18.5.08

Blue Velvet (Veludo Azul)



1986
Suspense
Direção: David Lynch
Roteiro:
David Lynch






Vamos ser sinceros. Eu não tenho nenhuma pretensão de dissertar profundamente a respeito de Veludo Azul e David Lynch. Mas vou dar uma pincelada nas minhas impressões gerais, lembrando até do que já li de um e de outro.

Em uma pacata cidadezinha americana, o pai de Jeffrey Beaumont sofre um enfarte, o que traz o rapaz de volta à cidade. Porém, voltando do hospital, Jeffrey (Kyle MacLachlan) encontra uma orelha humana em uma área não habitada da cidade e vai comunicar o Detetive Williams (George Dickerson). Impulsionado pelo seu gosto por mistérios, Jeffrey descobre com a filha do detetive, Sandy (Laura Dern), algumas informações que poderiam ajudá-lo a desvendar o estranho caso. Seguindo uma pista, o jovem se envolve com a misteriosa cantora Dorothy Vallens (Isabella Rossellini) e com o violento e prigoso Frank Booth (Dennis Hopper).

Quando Veludo Azul chegou ao fim, eu não fazia idéia se tinha gostado ou não do filme. Na verdade, enquanto o filme ainda passava na tela, até certo momento, cheguei a pensar em desistir de continuar a assistí-lo, tão esquisito tudo aquilo me parecia. Mas no dia seguinte minha mãe veio me perguntar como o filme tinha acabado (pois ela de fato desistiu de assitir), e eu comecei a contar tudo, tintim por tintim. E não é que a cada coisa que eu ia contando, mais eu ia percebendo que eu tinha mesmo gostado do filme?

Bom, vamos por partes. Eu não sou expert em cinema, esse blog é um grande hobby meu, e mesmo eu tendo pesquisado um pouco, com certeza deixarei coisas faltando ao analisar o filme.
David Lynch já havia feito outros filmes, como Eraserhead (1977) e O Homem-Helefante (1980), e já era um diretor conceituado quando fez Veludo Azul. Não conheço muito o cinema dos anos 80, mas ao que eu saiba, pouco se fazia de diferente do "normal" naquela época. Claro, existia Kubrick já desde muito antes, mas o cinema tradicional de Hollywood era ainda a maioria quase absoluta, com algumas exceções de filmes europeus (normalmente aquele tipão paraaaado) que se destacavam aqui e ali.

Veludo Azul é o meu segundo filme de David Lynch. Já havia assitido Cidade dos Sonhos (2001) há um bom tempo atrás e já não tinha entendido nada. Inclusive eu ainda estava iniciando a minha incursao no mundo do cinema, de modo que precisarei revê-lo. Porém, ao assistir Veludo Azul, achei que este não é tão complexo em termos de roteiro, mas tão ou mais estranho quanto o outro.
Agora, fico pensando que se eu, que até já estou acostumada com a variedade atual de filmes diferentes, tive uma certa dificuldade em captar as nuances de Veludo Azul, imagino a ruptura que deve ter sido na cabeça daqueles que o assistiram em 1986.

O início do filme, acredito eu, é a parte mais chocante. Talvez pelo fato de que você acabará se acostumando com a estranheza e se deixará envolver durante o restante da película. Ainda assim, é um baque. Tanto a sequência de abertura, com as flores coloridas, as crianças brincando, o fundo musical da década de 60, todos sorrindo e tranquilos - a cidade perfeita? -, que finaliza com o enfarte de um senhor que está regando as plantas do jardim e se fecha em um close de insetos grotescos na grama verde; quanto um pouco mais à frente, quando Jeffrey conhece Dorothy e Frank em seus acessos de sadomasoquismo e loucura.

Aliás, destaque para as atuações de Isabella Rossellini e Dennis Hopper. Perfeitos. Já Kyle MacLachlan, tive dificuldades em analisar seu desempenho, pois não conseguia me distrair do enorme queixo que o rapaz possui.
Sério, enorme. Eu sei que é ridículo, mas desculpe-me, sou humana. De qualquer modo, não creio que isso teria acontecido comigo caso ele fosse um excelente ator.

Voltando à sequencia inicial do filme, eu acredito que de certa forma ela mostra que aquela cidade pacata, que parece tão perfeita e inofensiva, esconde horrores que não se vê na "superfície". Por isso o close nos insetos grotescos. Também pode ser vista como uma crítica, já que a suposta perfeição da cidade é mostrada de forma tão caricata e exagerada que tudo parece ser ridículo e artificial.

O roteiro não traz tudo de mão beijada. A gente tem que ir deduzindo a história conforme ela se desenrola, e em alguns momentos a sugestão é só o que nos é fornecido. David Lynch não está interessado em explicar, apenas em mostrar o que ele julga ser mais importante (também plasticamente?). Assim, se como roteiro Veludo Azul é ousado, como direção e fotografia é ainda mais. Figurinos e cenários fazem um mix desconcertante de cenas bizarras. O apartamento de Ben (Dean Stockwell), integrante do submundo de Frank, com as mulheres gordas à mesa, com o grande palhaço sentado no sofá, dá margem a momentos de uma estranhesa completa.

No entanto, me parece que toda essa estranhesa serve para desnudar o que a sociedade realmente é e tenta desesperadamente mascarar. O que me lembra, de certa forma, O Cheiro do Ralo, que nos aproxima dos personagens através do lado mais podre que poderia haver em nós.
Seja parte da violência e sadomasoquismo de Frank; da loucura de Dorothy; ou da curiosidade exacerbada de Jeffrey, que o leva a esse submundo de horror.

4 comentários:

Rodrigo Fernandes disse...

um filme que porcuro já há um tempo para ver, mas ou esqueço de procura-lo na locadora ou passo batido por ele, ehehe
tomara que não desista no meio dele, como vc quase o fez... eu já fiz isso algumas vezes em outros filmes..rs..
abraços!!!

Cecilia Barroso disse...

Eu gosto muito deste filme. Acho as maluquices do Lynch interessantíssimas.
Kyle MacLachlan tem mesmo um queixo estranho, não é mesmo? Acho ele muito fraco, sempre.
E cuidado para não tropeçar em orelhas por aí...

Anônimo disse...

Lynch é como aquela feijoada suculenta do Domingo. Você vai como muita voracidade para comê-la e ao final do dia ela dá uma senhora indigestão. Roteiro? Você precisa assistir A Estrada Perdida e Império dos Sonhos. Aí você vai ver o que estranheza e complicação. Cidade dos Sonhos é fichinha perto desses dois.
Não sou muito fã dele não, mas Veludo Azul (ao lado de O Homem-Elefante) é o mais digerível dele, por isso é que, apesar de toda bizarrice, pode figurar como clássico. Minhas impressões sobre ele estão no Cinefagia. Dá uma procurada lá (se tiver tempo) e leia, por favor.
Ah, sobre o fato de uma cidade aparentemente perfeita escoder podres e horrores, ele voltaria com uma carga ainda mais pesada na série/filme Twin Peaks. Este sim mosta que nem só sujeira se esconde debaixo do tapete...

Marcus Vinícius Freitas disse...

Apesar de não ser fã do Lynch (não é muito meu estilo) e não ter achado Veludo Azul tudo isso, tenho uma curiosidade enorme pra ver essa série Twin Peaks.

Ainda do post do Donnie Darko, você não viu "Réquiem", Thalita? Mas bah, faça-o o mais rápido possível, o filme é... bah, é foda demais mesmo.

Bjo!