13.5.19

Especial Vincent Price - parte 2

Continuando essa série dedicada ao querido Vincent Price, para esse momento selecionei alguns filmes que por algum motivo desapareceram por completo da minha memória, mas que eu sentia que mereciam minha atenção (sim, a seleção dessa semana foi puramente instintiva!).

Caso queria ler desde o início, a parte 1 do especial está aqui.

Assim, abaixo mais quatro filmes revisitados:


Foto em preto e branco. Vincent Price acuado de costas para uma janela aberta, com as mãos agarradas no peitoril, olha para algo fora da cena, seus olhos estão arregalados e a boca aberta, em sinal de absoluto pavor. Usa jaleco branco sobre camisa.
Força Diabólica (The Tingler)

1959
Terror
Direção: William Castle
Roteiro: Robb White



Tem tanta coisa errada e tanta coisa certa ao mesmo tempo que eu nem consigo mensurar.

A relação do personagem do Vincent Price com a esposa segue por um caminho muito delicado e normaliza uma situação em particular que é bastante problemática. Ainda com relação à esposa dele, a trilha sonora chega a atingir momentos não intencionais de comicidade ao tocar melodias sensuais executadas por saxofone praticamente toda vez que a personagem entra em cena.

Contudo, existe muita habilidade em se criar tensão ao longo do filme. Além disso, em vários momentos há a quebra da quarta parede efetuada de maneira bastante interessante e que funciona muito bem com a história.

Ponto positivo: há uma personagem deficiente auditiva.
Ponto negativo: essa personagem sofre violência psicológica extrema tendo sua deficiência como condicionante (ela é mulher, claro).


Em primeiro plano e embaçadas, duas fileiras de garrafas de vinho sobre uma mesa. Centralizado, no fim do corredor de garrafas, Vincent Price segura delicadamente um suporte metálico pela alça (isso substitui uma taça de vidro, mas é bem mais raso). Seus olhos estão comicamente arregalados e sua boca faz um biquinho de quem se prepara para sorver o vinho.Muralhas do Pavor (Tales of Terror)

1962
Terror, Comédia
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (poema)


Temos aqui três contos novamente baseados em poemas de Edgar Allan Poe - é um nome comum de se ler ao lado do de Vincent Price.

A qualidade dos contos vai crescendo ao longo do filme. O primeiro é uma história absurda em todos os sentidos, que se salva apenas pela atuação de Vincent Price (o modo como ele consegue interpretar alguém que fez algo absolutamente horrível no passado e mesmo assim ser muito carismático).

O segundo é uma comédia maravilhosa em que Peter Lorre nos premia mais uma vez com um alcoólatra muito bem executado e engraçado. As caras e bocas de Vincent Price ao degustar vinho são, também, um presente.

E o terceiro é, de longe, o mais impactante! Cria um clima de terror absoluto durante toda a história, apelando para os efeitos visuais grotescos apenas nos últimos minutos. Seria esse um exemplo de "pós-horror"? (risos)


O Caçador de Bruxas (Witchfinder General)

1968
Terror, Drama
Direção: Michael Reeves
Roteiro: Tom Baker, Michael Reeves, Louis M. Heyward (cenas adicionais) e Ronald Bassett (romance)

É muito difícil ser mulher e fã de filmes de terror. É com frequência que nos deparamos com nossos corpos sofrendo todo tipo de violência em função de uma narrativa. Ainda assim, é com alegria que eu vejo que não era o costume levar essas situações ao extremo nos filmes em que Vincent Price participou, ainda que pontualmente isso ocorresse invariavelmente em muitos de seus filmes.

Mas é com profundo pesar que me deparo com O Caçador de Bruxas. Assisti à versão do diretor, que possui as cenas que não foram exibidas à época do lançamento por serem fortes demais. Temo que essas cenas são de fato muito pesadas até mesmo para os padrões do cinema atual.

O filme é desagradável e parece extremamente longo, apesar de possuir apenas uma hora e 26 minutos. Eu me lembrava de não ter gostado dele quando o vi pela primeira vez e, se me lembrasse o motivo, não o teria visto novamente. Foi realmente difícil aguentar até o final.

Apesar disso, achei interessante pensar em como Vincent Price tem uma atuação muito contida nesse filme, o que coloca o caçador de bruxas bem distante daqueles personagens dramáticos que ele costumava fazer.




O Solar de Dragonwyck (Dragonwyck)

1946
Suspense, Drama, Terror
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Roteiro: Joseph L. Mankiewicz e Anya Seton (romance)



Uau!

Esse filme tem um discurso muito poderoso e inusitadamente atual. Baseado no livro de Anya Seton, há uma atmosfera de suspense crescente e o terror é pontual e bastante sutil. No entanto, há algumas ressalvas; por exemplo, quanto a ligar o ateísmo ao caráter do arrendador Nicholas Van Ryn ou quanto ao modo como Johanna parece ser ridicularizada por seu apetite voraz e, consequentemente, pelo seu corpo.

Gene Tierney tem uma atuação primorosa como a protagonista Miranda Wells e Vincent Price está insuportavelmente lindo (ou seria insuportável e lindo?). É uma pena que o roteiro tenha se esquecido da pequena Connie Marshall, visto que sua participação é de tamanha importância na primeira metade da história. Mas me agrada muito a presença de Jessica Tandy como a criada Peggy.

Eu poderia escrever um texto muito maior para discutir as questões levantadas por esse filme, e quem sabe, um dia o farei. Por enquanto, contudo, fica apenas a minha recomendação veemente para que seja assistido!


...

A parte 3 estará disponível aqui a partir do dia 20/05/2019.

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