3.3.08

Nina

Vista do alto, uma moça branca de cabelos negros está deitada no chão, de lado. À sua volta, uma escada de concreto a circunda levando a vários andares, dando a impressão de uma espiral ao ser vista de cima.




2004
Suspense, Drama
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia





Adaptação livre do livro "Crime e Castigo" de Dostoievski, Nina não me decepcionou. Muito menos Heitor Dhalia.

Sozinha em São Paulo, Nina (Guta Stresser) apenas quer sobreviver. Num momento de alucinação, larga o emprego, sua única fonte de renda, e se perde no desespero. Nina mora de alguel em um quarto no apartamento de Dona Eulália (Myrian Muniz), que cansada de praticamente sustentar a garota, passa a deixá-la ainda mais atormentada. Agora, Nina só deseja uma coisa. Morte à Dona Eulália.

Sobre a história. O caso é que Nina não está bem, mas no início a gente acha que é frescurinha dela. Porque ela pede demissão e depois fica reclamando que não tem dinheiro, que a Dona Eulália é uma bruxa que não deixa ela comer e tal. Tá, a Dona Eulália é meio bruxinha, mas vê lá se ela tem obrigação de sustentar marmanjo. Só que logo depois fica claro. Nina tem sérios problemas. E o maior pecado da Dona Eulália foi não saber diferenciar vagabundice de dificuldade. 

Eu gosto disso, de filmes que crescem. Crescem na gente enquanto estão acontecendo. E crescem depois também. Nina foi assim. Começou muito bem, e terminou melhor. É engraçado como os filmes te afetam. Eu achei O Cheiro do Ralo muito melhor, mais bem acabado. Dhalia já estava dominando a cadeirinha de diretor quando o fez. Mas, por outro lado, eu gosto tanto de O Cheiro do Ralo quanto de Nina

Heitor Dhalia ousou mais em Nina. No sentido de ter experimentado bastante. O filme como um todo tem uma aura de HQ bem forte, diversas cenas parecem ter sido tiradas de um quadrinho. O que se explica pela presença de Lourenço Mutarelli (aquele autor de quadrinhos que escreveu "O Cheiro do Ralo") como responsável pelas passagens animadas do filme. Sim, passagens animadas, porém nada animadas - já comentei que trata-se de um drama, né. Lourenço é o autor das diversas animações que permeiam o filme, além de todas as ilustrações que Nina fazia.

Além do tom HQ, outras coisas me chamaram muito a atenção. A trilha sonora de Antônio Pinto é lenta e pesada, e perfeita; e a direção de arte é impecável, em especial os cenários. O apartamento da Dona Eulália, por exemplo, foi feito com peças de demolição - mais palpável impossível. Cada detalhe do filme serve para deixá-lo cada vez mais lúgubre e onírico. Onírico. No início, a realidade e as fantasias de Nina têm uma separação clara, porém, chega um ponto do filme em que não sabemos mais o que é real ou não. A resposta vem no final e por um segundo achei que ela seria desnecessária, mas logo vi que não poderia ter sido diferente.

No fim das contas, Nina confirmou minhas suspeitas. Heitor Dhalia é um tipo de diretor que eu achei que nunca iria existir no Brasil. Porque Fernando Meirelles é perfeito, mas é diferente do Dhalia. Comparando os filmes de ambos, o Dhalia é menos social e mais humano. E o Dhalia é muito cult. Em Nina, há cenas que me lembram Tim Burton, outras que parecem influenciadas por David Lynch. É algo que vale a pena ver, e já vale só pelo gosto de saber que aqui existe um diretor assim.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tudo, mas tudo mesmo o que você escreveu. Pela comparação que você fez, acho Heitor Dhalia mais pop, meio Tarantino até. Ele inclusive está realizando um drama novo com Vincent Cassel chamado À Deriva. Só senti falta do seu comentário a respeito das pontas. Principalmente a de Wagner "Capitão Nascimento" Moura, como o cego que Nina tenta seduzir.

tha disse...

Putz, Rick! Verdade, esqueci mesmo!!!
Todos eles foram de tirar o chapéu mesmo!!!

O Wagner Moura é um camaleão, nem tem muito o que dizer. Teve gente que nem reconheceu ele direito. O Guilherme Weber também está ótimo, a cara que ele faz quando vai conhecer o quarto da Nina é muito boa!

E falando em Tarantino, antes de escrever o texto até tinha pensado nele, mas na hora acabei esquecendo de colocar. Lembrei muito dele por causa das passagens em animação que tem em Kill Bill (apesar de o Dahlia ter usado esse recurso antes). Mas é bem isso mesmo, o Dahlia é pop.

Anônimo disse...

Tha, eu lembro que ha muito tempo comentei no seu blog. Voce sempre responde de uma maneira muito cordial. Eu gostaria muito de assistir o filme "Nina" com Guta stresser. Mas, como eu moro no exterior eu nao acho nenhum DVD e nem na internet eu acho. Voce conhece algum site que eu possa baixar gratuitamente?

tha disse...

Olá!

Bom, não posso te reconhecer, pq vc esqueceu de assinar seu comentário... rsrs

Eu consegui o filme Nina na internet, na época em que fiz esse post sobre ele. Não me lembro de ter sido muito difícil encontrá-lo usando o emule.

Porém já faz um certo tempo e não sei mais um link confiável para poder te indicar. Vou dar uma sondada e, se eu descobrir alguma coisa, deixo um comentário aqui.

bjs!