3.10.19

Blood Bath / The Velvet Vampire

No início dos anos 1960, Stephanie Rothman foi a primeira mulher a receber um prêmio dado anualmente a estudantes de cinema pelo Sindicado dos Diretores da América, o que a levou a ser convidada em 1964 pelo diretor Roger Corman para ser sua assistente. Foi um trabalho que lhe trouxe bastante experiência, tendo sido incentivada por Corman para que pudesse deslanchar em sua carreira.

Ficou mais conhecida por seus filmes de cinema sexualmente apelativo, como The Student Nurses (1970) e Terminal Island (1973), com os quais explorou também questões sócio-políticas e sua visão feminista. Contudo, ela posteriormente viria a afirmar que trabalhar com esse tipo de cinema não era algo que a deixava feliz, mas eram os filmes que lhes eram oferecidos e com os quais ela pôde se manter na ativa (ainda que, infelizmente, por poucos anos).

O meu foco aqui, no entanto, será sobre os dois filmes de terror que ela dirigiu:



Blood Bath

1966
Terror
Direção: Stephanie Rothman e Jack Hill
Roteiro: Stephanie Rothman e Jack Hill




Antônio Sordi (William Campbell) é um artista atormentado por um antepassado que toma conta de seu corpo, transformando-o em um vampiro. Se apaixona por Dorean (Lori Saunders) e tenta protege-la de sua persona monstruosa, enquanto é perseguido pelo marido (Karl Schanzer) e pela irmã (Sandra Knight) de uma de suas vítimas (Marissa Mathes).

Rodado ainda sob a tutela de Roger Corman e com uma pesada mão influente do diretor, além de ter incorporado 9 minutos de cenas retiradas de outro filme (que não foi lançado, mas originou também Portrait in Terror, de 1965),  Blood Bath acabou se tornando praticamente uma colcha de retalhos. Contribuiu para esse resultado, também, o fato de que Hill e Rothman assumiram a produção em momentos diferentes e acabaram por se dedicar, cada um, a partes específicas da obra: ele filmou as cenas mais boêmias e com William Campbell, enquanto ela se responsabilizou pelas sequências vampirescas.

Aliás, o roteiro foi inicialmente escrito por Jack Hill já pensando em aproveitar as cenas de Portrait in Terror, e posteriormente foi alterado por Stephanie Rothman, responsável por acrescentar o vampiro à história. Há um artigo bastante interessante na Wikipédia (em inglês), o qual explica o desenvolvimento da produção do filme até chegar a seu produto final - wiki: Blood Bath.

Trata-se de um filme muito irregular, com cenas galhofa ridículas e outras com uma fotografia linda e/ou de uma sensibilidade impressionante. Em determinados momentos, a sensação de que existe uma mão feminina comandando é muito forte, como por exemplo, na cena do vampiro lutando com a moça na piscina. Além disso, o modo como algumas mulheres são autossuficientes é algo que se destaca dentre os filmes de terror daquela época.

Por fim, queria apontar a presença do então jovem Sid Haig, falecido recentemente, que interpreta o árabe Abdul nesse filme. Sid, anos depois, iria ficar mais conhecido por seu bizarro Capitão Spaulding em A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados Pelo Diabo.


Imagem
The Velvet Vampire

1971
Terror
Direção: Stephanie Rothman
Roteiro: Stephanie Rothman, Charles S. Swartz e Maurice Jules.



Susan (Sherry E. DeBoer) e seu marido Lee Ritter (Michael Blodgett) são convidados pela bela e misteriosa Diane LeFanu (Celeste Yarnall) a visitá-la em sua longínqua casa. O casal prontamente aceita, sem desconfiar de sua natureza monstruosa.

Diferente da maioria dos filmes de vampiro lançados até então, Rothman inverte os papéis comuns de gênero, colocando o vampiro como uma mulher e a vítima como um homem. Assim, apesar de algumas situações questionáveis, reafirmando vários problemas inerentes à época em que foi filmado, o roteiro traz frescor ao tema. O desenvolvimento da personagem Susan, por exemplo, parece irregular em alguns momentos, mas traz ótimas sequências e diálogos quando ela decide reverter sua própria condição dentro do triângulo amoroso que desponta desde o início da trama.

O tratamento diferenciado ao feminino que se vê na tela é resultado de uma direção segura e respeitosa. Demonstrando imensa delicadeza para com seu elenco, Rothman fechava o set para gravar as cenas de nudez e sexo, deixando no local apenas os atores e o câmera, motivo pelo qual ela foi elogiada por Celeste Yarnall.

Visualmente, The Velvet Vampire é belíssimo, o que costuma ecoar muito bem em mim. As sequências oníricas parecem ter sido desenvolvidas de algo presente já em Blood Bath e são bastante interessantes. Mesmo com seus equívocos, é um filme que me agrada e que se mantém vivo no meu imaginário desde que o assisti pela primeira vez, há um ano.

The Velvet Vampire não obteve sucesso comercial quando foi lançado, mas parece ter sido redescoberto nos últimos anos, recebendo a atenção merecida. Hoje nota-se sua influência em diretoras que se aventuram pelo gênero terror, sendo, por exemplo, visivelmente uma das inspirações de Anna Biller em The Love Witch, com todo o seu esplendor setentista.

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