5.12.10

Meu Nome Não é Johnny




2008
Drama

Direção: Mauro Lima
Roteiro: Guilherme Fiúza,
Mariza Leão e Mauro Lima





Nunca foi tão difícil assistir um filme. Não pelo filme, mas por fatores externos. Cinema me está vetado, tentei locá-lo inúmeras vezes na época de lançamento e nada. Desisti e só assisti porque minha tia apareceu com ele outro dia. E o pior é que eu já nem estava mais no pique, nem queria mais... Ainda bem que não fui por mim.

O filme é baseado na história real da vida de João Guilherme Estrella (Selton Mello), um rapaz de classe média que conheceu as drogas muito cedo. Tendo crescido em uma família desestabilizada, acabou se envolvendo diretamente com tráfico e foi preso em flagrante.

Eu esperava algo diferente. Esperava mais degradação. Esperava um personagem mais anti-herói. Esperava não me afeiçoar a João. Mas o que vi foi um garotinho que caiu de para-quedas num mundo que ele não compreendia. Num mundo sedutor e fácil. Ele sabia que era errado, mas não sabia o quanto. Ele sabia que era perigoso, mas não sabia que pessoas que ele amava corriam tanto risco quanto ele. Ele achava que o mundo era dele e que o que ele fazia não era algo tão ruim assim. Afinal, usa droga quem quer. E se não fosse ele a vender, outra pessoa o faria, não é mesmo?

Pois é. Meu Nome Não é Johnny conta a história de um rapaz que não teve orientação nenhuma. Seu pai era um derrotado - não queria enfrentar sua doença e deu as costas para a vida. Sua mãe, revoltada com o marido, simplesmente o abandonou, deixando para trás também seu filho adolescente. João ficou assim, órfão de pais vivos, morando praticamente sozinho em uma casa grande e bonita, onde ele podia dar festas para os amigos e vender a droga que ele tinha. Ele suprimia a falta de família com a presença constante dos amigos - e clientes.

João era um jovem alegre, cativante, simpático e inconsequente. É difícil não gostar de João. Ou de Selton Mello? O personagem foi tão bem representado (e apresentado) que a gente perdoa seus erros, mesmo não se conformando com nenhum deles. O resto do elenco é resto. Cleo Pires, com o segundo personagem de maior destaque, está bem em seu papel, mas é só pano de fundo para a história de João. Selton Mello, pra variar, brilha e ofusca.

Só que eu não posso dar o crédito pelo personagem somente ao Senton Mello. Um detalhe que ajudou demais na criação da empatia entre espectador e personagem foi a inserção de vídeos caseiros mostrando a infãncia de João em alguns pontos do início e do final do filme. É um menininho fofo, peralta, sapeca, simpático, risonho, delicioso. E aí que a gente está vendo esse menininho inserido exatamente no meio do trecho mais difícil da vida de João. E aí que a gente chora litros. Eu, pelo menos, como mãe de um menininho fofo, chorei bastante.

Já que estamos falando em personagens, eu preciso falar mais sobre a mãe de João (Júlia Lemmertz). Apesar de uma parca aparição ao longo do filme, a falha figura materna acabou se tornando o bode espiatório para toda a trama. Fica claro que a mãe do rapaz não tinha a menor preocupação em saber de onde seu filho tirava tanto dinheiro e, mesmo tendo literalmente o abandonado quando ele mais precisava dela, tenta posar de super mãe indignada. Assim, para quem ficou com um pé atrás com o fato de o filme 'perdoar' todos os erros de um marmanjo irresponsável, a figura da mãe ausente se encaixa perfeitamente como uma ótima desculpa para explicar essa questão.

Entretanto, ainda fica a dúvida: João poderia ser isento de seus 'pecados' com a simples justificativa de ter uma orientação falha? Apesar de o filme ter vendido que sim, eu não concordo muito. Mas deve-se louvar o fato de o filme ter conseguido construir um personagem que cativa sem precisar esconder seus malfeitos. Talvez não seja uma história comprada por todos; eu comprei. Eu sei que é contraditório, pois eu tenho conciência de que fui comprada, mas me vendi assim mesmo. Ponto para Mauro Lima.


Contudo, tirando esse grande mérito com relação à construção do personagem, Meu Nome Não É Johnny não traz mais outras grandes qualidades. É um filme muito bom e bem feito, porém um pouco superestimado.


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