27.5.19

Especial Vincent Price - parte 4

Se você chegou até aqui sem ler as outras 3 partes, sugiro que comece pela parte 1, siga para a parte 2, depois a parte 3. Pois hoje é o último dia desta série de textos em homenagem a Vincent Price.

É também uma data muito... especial. Hoje, dia 27 de maio de 2019, é o dia em que ele faria 108 anos caso ainda estivesse vivo!

Tendo em vista esse momento comemorativo, eu havia reservado para o último dia os quatro filmes que eu acreditava serem os meus preferidos. Mantive a ordem inicial para a publicação, mas é interessante pensar que após finalizada a revisitação, minha opinião já não é mais a mesma. Dois desses quatro filmes caíram muito de posição no meu ranking particular, como pode-se ver nessa lista que eu mantenho no Letterboxd.

Enfim, sem mais delongas, vamos aos últimos quatro filmes.


A Orgia da Morte (The Masque of the Red Death)
Gif. Em um baile de máscaras, as pessoas dançam com seus corpos vermelhos de sangue, como se em transe. Em meio a eles, a morte vermelha caminha com Vincent Price, em fantasia negra de árabe, logo atrás. A morte anda com os braços cruzados e seu rosto coberto por uma máscara, olhando fixamente para a frente. Vincent Price a observa, com uma expressão de confusão em seu rosto, sem dar atenção às pessoas em redor.
1964
Terror
Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaumont, R. Wright Campbell e Edgar Allan Poe (conto)

Aqui, diferente de grande parte das histórias estreladas por Vincent Price, afastamo-nos do gótico e aproximamo-nos do medieval. Confesso que tenho a impressão de que toda a ambiência gótica geralmente trazida pelos contos de Edgard Allan Poe combina mais com Vincet Price do que qualquer outra coisa. Talvez por isso, o filme tenha me decepcionado um pouco dessa vez.

Além disso, o Príncipe Próspero é um personagem odioso, brilhantemente interpretado por Vincent Price, que me provocou inquietação com suas falas e ações grosseiras e desumanas. É esse personagem que justifica a ridicularização de um casal de anões, por exemplo. Mas não justifica a escolha de Verina Greenlaw, com menos de 8 anos de idade, para representar Esmeralda, uma bailarina anã adulta. Em compensação, Skip Martin já aparece em um personagem bastante interessante e complexo, que quebra a barreira inicial de uma representação falha.

De qualquer forma, a história é muito boa, várias das atuações são excelentes e o final é belíssimo! Na verdade, quanto mais eu penso nele, mais ele cresce no meu conceito e, apesar de não estar mais dentre os quatro que mais gosto (mais por uma questão temática), sem sombra de dúvida está entre os 10 melhores filmes de Vincent Price.

Obs: Vincent Price vestido de árabe correndo atrás e da morte é algo que beira o cômico e o deprimente.


Gif. Vincent Price com peruca de cabelos grisalhos muito longos e barba tão longa quanto os cabelos, as sobrancelhas mais fartas que o normal. Está quase irreconhecível. Segura em uma das mãos um coração ensanguentado (bem vermelho) e fumegante.As 7 Máscaras da Morte (Theater of Blood)

1973
Terror, Drama, Comédia
Direção: Douglas Hickox
Roteiro: Anthony Greville-Bell, Stanley Manne (ideia), John Kohn William Shakespeare (peças)

Acho que de todos os filmes que eu revi, esse era o que eu tinha menos lembrança (e eu não tinha me dado conta disso até eu efetivamente começar a revê-lo). Eu não fazia ideia nem mesmo que ele se passava nos dias "atuais" (década de 1970).

No início, eu estava gostando e me divertindo. As mortes são criativas e o humor é bem dosado, apesar de algumas piadas já não funcionarem tão bem.

Até que nas últimas três mortes eu tive uma decepção brutal. A antepenúltima, que considero a pior, é extremamente misógina e desnecessária - até porque foge completamente do padrão das outras. A partir daí, eu perdi a boa vontade e parei de relevar as piadas preconceituosas. Eu fico com a impressão de que o filme não cabe mais muito bem nos dias de hoje e que são necessárias muitas concessões para ele continuar funcionando.

As 7 Máscaras da Morte tem uma estrutura que se assemelha muito com O Abominável Dr. Phibes, mas é incomparável o modo como aquele falha em vários aspectos nos quais este é bem sucedido. Lançados com apenas dois anos de diferença, é como se um fosse uma tentativa de surfar no grande sucesso recente do outro.

Obs: confesso que faço sempre uma confusão danada com o nome desse filme e do acima por misturar as traduções com os nomes originais e com as histórias.


O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes)
Gif. Em primeiro plano, parte de um lustre de cristal reluzente. Logo atrás, de perfil, com a pedras brilhantes do lustre recobrindo o seu cabelo, Vincent Price usa uma máscara dourada que se assemelha a uma águia, onde o bico fica sobre o nariz. Podemos ver o bigode grisalho, a boca e as longas suíças.
1971
Terror, Comédia
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (conto)


Aqui está um filme primoroso que nada perdeu em sua revisão. Eu já havia feito um texto sobre ele em 2007 e tenho pouca coisa a acrescentar ou a alterar do que escrevi naquela época.

Por exemplo, hoje eu não sou tão dura com a jovem Virginia North, apesar de achar ainda que ela é um elo fraco dentro do filme. Contudo, há momentos lindíssimos que se devem somente à sua presença em cena.

Mas mantenho meu clamor pela interpretação do Vincent Price. Acredito ser esse um dos filmes em que ele está simplesmente excepcional. Ele consegue passar o tom exato da comédia enquanto faz uma cena dramática, usando apenas um olhar. Eu não me canso de elogiar a interpretação que ele faz enquanto fala sem mexer os lábios. A gente vê isso geralmente como recurso em que o personagem está pensando e costuma ser usado pontualmente - e eu nuca gosto do resultado final. Aqui, no entanto, o resultado é primoroso.

Também faço questão de salientar que Peter Jeffrey é peça fundamental na construção do humor nesse filme. Ele é carismático e engraçado de um jeito muito contido - e muito inglês. Todo o humor do filme é muito bem colocado, é sutil e muito bem equilibrado.



Gif em preto e branco. Vincent Price, de terno, gravata, bigode e sorrindo, diz: "Eu acho que todo mundo imagina o que faria se visse um fantasma". Em segundo plano, Alan Marshal move a cabeça, pensativo.A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill)

1959
Terror, Mistério
Direção: William Castle
Roteiro: Robb White




Talvez esse não seja o melhor filme da carreira de Vincent Price, mas não havia a possibilidade de não ser meu preferido. Principalmente por ter sido aquele que me colocou em maior contato com esse esplêndido ator, fazendo com que eu me aprofundasse em sua filmografia.

É também um dos primeiros filmes cujo mote central gira em torno de um grupo de pessoas que pretende passar uma noite em um suposto prédio mal-assombrado, repetido à exaustão até os dias atuais. Apesar de utilizar de efeitos práticos muito simples e quase infantis, o roteiro constrói muito bem o jogo de poder e a tensão entre os personagens.

Sobre o filme propriamente dito, eu escrevi um texto em 2007. De lá para cá, em geral, minha opinião permanece a mesma. O que posso acrescentar é a minha recomendação veemente para que vocês assistam essa obra em específico. Pessoalmente acredito que ela é a que mais representa quem é o Vincent Price simbolicamente dentro do cinema de horror. Um ator que traz personalidade aos seus papéis, que permite a complexidade de ser carismático mesmo quando personifica um vilão.

Contudo, há algo que eu queria pontuar, sobre a produção desse filme - e que foge um pouco do tema desse especial. Encontrei em alguns sites a menção de que A Casa dos Maus Espíritos havia sido co-dirigido por uma mulher chamada Rosemary Horvath. Intrigada com essa informação, que de início não me pareceu nem um pouco absurda, visto que não é incomum o apagamento de mulheres em diversas áreas do conhecimento, fiz uma extensa pesquisa para descobrir mais sobre o caso. Para a minha surpresa, não encontrei absolutamente nenhuma fonte segura que corroborasse sequer a existência da diretora Rosemary Horvath. No entanto, me deparei com o currículo de uma designer gráfica chamada Rosemary Horvath e, vejam só, esta não dirigiu o filme, mas foi a diretora criativa da colorização de A Casa dos Maus Espíritos, versão lançada em 2005. Percebi que alguns sites de venda do DVD da versão colorida informavam o nome de Rosemary Horvath como diretora (sem especificar que ela era a diretora criativa do trabalho de colorização). Imagino que o problema tenha nascido quando o primeiro site divulgou essa informação, mas não pude descobrir a data exata em que isso ocorreu.

Na Wikipedia, encontrei uma Lista de Filmes de Terror dos anos 1950 e, procurando nas datas das edições feitas nessa lista, descobri que o filme A Casa dos Maus Espíritos havia sido acrescentado com Rosemary Horvath como diretora em 2007. Foi a data mais antiga que pude encontrar que a menciona como co-diretora do filme. Entrei em contato com o autor da edição e ele não soube me dizer a fonte dessa informação, retirando-a, assim, da página. Quando entrei em contato com o IMDb e eles também retiraram os créditos a ela na página do filme. Também entrei em contato com os diversos sites que a mencionam como co-diretora ao lado de William Castle, mas os autores dos artigos me informaram que, de fato, não possuíam uma fonte para a informação e que apenas se basearam no que constava nos sites vizinhos - gerando uma cadeia de divulgação da informação sem a devida checagem de nenhum deles.

Outras referências que usei durante a minha busca pela verdade:
o linkedin da Rosemary Horvath;
- Movie Review: HOUSE ON HAUNTED HILL (1959 + 1999) and The Curse of Colorization!

Enfim, assim termina minha homenagem ao grande ator Vincent Price: com um pequeno trabalho investigativo a respeito da direção de um de seus melhores filmes. E a moral da história é: crianças, não passem a diante informações sobre as quais vocês não tem absolutamente certeza de estarem certas! (Eu inicialmente também fiz isso, e estou me esforçando para corrigir meu erro.)

No mais, meus eternos parabéns a esse homem e ator maravilhoso!

...

Fim.

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