sobre Cisne Negro, o texto embasava grande parte de sua argumentação no fato de que Natalie Portman não é bailarina, que sua dança não é absoulatemnte perfeita e que o filme não satisfaz enquanto "filme de balé"¹. Eu, sinceramente, acho que reduzir Cisne Negro a um 'filme de balé' é de uma falta de sensibilidade tão grande que me choca. O filme é sobre alguém que se doa tanto para seu trabalho que acaba perdendo a própria identidade, é sobre uma garota que cresceu reprimida e se vê com a necessidade de libertar seus desejos mais íntimos, sobre alguém que é tão insegura que só consegue buscar a perfeição ao tentar se espelhar em pessoas que adimira. 


O fato de o pano de fundo ser o balé O Lago dos Cisnes foi uma excelente idéia, já que a própria história contada no balé pode servir de metáfora para a história do filme. Foi um toque de mestre, mas não foi o ponto de partida. Tanto é que, inicialmente, o roteiro ambientava a história no mundo do teatro, mas Aronofsky sugeriu, brilhanemente, transmutá-la para o mundo do balé.²

Outro ponto levantado foi sobre o suspense do filme e as ferramentas utilizadas. É engraçado como em um lugar eu li que o filme é confuso e por isso cansativo, em outro eu li que ele é óbvio demais. O que significa que a gente (eu me incluo nisso, óbvio) costuma julgar o bom e o ruim não de forma objetiva, e sim totalmente subjetiva. Ele é bom ou ruim para mim. Enquanto alguém se cansou ao acompanhar a luta de Nina para manter sua sanidade, se perdendo entre o real e o irreal, eu me deleitei com cada momento. Não me incomodou em nada o fato de ficar cada vez mais claro durante o filme que a garota tinha problemas psicológicos, pois cada cena em que Aronofsky desnuda sua mente perturbada foi envolvente o bastante para eu sentir como ela. Durante as quase duas horas de projeção eu era a Nina.


A idéia dos espelhos foi amplamente utilizada, sim, mas isso gerou cenas belíssimas, com um timing preciso. E eu até concordaria que houve um excesso, se esse fosse o único recurso de Aronofsky. Em vez disso, o homem nos joga em meio a uma intensa autoflagelação, com aquele destaque sonoro perfeito, unida a uma tensão sexual constante. Os espelhos ou os 'truques de terror japonês'³,  também criticados, não são ferramentas originais, mas são extremamente adequadas para a situação. Pois eu, particularmente, adimiro um diretor que conhece os artifícios de sua profissão e sabe escolher o ideal para cada situação, a despeito de seu uso em outros filmes. Porque o resultado é inegável. Cada cena foi responsável por uma parte da minha incersão no drama, cada vez mais intenso (e tenso). Quantas vezes eu não me vi me contorcendo na cadeira do cinema, numa tensão avassaladora? E o que resultou disso foi uma sensação latente, como se eu estivesse sentindo a dor de Nina, como se eu estivesse delirando junto com ela. Ora, mas não posso dizer que essa sensação foi absolutamente particular, visto o sucesso que o filme vem fazendo, de uma forma geral. 

Outros recursos foram apontados como óbvios e reiterantes demais do que se passava na mente de Nina⁴. E eu continuo me perguntando qual o problema nisso, se cada recurso serviu como uma luva para atingir o objetivo de transmitir as sensações desejadas. Vale dizer que, eu entendo esse filme da seguinte forma: as sensações da platéia são um espelho das sensações da personagem. Se eu sinto aflição, é pela Nina. Não há aflição pela aflição.


Enfim, cada palavra escrita aqui é um apontamento subjetivo, mas uma tentativa de objetivar as minhas idéias. Espero que o texto seja visto também como o início de uma discussão saudável, e não como um debate pessoal. Eu  quero deixar claro que respeito os críticos referenciados, e adimiro em especial a dupla que escreve para o Cinefilia, Bruno e Pedro Henrique. A intenção real minha era mais escrever sobre as qualidades que eu vejo no filme, aproveitando para rebater o que havia sido apontado negativamente. Ou seja, o ideal é que o texto seja visto mais como uma ode ao Darren Aronofsky, do que como uma represália aos seus críticos, rs. Afinal, não se pode concordar sempre, ainda bem!





1. Arthur Xexéo, A morte do 'Cisne'.
3. Bruno Cava, Cisne Negro (2).
4. Pedro Henrique Gomes, Cisne Negro (3).

27.2.11

The Happening (Fim dos Tempos)

2008
Ficção Científica
, Suspense
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro:
M. Night Shyamalan


Olá, meu nome é Thalita. "Olá, Thalita". Eu tenho um problema. Eu sou fã do diretor M. Night Shyamalan. Eu sempre o defendi quando a crítica especializada acabava com seus filmes. Até agora.

Estranhos acontecimentos assolam os centros urbanos, onde cada vez mais pessoas começam a tirar as próprias vidas sem motivo aparente. O professor Elliot Moore (Mark Wahlberg), sua esposa Alma (Zooey Deschanel) e a pequena Jess (Ashlyn Sanchez), filha de seu amigo Julian (John Leguizamo) precisam fugir e fazer o possível para sobreviver a essa calamidade.


É tão difícil fazer isso - mas deve ser feito. Lá vai: com Fim dos Tempos, seu penúltimo filme, M. Night Shyamalan decepciona até mesmo seus maiores fãs. Muito aquém de qualquer expectativa, o argumento não convence e as atuações só fazem piorar a situação da obra.

O grande problema de Fim dos Tempos é, definitivamente, a atuação precária de Mark Wahlberg, Zooey Deschanel e, até mesmo, Ashlyn Sanchez. Se Shyamalan havia conseguido retirar um grande ator de dentro de Bruce Willys, dessa vez ele não conseguiu tirar nem mesmo o suficiente para chamarmos de atuação regular. Wahlberg não demonstra firmeza em seu papel, Zooey não consegue provocar nenhum sentimento no espectador por sua tristeza e culpa, e Ashlyn é bonitinha, mas não consegue conquistar a gente a ponto de querermos pegá-la no colo e privá-la de qualquer sofrimento. E olha que Shyamalan sempre teve o dom de fazer qualquer um se apaixonar pelas criancinhas de seus filmes. Assim, com um trio desses, a empatia - que geralmente amarra a platéia à película - é praticamente inexistente.

Se o grande problema dentro do filme foram as atuaçãoes, fora dele foi a própria presença de Shyamalan. Em uma entrevista dada pouco antes do lançamento do filme, o diretor fez a afirmação que se segue: "A primeira coisa que quero dizer às pessoas é o seguinte: 'Este é de fato um filme B divertido."' Acontece que Fim dos Tempos não nos remete a um filme B, pois ele é muito bem acabado para isso. Se fosse um filme B realmente, seria até mesmo injusto exigir muito apuro da trama ou das atuações. Porém, com a qualidade visual que vemos em Fim dos Tempos, ele acaba se tornando apenas um filme com falhas. E nem é tão divertido.


Quanto ao argumento: as plantas emitem um veneno, trazido pelo vento, que faz com que as pessoas percam completamente seu sentido de auto-preservação e se suicidem. Bem, é estranho, pois tinha tudo pra dar certo, mas não convence. Ao final do filme, minha família inteira estava tirando um sarrinho a esse respeito e eu, que instintivamente tendo a defender os filmes do Shyamalan, dessa vez fiquei de mãos atadas. Eu não estava convencida também. Sem contar que, estranhamente, neste filme Shyamalan faz questão de ser didático ao extremo, deixando tudo tão explicadinho que quase chega a ofender a nossa inteligência.

Mas entenda, não é que o filme seja completamente ruim. Entretanto, é de longe o pior trabalho de Shyamalan. E não dá para simplesmente apreciar um filme deste diretor isoladamente, como se fosse a obra de um Zé Ninguém. A partir do momento em que você ouve o nome dele, todo um repertório controverso lhe vem à mente e mesmo os mais incrédulos dos mortais não consegueria ficar indiferente. Afinal, tudo pode acontecer, você pode estar prestes a assistir um filme que entrará para a história do cinema, como foi O Sexto Sentido, como pode estar diante de um fracasso retumbante (por mais que você acabe gostando do filme), como A Dama na Água. E, como eu já tinha gostado de todos os 5 filmes que havia assistido, é natural que a minha expectativa estivesse nas alturas.

No entanto, por mais decepcionado que esteja o espectador, é inegável que as situações geradas pelo roteiro são incrívelmente tensas e assustadoras. Mesmo você achando que é uma balela, mesmo você nem ligando muito para o tal Elliot, você se segura na poltrona sempre que a câmera dá o sinal da menor brisa que seja. Shyamalan sabe usar sua câmera e sabe criar esses momentos de suspense, de aflição. E, veja só, eu assisti Fim dos Tempos num sítio e, as mesmas pessoas que estavam fazendo pouco caso do filme, adimitiram que atravessar o caminho em meio às árvores até chegar nos quartos não seria tarefa fácil.

No frigir dos ovos, o saldo se empata. Fim dos Tempos é um filme até mesmo interessante, mas que decepciona pelo que carrega em seu background.

20.2.11

Black Swan (Cisne Negro)




2010
Drama, Suspense
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Andrés Heinz, 
Mark Heyman e John McLaughlin






Para conseguir interpretar A Rainha Cisne no balé O Lago dos Cisnes, a bailarina Nina (Natalie Portman) precisa provar que é capaz de dançar como o Cisne Negro tão bem quanto o faz sendo o Cisne Branco. É isso o que exige Thomas Leroy (Vincent Cassel), o diretor da peça. No entanto, com a chegada da nova bailarina Lily (Mila Kunis), Nina teme perder a preferência do diretor.

Bom? Ótimo? Excelente? 

Não. 

Perfeito. 

O primeiro contato que tive com Cisne Negro foi através dos trailers. Fiquei empolgadíssima com o elenco, com a estética, com tudo. A cada cartaz, a cada imagem aleatória, a cada comentário que me caía ao conhecimento, mais interessada eu ficava. E aí sempre bate aquele medão de se decepcionar depois, né. Mas não foi o caso.

Cisne Negro cumpre com absolutamente tudo o que promete: atuações perfeitas, roteiro bem desenvolvido, história forte, edição de cenas e sonora impecáveis, estética lindíssima, efeitos especiais muito bem dosados e que agregam valor ao filme. Não há do que reclamar.

Natalie Portman já entrega o inevitável logo nas primeiras cenas. Não há dúvidas de que ela seja aquela mocinha frágil e travada, não há dúvidas de que ela seja o próprio Cisne Branco. E, como bailarina, mesmo que os especialistas no assunto possam notar algum movimento impreciso de suas mãos ou pernas, ela consegue fazer-nos entender porque ela é um Cisne Negro tão medíocre e, ao mesmo tempo, porque ela tem potencial para ser excepcional. Vincent Cassel faz seu papel com tamanha precisão que nos convence sem o menor esforço de que pode ser galã e sedutor, por mais feio que seja. Barbara Hershey, no papel da mãe de Nina, nos brinda com uma personagem complexa e executa seu papel lindamente. Mesmo Mila Kunis faz muito bem o papel de Lily, com bastante consistência.

O roteiro é tão bem construído que a gente vai entrando naquele relacionamento defeituoso entre mãe e filha, se envolvendo com os defeitos de cada uma. A isto se soma o relacionamento entre Nina e Thomas, cheio de cobranças, intimidade e tensão. E, para coroar, temos a própria personalidade auto-destrutiva de Nina. Pronto, temos um filme para nos deixar tensos  e incomodados do início ao fim.

É claro que para salientar e evidenciar cada aspecto, há a belíssima edição de som, os efeitos especiais perfeitamente  pontuais e a execução da trilha-sonora maravilhosamente adaptada do original O Lago dos Cisnes. Tudo isso é obra de uma direção que sabe muito bem a que resultado quer chegar. Obra de um diretor que tem uma visão quase onírica e precisa da história, e que sabe como traduzi-la em imagens.

E eu preciso salientar quão competente é esse diretor. Arofonsky sabe o que precisa para atingir seu objetivo e sabe usar essas ferramentas de maneira bem feita. O uso dos espelhos como figura de linguagem é inteligente sem ser óbvio demais ou cansativo. A posição da câmera que em certos momentos quase engole o rosto de Natalie Portman, em outros a segue pelas costas,  e, em outros ainda, a segue de frente, como se a personagem caminhasse olhando para si mesma. Ele sabe escolher o enquadramento ideal para cada momento, sem perder a unidade, e de modo a nos levar a fundo na mente da protagonista cada vez mais perturbada.

Para finalizar, nada tenho a dizer, a não ser: Darren Aronofsky acaba de ganhar uma fã inveterada. 

13.2.11

Trilogia Bourne

2002 / 2004 / 2007
Ação, Aventura


The Bourne Identity (A Identidade Bourne)

Direção: Doug Liman
Roteiro: Tony Gilroy e W. Blake Herron

The Bourne Supremacy (A Supremacia Bourne)

Direção: Paul Greengrass

Roteiro: Tony Gilroy


The Bourne Ultimatum (O Ultimato Bourne)

Direção:
Paul Greengrass
Roteiro: Tony Gilroy, Scott Z. Burns e G
eorge Nolfi


Baseada nos livros de mesmo nome de Robert Ludlum, a Trilogia Bourne é uma ótima pedida quando se está à procura de um bom filme de ação. Com uma fórmula que o distancia de seus semelhantes (007 ou Missão Impossível), a franquia tem tudo para entrar no rol dos clássicos de ação.

Um homem (Matt Damon) é encontrado por um barco de pesca quase morto. O rapaz não se lembra de o que o levou a essa situação, ou melhor, ele não se lembra de absolutamente nada sobre seu passado. Nem mesmo quem ele é. Numa busca por respostas, com a ajuda de uma moça com quem pegou carona, Marie (Franka Potente), ele vai conseguindo colecionar pequenos fragmentos de sua vida. Ao que tudo indica, Jason Bourne é seu nome, mas ele ainda precisa descobrir porque o governo o quer morto.

Antes de mais nada, não vá assitir a esses filmes pensando que eles são livres de furos ou absurdos no roteiro. Como bons filmes de ação, nada disso pode faltar! Senão, como poderíamos ter as cenas repletas de adrenalina e emoção? Afinal, não é isso o que se busca ao assistir um filme desse gênero? As perseguições são de tirar o chapéu e as lutas chegam até a nos lembrar um pouco da irreverência de Jackie Chan (que tal usar como arma o primeiro item que se tem a mão? por exemplo, uma revista?).

A despeito das ótimas cenas de ação, que já valeriam o filme todo, a grande sacada da trilogia é o fato de que mesmo quem não é lá muito fã de filmes de agentes secretos provavelmente vai gostar deste - e, claro, quem é fã também. Isso porque Jason Bourne não é um agente comum, do tipo conquistador e que flerta com o perigo. Não, Jason Bourne é um rapaz que só quer viver a sua própria vida, sossegado, com a mulher que ama. Ainda assim, o cara é basicamente inderrotável, inteligente e... bem, foda. E Matt Damon dá vida ao papel com muita habilidade, sendo também possuidor de um carisma adimirável. Dessa forma, Jason Bourne consegue conquistar homens e mulheres de maneira incondicional, construindo um público bastante amplo.

Ainda dentro desse pensamento, existe a companheiríssima Marie de Franka Potente. A moça é bonita, sem ser uma deusa improvável; cria uma imediata empatia com o público feminino com sua irreverência e simpatia; e agrada o público masculino porque... bem, ela é mulher e se joga no Jason Bourne. Mais à frente na trilogia, conhecemos também a personagem Nicky Parsons, interpretada por Julia Stiles e esta também cativa o público, nesse caso por seu óbvio amor platônico. Já os 'vilãos' são tantos que não temos muito tempo para odiá-los. A cada filme essa parte do elenco é reciclada, mas todos têm uma presença suficientemente forte para sustentar os filmes em que aparecem - até porque o vilão per se é praticamente a figura abstrata do governo americano.

Nos detalhes técnicos eu nem me prendi, de tão envolvida pelos filmes que fiquei. Porém, existe um outro ponto a se levantar. Na carona de Jason Bourne podemos conhecer um apanhado de países que torna tudo ainda mais interessante. Perseguições que acontecem nas ruas de Paris, de Moscou, de Londres, e até mesmo nas ruas de Tânger (Marrocos) ou de alguma cidade da Índia. Mas a lista ainda é muito maior. E esse desfile internacional, com ambientações muito bem fotografadas, dá um charme ainda maior aos filmes (o Chico comenta sobre a coloração azulada do filme que dá um toque a mais de realidade - fato para o qual não atentei, sinceramente).

Ao final de O Ultimato Bourne, a vontade de que venha mais um é incontrolável, - apesar da ciência de que a história já se fechou e que um filme a mais talvez só venha a estragar o que já está praticamente perfeito. Porém, para quem ainda não sabe, O Legado Bourne
realmente está em vias de ser iniciado (a ser lançado por volta de 2012). A péssima notícia é que as presenças do diretor Paul Greengrass e de Matt Damon já foram descartadas.

6.2.11

Gwoemul (O Hospedeiro)




2006
Ficção Científica, Comédia

Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Joon-ho Bong, 
Won-jun Ha e Chul-hyun Baek




Talvez eu esteja estragando um pouco a graça de O Hospedeiro por dizer que se trata de uma comédia. Quando eu o assisti, não fazia idéia do que esperar, então dar de cara com aquele estranho humor coreano foi uma deliciosa surpresa
.

Uma mutação química dá vida a um monstro que colocará em alerta toda a população de Seoul, na Coréia do Sul. Park Gang-Du (Kang-ho Song) é um dos filhos de Park Hie-bong (Hie-bong Byeon) e vê sua filha Hyun-seo (A-hsung Ko) ser levada pelo terrível monstro. Assim, Gang-Du, seu pai e seus dois irmãos, Nam-il (Hae-il Park) e Nam-joo (Doona Bae), vão tentar a todo custo salvar a menina.


É difícil não se impressionar com O Hospedeiro. Em uma preconcepção pode ser tido como um típico filme de monstros (como Godzilla ou King Kong) e à primeira vista pode ser tido como um filme irreverente. Porém, o roteiro é muito mais rico e conforme se pensa sobre ele, o mesmo se revela bastante crítico. Ainda assim, ele não deixa de ser realmente um filme de monstro bastante irreverente. Dessa forma, O Hospedeiro consegue agradar a gregos e troianos: você vai gostar quer você esteja buscando um filme com conteúdo, quer você tenha interesse apenas em se divertir.

Como filme de monstro, O Hospedeiro é genial logo no início. Ao invés de passar o filme todo criando uma espectativa a respeito do monstro que nunca seria alcançada, Joon-ho Bong decide apresentar seu 'godzilla' já na primeira cena em que ele dá sinal de vida. Pronto, o
peixe-mutante é assustador o suficiente para te manter apreensivo durante o restante da película, e você não irá se decepcionar com sua aparência caso ele somente fosse mostrado nos minutos finais.

Junto a isso, o drama da família Park é muito bem amarrado a um enredo assustador. Os atores são sensacionais, principalmente Kang-ho Song, e o toque de 'humor fora de hora' consegue balancear o filme suficientemente bem para que a emoção e a tristeza não ditem o clima do roteiro. Dessa forma, temos um filme equilibradíssimo, que provoca cada tipo de sentimento na medida exata. Sem falar que o 'humor fora de hora' é tão fora de hora que a gente ri pelo choque antes mesmo de rir pela 'piada'. E enquanto no início isso nos gera algum desconforto, não demora muito para que soltemos nossas próprias amarras e mergulhemos de cabeça nesse viés desconjuntado de se fazer rir.


Paralelamente, temos em
O Hospedeiro um filme bastante crítico. De maneira bastante descarada, os Estados Unidos, como grandes intrometidos que são, se tornam o principal alvo. Mas o próprio governo coreano não escapou das garras de Joon-ho Bong, que deixa claro seu descontentamento com relação ao modo alienador com o qual os seus conterrâneos são tratados. Fica clara a insatisfação de Joon-ho Bong principalmente através do personagem Nam-il, com suas falas ressentidas e seu fracasso patente.

Um filme profundo, emocionante, sensível, assustador, engraçado e divertido. Não se prenda a estereótipos. Assista O Hospedeiro sem medo e terá uma experiência rica em diversos sentidos.

30.1.11

Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street (Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet)






2007

Musical, Suspense

Direção: Tim Burton
Roteiro:
John Logan








Sweeney Todd
foi baseado na peça da Broadway de mesmo nome, escrita por Stephen Sondhein e com libreto de Hugh Wheeler.
O tema sobrio somado ao fato de ser musical já seriam o suficiente para fazer nascer algum interesse em mim, mas a presença de Tim Burton na cadeira da direção e de Johnny Depp como protagonista foi o meu grande motivador.

Após passar longos anos preso e ter sua filha e esposa tiradas de si, o barbeiro Benjamin Barker, agora conhecido como Sweeney Todd (Johnny Depp), quer sua vingança. Enquanto prepara o terreno para o encontro derradeiro com seu inimigo, o Juiz Turpin (Alan Rickman), o barbeiro faz uma mórbida sociedade com a estranha Sra. Lovett (Helena Bonhan Carter).


Acho que todos os que acompanham esse blog já estão mais do que cientes que eu sempre tento ser imparcial nos meus textos, não é? Também creio que nunca consegui enganar ninguém por muito tempo e, por isso, a parcialidade vira e mexe toma conta das resenhas. Basta ser de um diretor que eu goste, e eu já fico cega e surda (e louca?) para qualquer defeitinho. Assim, não sei se é essa minha predisposição por gostar de Tim Burton, ou se realmente o filme é perfeito mesmo, mas amei Sweeney Todd!

Bem, eu prefiro continuar me iludindo e acreditar que Sweeney Todd é de fato um filme excelente que pode conquistar mesmo aqueles avessos ao gênero musical. Isso porque, apesar de ser praticamente 100% cantado, o enredo é tão sedutor e repleto de humor-negro que pode-se facilmente desistir de se incomodar com a cantoria. Ainda assim, tenho ciência que acreditar que todos vão cair nas graças do barbeiro assassino é algo bastante utópico. Talvez seja melhor recomendar que a pessoa esteja no espírito ou, ao menos, preparada para o que vai assitir - dessa forma, a inserção na história poderá se dar sem tanta luta.

Entretanto eu me nego a acreditar que tenha existido alguma alma que assistiu a esse filme sem ter gostado de uma cena sequer. Não é possível que alguém tenha passado indiferente pelo momento magistral em que Sweeney Todd e a Sra. Lovett orquestram o grande plano que aplacará tanto a sede de sangue do barbeiro, quanto a necessidade de materia-prima para os pastéis da cozinheira. A música e a coreografia são impecáveis e tem a dosagem exata de humor-negro suficiente para imprimir um sorrisinho no rosto do espectador, apesar de qualquer nojo ou choque que este possa estar sentindo.

Pois o que ninguém pode negar, e dessa vez digo ninguém mesmo, é que a fotografia e a direção de arte de Sweeney Todd é simplesmente perfeita.
Não chega a ser um visual clássico dos filmes de Tim Burton, mas vê-se logo que sua melancolia companheira está presente aqui também. Desde a coloração sombria, quase em preto e branco, combinada com o vermelho evidenciado do sangue, passando pela maquiagem e figurino soturnos, assim como o são os cenários, e culminando no belíssimo colorido presente no momento em que a Sra. Lovett evidencia sua verdadeira intenção com relação a Sweeney Todd - foi tudo criado com muito esmero.

Já o elenco do filme é 'balanceado'. Johnny Depp novamente está brilhante. Aí está um ator que consegue encarar qualquer desafio: ele pode fazer tanto atuações absurdamente afetadas
quando o filme pede que o faça, por exemplo Jack Sparrow (Piratas do Caribe) ou Willy Wonka (A Fantástica Fábrica de Chocolate), como pode apresentar personagens delicados e contidos, como Sir James Matthew Barrie (Em Busca da Terra do Nunca) e Edward (Edward, Mãos de Tesoura). Alan Rickman, sempre preciso em qualquer filme, também esbanja seu talento. Em contrapartida, o casal jovemzinho interpretado por Jamie Campbell Bower e Jayne Wisener não convence em seu amor. Seja porque é tudo muito vazio e súbito, seja porque Jamie mais parece uma mocinha, ou mesmo porque Jayne mantém a mesma expressão o filme todo.

Fica difícil encerrar o texto sem louvar esse belo filme. Eu tento e tento, mas não consigo me convencer de que Sweeney Todd não seja um filme maravilhoso de um Tim Burton mais contido, mas não menos talentoso.


23.1.11

À L'Intérieur (A Invasora)



2007
Terror

Direção: Alexandre Bustillo 

e Julien Maury
Roteiro:
Alexandre Bustillo




Retirem as gestantes da sala.

Quatro meses após perder seu marido, Sarah (Alysson Paradis) está prestes a dar à luz. É sua última noite em casa, sozinha - ou, pelo menos, era para ser. Porém, uma mulher (Béatrice Dalle) começa a rondar a casa e Sarah se vê obrigada a chamar a polícia.

Eu nunca fiquei tão chocada com um filme de terror em toda a minha vida. Eu nunca vi tanto sangue em toda minha vida. Eu nunca pensei que alguém teria a ousadia de colocar uma mulher grávida em um filme que pretende ser gore. Nunca antes um filme havia me dado ímpetos de desligá-lo já em seus primeiros minutos por puro desespero pelo que poderia acontecer a seguir. Eu nunca fiquei tão agradecida por um filme ter apenas 83 minutos.

Sim, é muito 'nunca' para um filme só.

O roteiro é um dos mais ousados que já vi e, não satisfeitos com o peso que a trama já traz em seu âmago, os diretores decidiram que era necessário chocar visualmente também. A tensão e o absoluto pânico, que nascem com o fato de termos uma mocinha grávida como principal alvo de uma mulher completamente ensandecida, devem brigar pela atenção do espectador com o desespero provocado pelo desfile de coadjuvantes mortos das mais diversas formas.

O maior problema que A Invasora encontrará em seu caminho é o fato de ser um filme que tem a pretensão de ser um gore sério. E acredito que ele quase consegue. O problema é que dificilmente um gore será bem digerido pelo público geral, ainda mais se ele pretende ser levado à sério. O que eu quero dizer é que se alguém não gosta de ver filmes com essa sangria desatada nem mesmo para se divertir, dificilmente a pessoa vai querer ver isso para se sentir mal. Assim, apesar da intenção louvável, A Invasora só poderá ser bem apreciado pelo público já acostumado a filmes B desse sub-gênero, sem conseguir alcançar uma 'casta mais elevada'.

Outro fator que dificulta que ele seja levado à sério é a presença de cenas não só nojentas e sanguinolentas, mas aparentemente desnecessariamente chocantes. São cenas que chegam mesmo a causar um certo estranhamento em quem assiste ao filme, pois destoam do restante da obra. Além disso, algumas falhas de roteiro podem incomodar o cinéfilo mais exigente.

Entretanto, se A Invasora for encarado de maneira mais depretensiosa e apenas como um bom filme de terror, dificilmente a pessoa sairá decepcionada. O elenco não faz feio - na verdade, a dupla principal faz um ótimo trabalho -, e o objetivo de proporcionar uma experiência aterradora é cumprido desde os primeiros minutos do filme.

Assim, no resultado final, A Invasora se coloca como um filme praticamente obrigatório para os amantes do terror. O que por si só já é uma marca bastante importante.

16.1.11

Slumdog Millionaire (Quem Quer ser um Milionário?)




2008
Drama, Romance

Direção: Dany Boyle 

e Loveleen Tandan
Roteiro: Simon Beaufoy




Aqui está o ganhador do Oscar de 2009, o filme baseado no livro Sua Resposta Vale um Bilhão, de Vikas Swarup. Tem quem diga que não foi um prêmio merecido, apesar das muitas outras vozes que o aclamam. Já eu, não sou radical nem de um lado, nem do outro.

Jamal Malik (Dev Patel) veio da favela indiana para tentar a sorte em um programa televisivo de perguntas e respostas. Preso sob a suspeita de fraude, o rapaz se vê obrigado a explicar cada resposta correta, o que acaba desnudando seu passado doloroso até o momento atual.

Já vi gente comparando Quem Quer ser um Milionário com Cidade de Deus. Inicialmente, essa comparação pode ser até inevitável, visto a introdução extremamente semelhante de ambos os filmes, somada à história do garoto da favela e contando com uma edição que, em alguns momentos, também se assemelham. Porém, é importante ser destacado que ao longo da história, as semelhanças vão rareando cada vez mais, a ponto de se tornarem filmes bastante diferentes. Enquanto Cidade de Deus se mantém com a mesma abrodagem do início ao fim, Quem Quer ser um Milionário muda muito seu tom, mesmo que gradativamente. Sem contar que eu acho o brasileiro superior a este, mas isso não vem ao caso.

O filme conta com algumas características que podem irritar os mais perfeccionistas, como o fato de as perguntas feitas ao longo do programa remeterem de uma maneira cronologicamente linear aos acontecimentos da vida de Jamal, ou a própria suavização do roteiro que vai rumando gradualmente para um romance, ou mesmo as ocorrências de um grande otimismo quase fantasioso que acontecem com o protagonista.

Ainda assim, existem diversas qualidades que podem suplantar essas questões (as quais julgo menores). A verdade é que, analisando friamente, Quem Quer ser um Milionário é impecável na maneira como consegue sensibilizar, contar uma bela história de amor, e documentar uma realidade (não só da Índia, como de qualquer local onde haja miséria). A bela trilha-sonora muito bem aplicada; a edição, que insere o programa de tv de maneira muito interessante ao longo do filme; a construção dos personagens que, contando com ótimas atuações, foi capaz de criar bastante empatia com o público sem cair no piegas. Sendo esta, a empatia, o principal resultado da boa direção de Boyle e Tandan.

A cena final, com a música Jai Ho foi outra polêmica. Eu gostei, achei que foi a cereja do bolo. Uma simpática homenagem a esse lado mais colorido e musical que a Índia possui.

Entretanto, como até agora não assisti nenhum outro filme que concorreu ao Oscar em 2009, não posso afirmar se a premiação foi merecida ou não. De qualquer forma, mesmo não sendo perfeito, é de fato um filme excelente.

9.1.11

Death Proof (À Prova de Morte)

2007
Ação, Terror
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro:
Quentin Tarantino


Tive a oportunidade de assistir a versão que saiu em DVD. E esse filme vale um novo texto! Porém, dessa vez não pouparei spoilers; portanto, quem não o tiver assistido e não quiser estragar a surpresa do filme, sugiro que interrompa essa leitura e veja sobre À Prova de Morte somente na resenha que fiz do projeto original, Grindhouse.

Stuntman Mike (Kurt Russel) é um ex-dublê de antigos filmes de ação . Depois de ver sua carreira finda, ele encontra um bom passatempo: perseguir garotas em seu carro 'à prova de morte'.

Os defeitos visuais, a trilha-sonora, a homenagem aos filmes B como um todo é de se tirar o chapéu, mas disso tudo já falei bastante quando escrevi sobre Grindhouse. Agora minha abordagem é outra.

Quentin Tarantino é um cara excepcional. Como fazer um filme de ação e terror, onde mais da metade dele é puro diálogo, sem ser enfadonho? Ele consegue. Nessa segunda vista, prestei mais atenção às falas e percebi como elas vão se emendando e se tornando interessantes po si só. E o engraçado é que a versão para DVD tem muito mais diálogos do que a versão original. Ainda assim, não me cansei de acompanhar aquela conversa fiada, à primeira vista gratuita.

Mas não há nada de gratuito em À Prova de Morte. Absolutamente nada. Cada frase pronunciada tem o seu propósito. Na primeira parte, o diálogo nos conduz ao seu momento chave, a dança - que sequer aparece na versão original, mas que tem grande importância na construção das personagens. E nos apresenta a quatro moças diametralmente opostas às que irão surgir na segunda parte. Moças que irão morrer, violentamente, mas que ficarão vivas no imaginário do espectador assombrando boa parte da segunda metade do filme.

E é nessa segunda parte, a qual se inicia com diálogos semelhantes aos das primeiras jovens, que temos a impressão errada de que dali em diante tudo será como foi anteriormente. Porém, aos poucos a conversa vai tomando uma direção diferente, dessa vez já antecipando o final que nunca poderíamos esperar. As falas apresentam a diferença crucial entre os dois grupos de garotas e também nos destrincha as qualidades de Zoe - que serão de extrema importância para explicar o desenrolar da trama. É tudo construído com maestria, palavra por palavra. E quando as meninas viram o jogo e perseguem Mike em busca de vingança, o filme se torna êxtase puro. Tarantino cria uma imagem e a desconstrói de maneira perfeita.

Aliás, os dois desfechos que Tarantino cria para ambas as partes são apoteóticos. O primeiro, em que Mike bate com seu carro de frente com o carro das jovens é excepcional. Repetido várias vezes para melhor apreciação. E, com isso, cria-se uma apreensão que dura um bom tempo. Essa cena, somada ao início dos diálogos entre as novas vítimas de Mike - que, como eu disse, remete aos diálogos iniciais do filme -, são o suficiente para que o espectador fique esperando que uma morte pelo menos tão chocante as espere no desfecho final. E é um deleite ver que o jogo vira completamente, que Mike de caçador vira caça. Que ele sofre, apanha, chora. É delicioso. E o momento final, em que as garotas o fazem de joão-bobo é o chantili do bolo. Porque a cereja é a pisada que ele leva após o início dos créditos.

É também nessa mudança de rumos que À Prova de Morte se distancia dos filmes que quer homenagear e coloca-se como um filme contemporâneo. Quando um filme da década de 70 apresentou um grupo de mulheres a exemplo de Zoe, Abby e Kim? De sexo frágil, a jovens passaram a resolver seus próprios problemas sozinhas. Nada de chamar a polícia, gritar por socorro, abraçar um homem viril que as defenderão de todo o mal. Assim, Tarantino homenageia sem cair na repetição e trazendo sua marca pessoal e atual.

E Kurt Russel, em sua melhor forma, é tudo o que Tarantido precisava. Ele é simpático, assustador, nojento, sádico, babaca e patético. Tudo na mesma proporção. Cada faceta do personagem sobrepondo a outra, cena atrás de cena, sem deixar de ser o mesmo todo o tempo. Inclusive, finalmente alguém leva um tiro e chora de dor em um filme!

Enfim, não posso imaginar À Prova de Morte como um filme menor de Tarantino. É, talvez, mais despretensioso, com ares de trash e filme B, mas não menos genial do que seus melhores filmes.