30.1.11

Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street (Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet)






2007

Musical, Suspense

Direção: Tim Burton
Roteiro:
John Logan








Sweeney Todd
foi baseado na peça da Broadway de mesmo nome, escrita por Stephen Sondhein e com libreto de Hugh Wheeler.
O tema sobrio somado ao fato de ser musical já seriam o suficiente para fazer nascer algum interesse em mim, mas a presença de Tim Burton na cadeira da direção e de Johnny Depp como protagonista foi o meu grande motivador.

Após passar longos anos preso e ter sua filha e esposa tiradas de si, o barbeiro Benjamin Barker, agora conhecido como Sweeney Todd (Johnny Depp), quer sua vingança. Enquanto prepara o terreno para o encontro derradeiro com seu inimigo, o Juiz Turpin (Alan Rickman), o barbeiro faz uma mórbida sociedade com a estranha Sra. Lovett (Helena Bonhan Carter).


Acho que todos os que acompanham esse blog já estão mais do que cientes que eu sempre tento ser imparcial nos meus textos, não é? Também creio que nunca consegui enganar ninguém por muito tempo e, por isso, a parcialidade vira e mexe toma conta das resenhas. Basta ser de um diretor que eu goste, e eu já fico cega e surda (e louca?) para qualquer defeitinho. Assim, não sei se é essa minha predisposição por gostar de Tim Burton, ou se realmente o filme é perfeito mesmo, mas amei Sweeney Todd!

Bem, eu prefiro continuar me iludindo e acreditar que Sweeney Todd é de fato um filme excelente que pode conquistar mesmo aqueles avessos ao gênero musical. Isso porque, apesar de ser praticamente 100% cantado, o enredo é tão sedutor e repleto de humor-negro que pode-se facilmente desistir de se incomodar com a cantoria. Ainda assim, tenho ciência que acreditar que todos vão cair nas graças do barbeiro assassino é algo bastante utópico. Talvez seja melhor recomendar que a pessoa esteja no espírito ou, ao menos, preparada para o que vai assitir - dessa forma, a inserção na história poderá se dar sem tanta luta.

Entretanto eu me nego a acreditar que tenha existido alguma alma que assistiu a esse filme sem ter gostado de uma cena sequer. Não é possível que alguém tenha passado indiferente pelo momento magistral em que Sweeney Todd e a Sra. Lovett orquestram o grande plano que aplacará tanto a sede de sangue do barbeiro, quanto a necessidade de materia-prima para os pastéis da cozinheira. A música e a coreografia são impecáveis e tem a dosagem exata de humor-negro suficiente para imprimir um sorrisinho no rosto do espectador, apesar de qualquer nojo ou choque que este possa estar sentindo.

Pois o que ninguém pode negar, e dessa vez digo ninguém mesmo, é que a fotografia e a direção de arte de Sweeney Todd é simplesmente perfeita.
Não chega a ser um visual clássico dos filmes de Tim Burton, mas vê-se logo que sua melancolia companheira está presente aqui também. Desde a coloração sombria, quase em preto e branco, combinada com o vermelho evidenciado do sangue, passando pela maquiagem e figurino soturnos, assim como o são os cenários, e culminando no belíssimo colorido presente no momento em que a Sra. Lovett evidencia sua verdadeira intenção com relação a Sweeney Todd - foi tudo criado com muito esmero.

Já o elenco do filme é 'balanceado'. Johnny Depp novamente está brilhante. Aí está um ator que consegue encarar qualquer desafio: ele pode fazer tanto atuações absurdamente afetadas
quando o filme pede que o faça, por exemplo Jack Sparrow (Piratas do Caribe) ou Willy Wonka (A Fantástica Fábrica de Chocolate), como pode apresentar personagens delicados e contidos, como Sir James Matthew Barrie (Em Busca da Terra do Nunca) e Edward (Edward, Mãos de Tesoura). Alan Rickman, sempre preciso em qualquer filme, também esbanja seu talento. Em contrapartida, o casal jovemzinho interpretado por Jamie Campbell Bower e Jayne Wisener não convence em seu amor. Seja porque é tudo muito vazio e súbito, seja porque Jamie mais parece uma mocinha, ou mesmo porque Jayne mantém a mesma expressão o filme todo.

Fica difícil encerrar o texto sem louvar esse belo filme. Eu tento e tento, mas não consigo me convencer de que Sweeney Todd não seja um filme maravilhoso de um Tim Burton mais contido, mas não menos talentoso.


23.1.11

À L'Intérieur (A Invasora)



2007
Terror

Direção: Alexandre Bustillo 

e Julien Maury
Roteiro:
Alexandre Bustillo




Retirem as gestantes da sala.

Quatro meses após perder seu marido, Sarah (Alysson Paradis) está prestes a dar à luz. É sua última noite em casa, sozinha - ou, pelo menos, era para ser. Porém, uma mulher (Béatrice Dalle) começa a rondar a casa e Sarah se vê obrigada a chamar a polícia.

Eu nunca fiquei tão chocada com um filme de terror em toda a minha vida. Eu nunca vi tanto sangue em toda minha vida. Eu nunca pensei que alguém teria a ousadia de colocar uma mulher grávida em um filme que pretende ser gore. Nunca antes um filme havia me dado ímpetos de desligá-lo já em seus primeiros minutos por puro desespero pelo que poderia acontecer a seguir. Eu nunca fiquei tão agradecida por um filme ter apenas 83 minutos.

Sim, é muito 'nunca' para um filme só.

O roteiro é um dos mais ousados que já vi e, não satisfeitos com o peso que a trama já traz em seu âmago, os diretores decidiram que era necessário chocar visualmente também. A tensão e o absoluto pânico, que nascem com o fato de termos uma mocinha grávida como principal alvo de uma mulher completamente ensandecida, devem brigar pela atenção do espectador com o desespero provocado pelo desfile de coadjuvantes mortos das mais diversas formas.

O maior problema que A Invasora encontrará em seu caminho é o fato de ser um filme que tem a pretensão de ser um gore sério. E acredito que ele quase consegue. O problema é que dificilmente um gore será bem digerido pelo público geral, ainda mais se ele pretende ser levado à sério. O que eu quero dizer é que se alguém não gosta de ver filmes com essa sangria desatada nem mesmo para se divertir, dificilmente a pessoa vai querer ver isso para se sentir mal. Assim, apesar da intenção louvável, A Invasora só poderá ser bem apreciado pelo público já acostumado a filmes B desse sub-gênero, sem conseguir alcançar uma 'casta mais elevada'.

Outro fator que dificulta que ele seja levado à sério é a presença de cenas não só nojentas e sanguinolentas, mas aparentemente desnecessariamente chocantes. São cenas que chegam mesmo a causar um certo estranhamento em quem assiste ao filme, pois destoam do restante da obra. Além disso, algumas falhas de roteiro podem incomodar o cinéfilo mais exigente.

Entretanto, se A Invasora for encarado de maneira mais depretensiosa e apenas como um bom filme de terror, dificilmente a pessoa sairá decepcionada. O elenco não faz feio - na verdade, a dupla principal faz um ótimo trabalho -, e o objetivo de proporcionar uma experiência aterradora é cumprido desde os primeiros minutos do filme.

Assim, no resultado final, A Invasora se coloca como um filme praticamente obrigatório para os amantes do terror. O que por si só já é uma marca bastante importante.

16.1.11

Slumdog Millionaire (Quem Quer ser um Milionário?)




2008
Drama, Romance

Direção: Dany Boyle 

e Loveleen Tandan
Roteiro: Simon Beaufoy




Aqui está o ganhador do Oscar de 2009, o filme baseado no livro Sua Resposta Vale um Bilhão, de Vikas Swarup. Tem quem diga que não foi um prêmio merecido, apesar das muitas outras vozes que o aclamam. Já eu, não sou radical nem de um lado, nem do outro.

Jamal Malik (Dev Patel) veio da favela indiana para tentar a sorte em um programa televisivo de perguntas e respostas. Preso sob a suspeita de fraude, o rapaz se vê obrigado a explicar cada resposta correta, o que acaba desnudando seu passado doloroso até o momento atual.

Já vi gente comparando Quem Quer ser um Milionário com Cidade de Deus. Inicialmente, essa comparação pode ser até inevitável, visto a introdução extremamente semelhante de ambos os filmes, somada à história do garoto da favela e contando com uma edição que, em alguns momentos, também se assemelham. Porém, é importante ser destacado que ao longo da história, as semelhanças vão rareando cada vez mais, a ponto de se tornarem filmes bastante diferentes. Enquanto Cidade de Deus se mantém com a mesma abrodagem do início ao fim, Quem Quer ser um Milionário muda muito seu tom, mesmo que gradativamente. Sem contar que eu acho o brasileiro superior a este, mas isso não vem ao caso.

O filme conta com algumas características que podem irritar os mais perfeccionistas, como o fato de as perguntas feitas ao longo do programa remeterem de uma maneira cronologicamente linear aos acontecimentos da vida de Jamal, ou a própria suavização do roteiro que vai rumando gradualmente para um romance, ou mesmo as ocorrências de um grande otimismo quase fantasioso que acontecem com o protagonista.

Ainda assim, existem diversas qualidades que podem suplantar essas questões (as quais julgo menores). A verdade é que, analisando friamente, Quem Quer ser um Milionário é impecável na maneira como consegue sensibilizar, contar uma bela história de amor, e documentar uma realidade (não só da Índia, como de qualquer local onde haja miséria). A bela trilha-sonora muito bem aplicada; a edição, que insere o programa de tv de maneira muito interessante ao longo do filme; a construção dos personagens que, contando com ótimas atuações, foi capaz de criar bastante empatia com o público sem cair no piegas. Sendo esta, a empatia, o principal resultado da boa direção de Boyle e Tandan.

A cena final, com a música Jai Ho foi outra polêmica. Eu gostei, achei que foi a cereja do bolo. Uma simpática homenagem a esse lado mais colorido e musical que a Índia possui.

Entretanto, como até agora não assisti nenhum outro filme que concorreu ao Oscar em 2009, não posso afirmar se a premiação foi merecida ou não. De qualquer forma, mesmo não sendo perfeito, é de fato um filme excelente.

9.1.11

Death Proof (À Prova de Morte)

2007
Ação, Terror
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro:
Quentin Tarantino


Tive a oportunidade de assistir a versão que saiu em DVD. E esse filme vale um novo texto! Porém, dessa vez não pouparei spoilers; portanto, quem não o tiver assistido e não quiser estragar a surpresa do filme, sugiro que interrompa essa leitura e veja sobre À Prova de Morte somente na resenha que fiz do projeto original, Grindhouse.

Stuntman Mike (Kurt Russel) é um ex-dublê de antigos filmes de ação . Depois de ver sua carreira finda, ele encontra um bom passatempo: perseguir garotas em seu carro 'à prova de morte'.

Os defeitos visuais, a trilha-sonora, a homenagem aos filmes B como um todo é de se tirar o chapéu, mas disso tudo já falei bastante quando escrevi sobre Grindhouse. Agora minha abordagem é outra.

Quentin Tarantino é um cara excepcional. Como fazer um filme de ação e terror, onde mais da metade dele é puro diálogo, sem ser enfadonho? Ele consegue. Nessa segunda vista, prestei mais atenção às falas e percebi como elas vão se emendando e se tornando interessantes po si só. E o engraçado é que a versão para DVD tem muito mais diálogos do que a versão original. Ainda assim, não me cansei de acompanhar aquela conversa fiada, à primeira vista gratuita.

Mas não há nada de gratuito em À Prova de Morte. Absolutamente nada. Cada frase pronunciada tem o seu propósito. Na primeira parte, o diálogo nos conduz ao seu momento chave, a dança - que sequer aparece na versão original, mas que tem grande importância na construção das personagens. E nos apresenta a quatro moças diametralmente opostas às que irão surgir na segunda parte. Moças que irão morrer, violentamente, mas que ficarão vivas no imaginário do espectador assombrando boa parte da segunda metade do filme.

E é nessa segunda parte, a qual se inicia com diálogos semelhantes aos das primeiras jovens, que temos a impressão errada de que dali em diante tudo será como foi anteriormente. Porém, aos poucos a conversa vai tomando uma direção diferente, dessa vez já antecipando o final que nunca poderíamos esperar. As falas apresentam a diferença crucial entre os dois grupos de garotas e também nos destrincha as qualidades de Zoe - que serão de extrema importância para explicar o desenrolar da trama. É tudo construído com maestria, palavra por palavra. E quando as meninas viram o jogo e perseguem Mike em busca de vingança, o filme se torna êxtase puro. Tarantino cria uma imagem e a desconstrói de maneira perfeita.

Aliás, os dois desfechos que Tarantino cria para ambas as partes são apoteóticos. O primeiro, em que Mike bate com seu carro de frente com o carro das jovens é excepcional. Repetido várias vezes para melhor apreciação. E, com isso, cria-se uma apreensão que dura um bom tempo. Essa cena, somada ao início dos diálogos entre as novas vítimas de Mike - que, como eu disse, remete aos diálogos iniciais do filme -, são o suficiente para que o espectador fique esperando que uma morte pelo menos tão chocante as espere no desfecho final. E é um deleite ver que o jogo vira completamente, que Mike de caçador vira caça. Que ele sofre, apanha, chora. É delicioso. E o momento final, em que as garotas o fazem de joão-bobo é o chantili do bolo. Porque a cereja é a pisada que ele leva após o início dos créditos.

É também nessa mudança de rumos que À Prova de Morte se distancia dos filmes que quer homenagear e coloca-se como um filme contemporâneo. Quando um filme da década de 70 apresentou um grupo de mulheres a exemplo de Zoe, Abby e Kim? De sexo frágil, a jovens passaram a resolver seus próprios problemas sozinhas. Nada de chamar a polícia, gritar por socorro, abraçar um homem viril que as defenderão de todo o mal. Assim, Tarantino homenageia sem cair na repetição e trazendo sua marca pessoal e atual.

E Kurt Russel, em sua melhor forma, é tudo o que Tarantido precisava. Ele é simpático, assustador, nojento, sádico, babaca e patético. Tudo na mesma proporção. Cada faceta do personagem sobrepondo a outra, cena atrás de cena, sem deixar de ser o mesmo todo o tempo. Inclusive, finalmente alguém leva um tiro e chora de dor em um filme!

Enfim, não posso imaginar À Prova de Morte como um filme menor de Tarantino. É, talvez, mais despretensioso, com ares de trash e filme B, mas não menos genial do que seus melhores filmes.