31.8.19

Messiah of Evil (Zumbís do Mal)

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1973
Terror
Direção: Gloria Katz e Willard Huyck
Roteiro:Gloria Katz e Willard Huyck




Arletty (Marianna Hill) viaja até uma cidadezinha litorânea à procura de seu pai, após ficar um tempo sem notícias suas. Chegando em Point Dune, descobre que ele está desaparecido e que há algo insólito acontecendo na cidade.

Gloria Katz foi roteirista e produtora, atuando principalmente na década de 1970 e 1980. Trabalhou com George Lucas no roteiro de Loucuras de Verão (1973), como roteirista em filmes dirigidos pelo seu marido Willard Huyck e como co-roteirista de alguns outros filmes - destes, destaco Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984). Gloria, inclusive, ajudou com seu marido na revisão do roteiro do Star Wars (1977), reescrevendo trechos e acrescentando um pouco mais de humor à obra. Porém, seu único trabalho reconhecidamente na direção foi em Messiah of Evil, também executado em parceria com Huyck.

Uma das coisas que eu gosto nesse filme é a ambientação da casa do pai da protagonista. Como pintor atormentado, ele deixou grandes pinturas parietais espalhadas pelas salas da casa, antes de sumir misteriosamente. Cada uma delas ocupa a parede inteira, onde são usados tons fortes e chapados, representando cenários em perspectiva cheios de personagens em tamanho real. Essas pinturas passam a desconfortável sensação de que o interior da casa está sempre sendo observado, além de criar uma espacialidade irreal, como se os ambientes fossem maiores e mais cheios de cantos obscuros do que realmente são. Dessa forma, a casa acaba por ganhar vida, aparentando estar sempre à espreita.

A cidade, por outro lado, parece despertar ao longo do filme. No início, o estranhamento se dá por conta de algumas personalidades singulares que Arletty encontra em seu caminho. Contudo, fisicamente ela é trivial. Lojas, supermercado, cinema... Arquitetonicamente não há nada de interessante ou assustador. Às vezes parece deserta, mas então nos deparamos com policiais, alguns atendentes, pessoas absolutamente comuns. Não demora, no entanto, para que o ordinário se torne ameaçador. E, antes da metade do filme, a cidade se torna palco de uma sequência angustiante - e essa será apenas a primeira!

Além da questão cenográfica, o que me chamou a atenção foi a mescla de narrações. Temos três narradores diferentes ao longo do filme, sendo Arletty aquela que estrutura toda a trama. Acho que todas funcionam bem, principalmente as duas narrações secundárias, que ajudam a fortalecer o clima de insanidade que a história vai ganhando.

Inclusive, há um movimento que aconteceu algumas vezes e que me agradou muito: algo como um eco das narrações secundárias. Em determinados momentos chave, fragmentos de falas se repetem orquestradamente, evidenciando o processo pelo qual Arletty está passando. Esse recurso foi utilizado de maneira magistral e
m uma das melhores cenas do filme.

Gostaria de salientar também a atuação de Marianna Hill. Só por esse meu texto, é possível notar que a personagem dela não só é a protagonista, mas alguém que realmente movimenta toda a história. Arletty conta, Arletty procura, Arletty se perde. Às vezes parece que Arletty apenas se deixa levar, mas ela está atenta, ela tem seus segredos. E Marianna Hill consegue dar profundidade e nos passar o desespero e a confusão crescentes nos quais Arletty se encontra.

Com relação aos outros papéis, acho interessante o modo como duas personagens que pareciam completamente planas e irrelevantes em seu surgimento, começam a ganhar camadas interessantes mesmo se mantendo como secundárias na narrativa. Gosto ainda do fato de que o mais próximo que temos de um protagonista masculino não chega a roubar a cena, e também não recai na mesmice do paladino salvador - além disso, ele também passa a se tornar um personagem mais cativante conforme cada acontecimento se desenrola.

Por força do destino, tive que rever várias vezes longos trechos de Messiah of Evil, o que acabou me chamando a atenção para muitos desses detalhes que mencionei ao longo do texto. Com isso, o filme foi me despertando cada vez mais interesse, de modo que hoje me vejo recomendando-o efusivamente. Assim, espero viver para vê-lo receber o reconhecimento que merece.

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