17.10.18

Suspiria

O vazio central de um prédio de apartamentos, onde há duas escadas em "v" que levam aos diferentes andares. As paredes são pintadas de um tom de vermelho rosado, com faixas decorativas em tons de cinza que apresentam alguns desenhos geométricos como losangos e círculos, remetendo ao estilo art deco. Uma moça está parada no segundo andar com os braços abertos e de costas para o vazio central. Ela está em pé entre duas portas verde água. A moça está no centro da foto e o prédio é todo simétrico.

1977
Terror, Giallo
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento e Daria Nicolodi




Suzy Bannion (Jessica Harper) é uma bailarina que está ingressando em uma famosa escola de dança na Alemanha. Porém, uma série de assassinatos ligados de alguma forma à escola faz com que Suzy perceba que há algo muito estranho acontecendo à sua volta.

As palavras-chave aqui são: arquitetura, cores, música. Nem mesmo as atuações medianas (algumas exceções para melhor, outras para muito pior) são capazes de diminuir o impacto causado por essa tríade; ao contrário, talvez até mesmo agreguem certo charme no clima alucinado e perturbador do longa. Aliás, o ar onírico do filme permite que possamos abrir mão inclusive da lógica e da busca por uma história completamente sem furos. O roteiro, a propósito, foi escrito em parceria com Daria Nicolodi, atriz e escritora que atuou em diversos filmes do Dario Argento e interpretou uma personagem ma-ra-vi-lho-a em Prelúdio Para Matar (1975).

A primeira cena é da fachada externa de um prédio magenta em estilo art decó. A cena abaixo desta é do interior de um amplo hall de paredes azul-royal com esculturas ao lado de um vão central onde duas mulheres conversam. A terceira cena é em um amplo corredor de paredes vermelhas e portas altas de madeira escura em estilo art nouveau e uma moça se prepara para a abrir a porta do fim do corredor - a maçaneta da porta está quase na altura do ombro da moça. A quarta cena é em um quarto, onde uma moça está dormindo em uma cama e outra moça está em frente a uma porta alta fechada, de madeira escura, e todo o ambiente está banhado de uma forte luz verde. A última foto é do close no rosto de uma moça em frente a uma parede com papel de parede amarelo e uma cortina de renda escura, com uma luz amarela banhando seu rostoSuspiria eu assisti há muitos anos e tive o enorme prazer de revisitar duas vezes nas duas últimas semanas. Aproveitei a onda e revi também Prelúdio Para Matar, um dos meus preferidos do diretor. E relembrando seus outros títulos e tendo este também como forte exemplo, uma característica fortíssima em seus filmes é o modo como ele se utiliza de edifícios e ambientes arquitetonicamente imponentes e intrigantes como forma de construir o impacto desejado em cada cena. No caso de Prelúdio Para Matar, o maior exemplo é a casa que surge na segunda metade da história, para a qual não se pode olhar sem pensar em sua opulência e beleza sombria. No caso de Suspiria, ele eleva essa característica à máxima potência, apresentando em todas as cenas um ambiente ou edifício que desperte no espectador o sentimento que ele pretende estimular.

As cores marcadas estão dispersas seja na própria decoração dos ambientes, seja no forte uso da iluminação monocromática. Praticamente todas as cenas possuem uma cor predominante, ou uma combinação de cores fortes. O filme se torna, assim, uma experiência cromática que se funde à arquitetura, criando essa sensação de que o que estamos vendo é mais do que uma simples história de terror. Eu te convido a clicar na imagem acima para aumentá-la, de modo a visualizar melhor as cenas as quais selecionei e que possibilitam perceber sobre o que exatamente estou falando. Além disso, Dario Argento utiliza as cores, principalmente o vermelho, de modo bastante curioso. A violência no filme é muito gráfica, mas o sangue é basicamente tinta vermelha. Ao mesmo tempo, o vinho tem uma viscosidade e coloração muito próximas do sangue real - provando que o sangue visualmente artificial é de fato uma escolha e não simples falta de opção. Faz sentido: se o sangue é tinta, o filme de terror se torna a base para uma obra de arte.

Por fim, a trilha-sonora composta (em parceria com Dario Argento) e executada pela banda Goblin é a outra ponta do tripé que sustenta Suspiria. Se visualmente o impacto é grande, não adianta fechar os olhos. Nos momentos em que a trilha entra em ação, o volume se eleva a ponto de se tornar quase insuportável. Insuportável de um jeito bom, já que estamos falando de um filme de terror. Trata-se de um rock progressivo com vocais absolutamente aterrorizantes e com uma música-tema muito marcante. A trilha-sonora injeta a energia fantasmagórica que faltava na dureza arquitetônica e na psicodelia de cores.

Dessa forma, o clima de terror criado pelas edificações e ambientes, pela iluminação de um colorido extremo e pela trilha-sonora assustadoramente alta e exótica, fazem com que Suspiria esteja marcado como um dos mais interessantes filmes de terror de todos os tempos.

No texto "As Três Mães" eu falarei um sobre as sequências e sobre a refilmagem de Suspiria.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei de sua resenha. Gostei da arquitetura, das cores e da música. Gosto de suspense, mas terror não é meu forte. Mas acho que o 'seu' forte mesmo, é escrever. Bela descrição!

Monica Asperti Brandao disse...

Mônica

tha disse...

Obrigada, tia! Eu sou apaixonada por esse filme! Até fiz minha mãe assistir comigo! hehehe Ela disse que gostou, que até quer ver o remake que está para sair no cinema!