24.2.08

Os Inocentes (The Innocents)

Imagem em preto e branco. Um garotinho branco, Miles (Martin Stephens), está de frente para a câmera, em close de seu rosto, olhando impassivelmente para a frente. Imediatamente atrás dele dele, do lado de fora de uma janela, um homem branco de olhar ameaçador observa o garoto com o rosto próximo ao vidro. Pelo vidro da janela escorre água.



1961
Terror, Suspense
Direção: Jack Clayton
Roteiro: William Archibald e
Truman
Capote






Baseado no livro "A Volta do Parafuso" de Henry James, sem dúvida alguma é um dos melhores filmes que englobam a fatia "casas mal-assombradas", assim como o subgênero terror psicológico.

A Srta. Giddens (Deborah Kerr) é contratada como governanta de uma grande mansão, e sua mais importante tarefa é cuidar de duas crianças órfãs, Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens). Com o passar do tempo, ela começa a ter estranhas visões e, ao descobrir o que aconteceu com a antiga governanta Srta. Jessel (Cytie Jessop), e o mordomo Peter Quint (Peter Wyngarde) através do que aos poucos conta a cozinheira Sra. Grose (Megs Jenkins), começa a desconfiar que o passado próximo teve grande influencia maligna no comportamento das crianças. Assim, a Srta. Giddens decide tentar encontrar uma maneira de salvar Flora e Miles do mal que os rodeia.

Chocante, perturbador, agoniante são adjetivos que pouco fazem jus ao que realmente significa assistir Os Inocentes, mas são as palavras que mais se aproximam da sensação. O roteiro é um daqueles que evolui do mais adorável ao mais angustiante em pequenas doses. A trilha sonora faz o mesmo, uma música se repete do início ao fim, levando não só a protagonista, mas qualquer um à loucura (imagino que deve ter sido a precursora das suaves melodias cantadas por menininhas tão usadas posteriormente nos filmes de terror). E também a direção e fotografia acompanham esse ritmo, com cenas agradabilíssimas no início e culminando em cenas escuras, claustrofóbicas, desesperadoras e oníricas (o trecho em que a Srta. Giddens caminha pelos corredores escuros da mansão enquanto ouve vozes é maravilhoso).

Pessoalmente, o que me foi mais chocante em todo o filme foi a relação totalmente subversiva que há entre Miles e a Srta. Giddens. Existe algo de lascivo no olhar do menino, em suas palavras. Imagine o menino (que, apesar de ter 13 anos, aparenta uns 10) dizendo para a governanta: "Of course, my darling" ("Claro, minha querida"). Seu rosto não combina com suas palavras e seus olhos, e as reações da governanta ajudam a aumentar o desconforto. Ela se assusta, se incomoda e paralisa. É como se estivesse enfeitiçada, como se não pudesse se mover. Não pude deixar de lembrar da crítica acabando com a pobre Nicole Kidman em Ressurreição e imaginar que ela não fez nada de muito diferente do que fez Deborah Kerr em Os Inocentes.

E agora, gostaria de chamar a atenção para os atores. Pamela Franklin, que é também protagonista de A Casa da Noite Eterna, está muito bem no papel do "anjo disfarçado". Mas Martin Stephens, apesar de ter feito poucos filmes depois desse, está um arraso! O menino é tão perturbador, é tão "adulto" que eu não estranharia se descobrisse que ele ficou com sérios problemas psicológicos depois de ter feito esse filme. Finalmente, Deborah Kerr é simplesmente perfeita. Sua personagem é a que mais muda ao longo do filme, e ela constrói as fases pela qual passa com maestria.

Voltando à evolução do filme, as decisões da Srta. Giddens ao longo dos fatos são visivelmente erradas, mas no início são escolhidas de maneira tão inocente e, apesar de não serem as melhores, parecem quase inofensivas, que nos deixamos levar a um clímax tenebroso quase sem perceber. E o final, imagino que esse deve ter sido um dos primeiros filmes a arriscar um final que não seja reconfortante como gostaríamos que fosse e, acima de tudo, tão ambíguo.

Os Inocentes é um filme fantástico, que não pode cair no esquecimento. Lutarei contra isso! Apesar de ser muitíssimo antigo, e em preto e branco, é atemporal e nunca perderá a qualidade, independente de quando é visto. É um filme obrigatório para os amantes do suspense e do terror.


Imagem em preto e branco. Uma moça loira de cabelo preso em coque (Deborah Kerr) segura pelos ombros uma garotinha branca (Pamela Franklin), ficando as duas frente a frente e se encarando com seriedade.Imagem em preto e branco. Uma moça loira de cabelo preso em coque (Deborah Kerr) segura em um abraço um garotinho branco (Martin Stephens), de costas para ela. Seus rostos estão em close e eles olhas assustados para algo no alto e fora de quadro.


3 comentários:

Anônimo disse...

Este é clássico. Mas confesso: nunca assisti. Por quê? Porque ele não tem em DVD aqui na minha cidade. Mas olha, não sou por fora da históia. conheci Henry James, o autor do livro, quando assisti a Retrado de uma Mulher com Nicole Kidman. Fiquei sabendo que ele tinha escrito um livro de terror fantástico, A Volta do Parafuso e tratei de comprá-lo, sem nem saber se era, realmente, o que esperava. Era. Bom, mais ou menos. O livro é antigo, do final do século XIX, a linguagem é rebuscada e cheia de monólogos (afinal, toda a história é lida por um Douglas do diário da governanta). Agora, nos momentos de terror... a primeira aparição de Quint na janela, ou as aparições de Jessel no lago são de arrepiar mesmo. No filme, sempre imaginei que uma polida no roteiro enxugasse a escrita de James. O livro, inclusive, foi relançado como Lady Barberina: a Outra Volta do Parafuso. Mas o título original é o que citei lá em cima. Mas sei que um dia ainda vou assistir o longa e matar minha curiosidade. Ah, o livro também foi adaptado para a TV em 2006 com o título de In a Dark Place, com a Leelee Sobieski no papel da governanta.

tha disse...

Obrigada por me ajudar com a tradução correta e original do livro, eu procurei bastante e só tinha encontrado a "errada". Vou corrigir no texto.

E nem sabia dessa versão para tv. Será q é boa?

Anônimo disse...

Realmante... o livro é excelente, mas ainda não tive a oportunidade de conhecer o filme. A história muito envolvedora, os personagens fantásticos. E as crianças sendo maquiavélicas, usando do sinismo até o calculismo!

Fantástico.