27.2.11

The Happening (Fim dos Tempos)

2008
Ficção Científica
, Suspense
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro:
M. Night Shyamalan


Olá, meu nome é Thalita. "Olá, Thalita". Eu tenho um problema. Eu sou fã do diretor M. Night Shyamalan. Eu sempre o defendi quando a crítica especializada acabava com seus filmes. Até agora.

Estranhos acontecimentos assolam os centros urbanos, onde cada vez mais pessoas começam a tirar as próprias vidas sem motivo aparente. O professor Elliot Moore (Mark Wahlberg), sua esposa Alma (Zooey Deschanel) e a pequena Jess (Ashlyn Sanchez), filha de seu amigo Julian (John Leguizamo) precisam fugir e fazer o possível para sobreviver a essa calamidade.


É tão difícil fazer isso - mas deve ser feito. Lá vai: com Fim dos Tempos, seu penúltimo filme, M. Night Shyamalan decepciona até mesmo seus maiores fãs. Muito aquém de qualquer expectativa, o argumento não convence e as atuações só fazem piorar a situação da obra.

O grande problema de Fim dos Tempos é, definitivamente, a atuação precária de Mark Wahlberg, Zooey Deschanel e, até mesmo, Ashlyn Sanchez. Se Shyamalan havia conseguido retirar um grande ator de dentro de Bruce Willys, dessa vez ele não conseguiu tirar nem mesmo o suficiente para chamarmos de atuação regular. Wahlberg não demonstra firmeza em seu papel, Zooey não consegue provocar nenhum sentimento no espectador por sua tristeza e culpa, e Ashlyn é bonitinha, mas não consegue conquistar a gente a ponto de querermos pegá-la no colo e privá-la de qualquer sofrimento. E olha que Shyamalan sempre teve o dom de fazer qualquer um se apaixonar pelas criancinhas de seus filmes. Assim, com um trio desses, a empatia - que geralmente amarra a platéia à película - é praticamente inexistente.

Se o grande problema dentro do filme foram as atuaçãoes, fora dele foi a própria presença de Shyamalan. Em uma entrevista dada pouco antes do lançamento do filme, o diretor fez a afirmação que se segue: "A primeira coisa que quero dizer às pessoas é o seguinte: 'Este é de fato um filme B divertido."' Acontece que Fim dos Tempos não nos remete a um filme B, pois ele é muito bem acabado para isso. Se fosse um filme B realmente, seria até mesmo injusto exigir muito apuro da trama ou das atuações. Porém, com a qualidade visual que vemos em Fim dos Tempos, ele acaba se tornando apenas um filme com falhas. E nem é tão divertido.


Quanto ao argumento: as plantas emitem um veneno, trazido pelo vento, que faz com que as pessoas percam completamente seu sentido de auto-preservação e se suicidem. Bem, é estranho, pois tinha tudo pra dar certo, mas não convence. Ao final do filme, minha família inteira estava tirando um sarrinho a esse respeito e eu, que instintivamente tendo a defender os filmes do Shyamalan, dessa vez fiquei de mãos atadas. Eu não estava convencida também. Sem contar que, estranhamente, neste filme Shyamalan faz questão de ser didático ao extremo, deixando tudo tão explicadinho que quase chega a ofender a nossa inteligência.

Mas entenda, não é que o filme seja completamente ruim. Entretanto, é de longe o pior trabalho de Shyamalan. E não dá para simplesmente apreciar um filme deste diretor isoladamente, como se fosse a obra de um Zé Ninguém. A partir do momento em que você ouve o nome dele, todo um repertório controverso lhe vem à mente e mesmo os mais incrédulos dos mortais não consegueria ficar indiferente. Afinal, tudo pode acontecer, você pode estar prestes a assistir um filme que entrará para a história do cinema, como foi O Sexto Sentido, como pode estar diante de um fracasso retumbante (por mais que você acabe gostando do filme), como A Dama na Água. E, como eu já tinha gostado de todos os 5 filmes que havia assistido, é natural que a minha expectativa estivesse nas alturas.

No entanto, por mais decepcionado que esteja o espectador, é inegável que as situações geradas pelo roteiro são incrívelmente tensas e assustadoras. Mesmo você achando que é uma balela, mesmo você nem ligando muito para o tal Elliot, você se segura na poltrona sempre que a câmera dá o sinal da menor brisa que seja. Shyamalan sabe usar sua câmera e sabe criar esses momentos de suspense, de aflição. E, veja só, eu assisti Fim dos Tempos num sítio e, as mesmas pessoas que estavam fazendo pouco caso do filme, adimitiram que atravessar o caminho em meio às árvores até chegar nos quartos não seria tarefa fácil.

No frigir dos ovos, o saldo se empata. Fim dos Tempos é um filme até mesmo interessante, mas que decepciona pelo que carrega em seu background.

20.2.11

Black Swan (Cisne Negro)




2010
Drama, Suspense
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Andrés Heinz, 
Mark Heyman e John McLaughlin






Para conseguir interpretar A Rainha Cisne no balé O Lago dos Cisnes, a bailarina Nina (Natalie Portman) precisa provar que é capaz de dançar como o Cisne Negro tão bem quanto o faz sendo o Cisne Branco. É isso o que exige Thomas Leroy (Vincent Cassel), o diretor da peça. No entanto, com a chegada da nova bailarina Lily (Mila Kunis), Nina teme perder a preferência do diretor.

Bom? Ótimo? Excelente? 

Não. 

Perfeito. 

O primeiro contato que tive com Cisne Negro foi através dos trailers. Fiquei empolgadíssima com o elenco, com a estética, com tudo. A cada cartaz, a cada imagem aleatória, a cada comentário que me caía ao conhecimento, mais interessada eu ficava. E aí sempre bate aquele medão de se decepcionar depois, né. Mas não foi o caso.

Cisne Negro cumpre com absolutamente tudo o que promete: atuações perfeitas, roteiro bem desenvolvido, história forte, edição de cenas e sonora impecáveis, estética lindíssima, efeitos especiais muito bem dosados e que agregam valor ao filme. Não há do que reclamar.

Natalie Portman já entrega o inevitável logo nas primeiras cenas. Não há dúvidas de que ela seja aquela mocinha frágil e travada, não há dúvidas de que ela seja o próprio Cisne Branco. E, como bailarina, mesmo que os especialistas no assunto possam notar algum movimento impreciso de suas mãos ou pernas, ela consegue fazer-nos entender porque ela é um Cisne Negro tão medíocre e, ao mesmo tempo, porque ela tem potencial para ser excepcional. Vincent Cassel faz seu papel com tamanha precisão que nos convence sem o menor esforço de que pode ser galã e sedutor, por mais feio que seja. Barbara Hershey, no papel da mãe de Nina, nos brinda com uma personagem complexa e executa seu papel lindamente. Mesmo Mila Kunis faz muito bem o papel de Lily, com bastante consistência.

O roteiro é tão bem construído que a gente vai entrando naquele relacionamento defeituoso entre mãe e filha, se envolvendo com os defeitos de cada uma. A isto se soma o relacionamento entre Nina e Thomas, cheio de cobranças, intimidade e tensão. E, para coroar, temos a própria personalidade auto-destrutiva de Nina. Pronto, temos um filme para nos deixar tensos  e incomodados do início ao fim.

É claro que para salientar e evidenciar cada aspecto, há a belíssima edição de som, os efeitos especiais perfeitamente  pontuais e a execução da trilha-sonora maravilhosamente adaptada do original O Lago dos Cisnes. Tudo isso é obra de uma direção que sabe muito bem a que resultado quer chegar. Obra de um diretor que tem uma visão quase onírica e precisa da história, e que sabe como traduzi-la em imagens.

E eu preciso salientar quão competente é esse diretor. Arofonsky sabe o que precisa para atingir seu objetivo e sabe usar essas ferramentas de maneira bem feita. O uso dos espelhos como figura de linguagem é inteligente sem ser óbvio demais ou cansativo. A posição da câmera que em certos momentos quase engole o rosto de Natalie Portman, em outros a segue pelas costas,  e, em outros ainda, a segue de frente, como se a personagem caminhasse olhando para si mesma. Ele sabe escolher o enquadramento ideal para cada momento, sem perder a unidade, e de modo a nos levar a fundo na mente da protagonista cada vez mais perturbada.

Para finalizar, nada tenho a dizer, a não ser: Darren Aronofsky acaba de ganhar uma fã inveterada. 

13.2.11

Trilogia Bourne

2002 / 2004 / 2007
Ação, Aventura


The Bourne Identity (A Identidade Bourne)

Direção: Doug Liman
Roteiro: Tony Gilroy e W. Blake Herron

The Bourne Supremacy (A Supremacia Bourne)

Direção: Paul Greengrass

Roteiro: Tony Gilroy


The Bourne Ultimatum (O Ultimato Bourne)

Direção:
Paul Greengrass
Roteiro: Tony Gilroy, Scott Z. Burns e G
eorge Nolfi


Baseada nos livros de mesmo nome de Robert Ludlum, a Trilogia Bourne é uma ótima pedida quando se está à procura de um bom filme de ação. Com uma fórmula que o distancia de seus semelhantes (007 ou Missão Impossível), a franquia tem tudo para entrar no rol dos clássicos de ação.

Um homem (Matt Damon) é encontrado por um barco de pesca quase morto. O rapaz não se lembra de o que o levou a essa situação, ou melhor, ele não se lembra de absolutamente nada sobre seu passado. Nem mesmo quem ele é. Numa busca por respostas, com a ajuda de uma moça com quem pegou carona, Marie (Franka Potente), ele vai conseguindo colecionar pequenos fragmentos de sua vida. Ao que tudo indica, Jason Bourne é seu nome, mas ele ainda precisa descobrir porque o governo o quer morto.

Antes de mais nada, não vá assitir a esses filmes pensando que eles são livres de furos ou absurdos no roteiro. Como bons filmes de ação, nada disso pode faltar! Senão, como poderíamos ter as cenas repletas de adrenalina e emoção? Afinal, não é isso o que se busca ao assistir um filme desse gênero? As perseguições são de tirar o chapéu e as lutas chegam até a nos lembrar um pouco da irreverência de Jackie Chan (que tal usar como arma o primeiro item que se tem a mão? por exemplo, uma revista?).

A despeito das ótimas cenas de ação, que já valeriam o filme todo, a grande sacada da trilogia é o fato de que mesmo quem não é lá muito fã de filmes de agentes secretos provavelmente vai gostar deste - e, claro, quem é fã também. Isso porque Jason Bourne não é um agente comum, do tipo conquistador e que flerta com o perigo. Não, Jason Bourne é um rapaz que só quer viver a sua própria vida, sossegado, com a mulher que ama. Ainda assim, o cara é basicamente inderrotável, inteligente e... bem, foda. E Matt Damon dá vida ao papel com muita habilidade, sendo também possuidor de um carisma adimirável. Dessa forma, Jason Bourne consegue conquistar homens e mulheres de maneira incondicional, construindo um público bastante amplo.

Ainda dentro desse pensamento, existe a companheiríssima Marie de Franka Potente. A moça é bonita, sem ser uma deusa improvável; cria uma imediata empatia com o público feminino com sua irreverência e simpatia; e agrada o público masculino porque... bem, ela é mulher e se joga no Jason Bourne. Mais à frente na trilogia, conhecemos também a personagem Nicky Parsons, interpretada por Julia Stiles e esta também cativa o público, nesse caso por seu óbvio amor platônico. Já os 'vilãos' são tantos que não temos muito tempo para odiá-los. A cada filme essa parte do elenco é reciclada, mas todos têm uma presença suficientemente forte para sustentar os filmes em que aparecem - até porque o vilão per se é praticamente a figura abstrata do governo americano.

Nos detalhes técnicos eu nem me prendi, de tão envolvida pelos filmes que fiquei. Porém, existe um outro ponto a se levantar. Na carona de Jason Bourne podemos conhecer um apanhado de países que torna tudo ainda mais interessante. Perseguições que acontecem nas ruas de Paris, de Moscou, de Londres, e até mesmo nas ruas de Tânger (Marrocos) ou de alguma cidade da Índia. Mas a lista ainda é muito maior. E esse desfile internacional, com ambientações muito bem fotografadas, dá um charme ainda maior aos filmes (o Chico comenta sobre a coloração azulada do filme que dá um toque a mais de realidade - fato para o qual não atentei, sinceramente).

Ao final de O Ultimato Bourne, a vontade de que venha mais um é incontrolável, - apesar da ciência de que a história já se fechou e que um filme a mais talvez só venha a estragar o que já está praticamente perfeito. Porém, para quem ainda não sabe, O Legado Bourne
realmente está em vias de ser iniciado (a ser lançado por volta de 2012). A péssima notícia é que as presenças do diretor Paul Greengrass e de Matt Damon já foram descartadas.

6.2.11

Gwoemul (O Hospedeiro)




2006
Ficção Científica, Comédia

Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Joon-ho Bong, 
Won-jun Ha e Chul-hyun Baek




Talvez eu esteja estragando um pouco a graça de O Hospedeiro por dizer que se trata de uma comédia. Quando eu o assisti, não fazia idéia do que esperar, então dar de cara com aquele estranho humor coreano foi uma deliciosa surpresa
.

Uma mutação química dá vida a um monstro que colocará em alerta toda a população de Seoul, na Coréia do Sul. Park Gang-Du (Kang-ho Song) é um dos filhos de Park Hie-bong (Hie-bong Byeon) e vê sua filha Hyun-seo (A-hsung Ko) ser levada pelo terrível monstro. Assim, Gang-Du, seu pai e seus dois irmãos, Nam-il (Hae-il Park) e Nam-joo (Doona Bae), vão tentar a todo custo salvar a menina.


É difícil não se impressionar com O Hospedeiro. Em uma preconcepção pode ser tido como um típico filme de monstros (como Godzilla ou King Kong) e à primeira vista pode ser tido como um filme irreverente. Porém, o roteiro é muito mais rico e conforme se pensa sobre ele, o mesmo se revela bastante crítico. Ainda assim, ele não deixa de ser realmente um filme de monstro bastante irreverente. Dessa forma, O Hospedeiro consegue agradar a gregos e troianos: você vai gostar quer você esteja buscando um filme com conteúdo, quer você tenha interesse apenas em se divertir.

Como filme de monstro, O Hospedeiro é genial logo no início. Ao invés de passar o filme todo criando uma espectativa a respeito do monstro que nunca seria alcançada, Joon-ho Bong decide apresentar seu 'godzilla' já na primeira cena em que ele dá sinal de vida. Pronto, o
peixe-mutante é assustador o suficiente para te manter apreensivo durante o restante da película, e você não irá se decepcionar com sua aparência caso ele somente fosse mostrado nos minutos finais.

Junto a isso, o drama da família Park é muito bem amarrado a um enredo assustador. Os atores são sensacionais, principalmente Kang-ho Song, e o toque de 'humor fora de hora' consegue balancear o filme suficientemente bem para que a emoção e a tristeza não ditem o clima do roteiro. Dessa forma, temos um filme equilibradíssimo, que provoca cada tipo de sentimento na medida exata. Sem falar que o 'humor fora de hora' é tão fora de hora que a gente ri pelo choque antes mesmo de rir pela 'piada'. E enquanto no início isso nos gera algum desconforto, não demora muito para que soltemos nossas próprias amarras e mergulhemos de cabeça nesse viés desconjuntado de se fazer rir.


Paralelamente, temos em
O Hospedeiro um filme bastante crítico. De maneira bastante descarada, os Estados Unidos, como grandes intrometidos que são, se tornam o principal alvo. Mas o próprio governo coreano não escapou das garras de Joon-ho Bong, que deixa claro seu descontentamento com relação ao modo alienador com o qual os seus conterrâneos são tratados. Fica clara a insatisfação de Joon-ho Bong principalmente através do personagem Nam-il, com suas falas ressentidas e seu fracasso patente.

Um filme profundo, emocionante, sensível, assustador, engraçado e divertido. Não se prenda a estereótipos. Assista O Hospedeiro sem medo e terá uma experiência rica em diversos sentidos.