23.12.10

Boas Festas!

Desde que retomei o Pipoca no Edredon, fiquei insatisfeita com inúmeras resenhas minhas, principalmente as primeiras. Acho que o tempo que fiquei de molho me deixou um pouco travada, mas acredito que aos poucos estou conseguindo reaver algo de alguma habilidade. Também tem um fator que parece ser determinante: eu sempre acho que o texto ficou mais bem desenvolvido quando a classificação do filme é suspense ou terror.

De qualque maneira, como o que se espera de qualquer pessoa, estou indo aproveitar os feriados de fim de ano. Que são os melhores, ao meu ver. E para o próximo ano, espero conseguir caprichar mais nas resenhas e postar sempre algo que satisfaça quem se dispuser a ler.

Então, desejo a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!
Porque nem tudo o que é clichê é ruim!

Até breve!

19.12.10

Grindhouse





2007
Terror
, Ação



 


O termo 'grindhouse' vem de como se chamavam os cinemas dos anos 70 onde eram passadas sessões duplas de filmes de terror trash - ou, usando um termo mais técnico, filmes de "exploitation". O projeto Grindhouse, é assinado por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, com a colaboração de outros diretores familiarizados com a temática abordada, e que tem por finalidade homenagear aqueles filmes B que passavam nas tais sessões.

Grindhouse foi ao cinema americano levando os dois "curtas", Planeta Terror e À Prova de Morte (que acabaram ficando com 80 e 90 minutos respectivamente), e cinco trailers falsos. Os trailers são: Machete, de Robert Rodrigues (tendo este se tornado um filme de verdade lançado posteriormente); Werewolf Women of the SS, de Rob Zombie; Don't, de Edgar Wright; e Thanksgiving, de Eli Roth. Aliás, esses trailer são um show à parte! A vontade de assistir Don't e Thanksgiving é algo que me deixa triste até agora por serem filmes inexistentes.

A experiência de assistir os filmes juntos, da maneira como foram lançados no cinema, é algo indescritível. É como se tivessemos sido transportados a um túnel do tempo e caíssemos nos anos 70, desde a narração e das mensagens avisando que o filme está prestes a começar (mas fica também o aviso de que "um dos rolos dos filmes pode apresentar defeitos durante a sessão"), passando pela qualidade visual antiquada, pelos trailers e culminando nos próprios filmes. A trilha-sonora, em ambos os filmes, é simplesmente perfeita e nos enterra ainda mais fundo nessa viagem ao passado. Qualquer pessoa que tenha em seu repertório filmes como Encurralad
o, A Coisa, A Hora do Pesadelo, A Morte Pede Carona, ou qualquer filme de zumbi dos anos 70 e 80 - quer tenha gostado ou não desses filmes - provavelmente vai se deleitar com Grindhouse.




Planet Terror (Planeta Terror)
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Robert Rodriguez


 
Um estranho gás venenoso que vazou de uma base militar começa a contaminar os moradores de uma pequena cidade do Texas, transformando seus moradores em algo próximo a zumbis que se alimentam de carne humana. Cherry Darling (Rose McGowan), El Wray (Freddy Rodríguez) e a Dra. Dakota Block (Marley Shelton) fazem parte de um grupo de sobreviventes que precisam enfrentar esses monstros para conseguir fugir de suas garras sanguinárias.

Contando com Bruce Willys no elenco, além de Josh Brolin, Rose McGowan, Stacy Ferguson - ou Fergie -, Naveen Andrews - mais conhecido como o Sayid de Lost -, Marley Shelton e até mesmo Quentin Tarantino, Planeta Terror já nos empolga a cada ator (ou não) que a gente vai reconhecendo na tela. E a partir daí é só alegria!

Como uma homenagem no melhor estilo 'paródia', o filme é um belo amontoado de clichês. Porém, estes são tão bem explorados que, somados a um roteiro que dá uma banana para a lógica ou para qualquer senso de possibilidade, fazem com que o espectador se deleite com o espetáculo, adrenalina e diversão pura. Até porque, além de ser simplesmente legal, Planeta Terror nos deixa com aquela sensação saudosista de quando eramos apenas uma molecada que adorava assistir filmes como A Noite dos Mortos Vivos.

Uma característica importante é que Planeta Terror possui personagens demais, fazendo com que demoremos a descobrir quem são os protagonistas, e esse personagens 'secundários' ainda criam suas próprias tramas paralelas. Porém, mesmo que isso possa inicialmente ser tido como defeito, essa característica é o que diferencia Planeta Terror de qualquer outro filme do gênero - apesar de à primeira vista ele nos passar a impressão de não ter absolutamente nada de original. Esse amontoado de personagens quase esdrúxulos, com suas particularidades e esquisitisses e que possuem problemas que vão além da existência de zumbis comedores de carne. É isso que ajuda a somar mais confusão ao roteiro que já está beirando o limite do aceitável.

Não, ele extrapola esse limite. E quando isso fica já claro logo nas primeiras cenas, a gente não se importa mais em procurar que as coisas sejam críveis. Então, lá pelas cenas finais do filme, com McGowan voando em sua verdadeira apoteóse, a pergunta "mas como ela fez isso?" é descartada da nossa mente antes mesmo de se formar por completo; afinal, como ela fez isso, diante de tudo o que já aconteceu nesse filme, é o de menos. E, mais uma vez, uma gargalhada alta reverbera na sala, após tantas outras anteriores. Pois Planeta Terror é diversão na forma mais crua e explícita.


Death Proof (À Prova de Morte)
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro:
Quentin Tarantino


Stuntman Mike (Kurt Russel) é um ex-dublê de antigos filmes de ação . Depois de ver sua carreira finda, ele encontra um bom passatempo: perseguir garotas em seu carro 'à prova de morte'.

Em À Prova de Morte, temos dois novos nomes conhecidos no elenco: o já citado Kurt Russel e Rosario Dawson. Além destes, reaparecem aqui Quentin Tarantino e Rose McGowan em novos papéis, e Marley Shelton novamente como a Dra. Dakota Block de Planeta Terror. E uma curiosidade: uma atriz e dublê chamada Zoe Bell faz o papel de si mesma (a loirinha sobre o capô do carro na foto acima). Destaque para Russel, em uma performance extraordinária nesse papel maravilhosamente ambíguo - as aparições já no final do filme são absolutamente todas deliciosas.

Bastante diferente do filme de Rodriguez, que bebe exageradamente das fontes do cinema gore, Quentin Tarantino aposta num filme de perseguição e velocidade, num misto de Encurralado com A Morte Pede Carona. Aqui o sangue é muito mais moderado, mas a ação suplanta esse quesito sem deixar nada a desejar.

É verdade que o início do filme pode parecer bastante enfadonho (e, para muitos realmente o é), com uma longuíssima sequencia de diálogos entre quatro das mocinhas visadas por Mike. Porém, apesar de cansativa e quase excessiva, a sequencia é extremamente importante para coroar o que vem a seguir. A importancia não está exatamente no que é dito pelas personagens, mas no modo como a situação evolui para criar uma expectativa e uma pré-concepção do restante do filme (que será totalmente dizimada pelo talentoso diretor). Além disso, essa primeira metade do filme também serve de um contraponto com a segunda em um outro sentido: os dois tipos de mulheres apresentados no filme, somados ao tratamento técnico diferenciado que Tarantino dá às duas partes, pode estar representando as diferenças entre a mulher de ontem (época que o filme quer homenagear) e de hoje*.

Apesar das grandes diferenças entre os dois filmes, assim como Rodriguez, Tarantino não deixa de lado o bom humor que fica evidente no momento em que o 'possante' à prova de morte entra em ação pela primeira vez. Para completar, a cena que parte o filme em dois é impecável - e o diretor sabe isso tão bem que esta é apresentada mais de uma vez, mostrando os diversos ângulos possíveis para a sua melhor apreciação. Após essa cena, o espectador é facilmente levado a crer que já viu tudo o que À Prova de Morte tinha para oferecer. Alguns podem até mesmo querer parar o filme, ou adiantá-lo. Mas não faça isso, pois o melhor ainda está por vir. Porque é aí que Tarantino mostra toda a sua genialidade: quando estamos convencidos de que já conhecemos o filme como um todo, ele nos surpreende com algo muito melhor do que poderíamos imaginar. Aguente mais alguns minutos de diálogo (acredite, isso não será a tortura que se imagina) para que você se veja obrigado a se endireitar na poltrona, pois não vai querer perder nem um segundo do que está passando na tela.




* Essa sagacidade sobre as mulheres atuais versus do passado não é minha. A teoria vem de Leo Name, em um comentário deixado no blog Filmes do Chico.

12.12.10

A Mulher Invisível





2009
Comédia
, Romance
Direção: Cláudio Torres
Roteiro: Cláudio Torres,
Cláudio Paiva, Adriana Falcão
e Maria Luísa Mendonça




Aproveitando o momento Selton Mello, vamos a mais um dele. Afinal, nunca é demais.

Pedro (Selton Mello) foi abandonado pela esposa que amava. Sem conseguir lidar bem com a situação, criou em sua mente Amanda (Luana Piovani), a mulher perfeita, sem saber que ela não passava de fruto de sua imaginação.


Não há muito o que se dizer sobre A Mulher Invisível. É uma comédia e faz rir. Bastante. Por mim eu só escreveria isso, mas vou destrinchar um pouquinho minha opinião. Só vou pular a parte em que eu deveria tecer uma lista enorme de elogios ao Selton Mello porque... né? É chover no molhado.

O enredo é simples e cinematograficamente é tudo muito convencional. Nada de inovador, nada de surpreendente. Final previsível, dentro dos conformes. Porém as situações são muito bem exploradas de modo a retirar risos altos diversas vezes. E é para isso que serve uma comédia.

Os atores estão muito bem em seus papéis, mesmo levando em consideração que a maioria revisita papéis aos quais já estão mais do que acostumados. Não importa, estamos aqui para ver o Selton Mello se esfregando com o ar mesmo... E ele, pela milionésima vez, carrega o filme sem nenhuma dificuldade (ainda mais se tratando de uma comédia). A Luana Piovani poderia ser até de fato invisível. Capaz de que pouca diferença faria, porque as melhores cenas são aquelas em que Selton interage consigo mesmo. Ok, ok. Exagerei, pois Vladimir Brichta e Maria Manoella fazem um ótimo trabalho e tem papéis realmente importantes na história - sem falar na ponta da Fernanda Torres que já serve pra tirar gargalhadas nas poucas cenas em que aparece.

(Opa. Não consegui pular o Selton. Acho que não é só político que quebra promessa...)

Bem, o fato é que A Mulher Invisível é uma ótima comédia, que prende a atenção do início ao fim. Tem um final que agradará os fãs do romance e tem um enredo que agradará os que apenas querem rir bastante.

5.12.10

Meu Nome Não é Johnny




2008
Drama

Direção: Mauro Lima
Roteiro: Guilherme Fiúza,
Mariza Leão e Mauro Lima





Nunca foi tão difícil assistir um filme. Não pelo filme, mas por fatores externos. Cinema me está vetado, tentei locá-lo inúmeras vezes na época de lançamento e nada. Desisti e só assisti porque minha tia apareceu com ele outro dia. E o pior é que eu já nem estava mais no pique, nem queria mais... Ainda bem que não fui por mim.

O filme é baseado na história real da vida de João Guilherme Estrella (Selton Mello), um rapaz de classe média que conheceu as drogas muito cedo. Tendo crescido em uma família desestabilizada, acabou se envolvendo diretamente com tráfico e foi preso em flagrante.

Eu esperava algo diferente. Esperava mais degradação. Esperava um personagem mais anti-herói. Esperava não me afeiçoar a João. Mas o que vi foi um garotinho que caiu de para-quedas num mundo que ele não compreendia. Num mundo sedutor e fácil. Ele sabia que era errado, mas não sabia o quanto. Ele sabia que era perigoso, mas não sabia que pessoas que ele amava corriam tanto risco quanto ele. Ele achava que o mundo era dele e que o que ele fazia não era algo tão ruim assim. Afinal, usa droga quem quer. E se não fosse ele a vender, outra pessoa o faria, não é mesmo?

Pois é. Meu Nome Não é Johnny conta a história de um rapaz que não teve orientação nenhuma. Seu pai era um derrotado - não queria enfrentar sua doença e deu as costas para a vida. Sua mãe, revoltada com o marido, simplesmente o abandonou, deixando para trás também seu filho adolescente. João ficou assim, órfão de pais vivos, morando praticamente sozinho em uma casa grande e bonita, onde ele podia dar festas para os amigos e vender a droga que ele tinha. Ele suprimia a falta de família com a presença constante dos amigos - e clientes.

João era um jovem alegre, cativante, simpático e inconsequente. É difícil não gostar de João. Ou de Selton Mello? O personagem foi tão bem representado (e apresentado) que a gente perdoa seus erros, mesmo não se conformando com nenhum deles. O resto do elenco é resto. Cleo Pires, com o segundo personagem de maior destaque, está bem em seu papel, mas é só pano de fundo para a história de João. Selton Mello, pra variar, brilha e ofusca.

Só que eu não posso dar o crédito pelo personagem somente ao Senton Mello. Um detalhe que ajudou demais na criação da empatia entre espectador e personagem foi a inserção de vídeos caseiros mostrando a infãncia de João em alguns pontos do início e do final do filme. É um menininho fofo, peralta, sapeca, simpático, risonho, delicioso. E aí que a gente está vendo esse menininho inserido exatamente no meio do trecho mais difícil da vida de João. E aí que a gente chora litros. Eu, pelo menos, como mãe de um menininho fofo, chorei bastante.

Já que estamos falando em personagens, eu preciso falar mais sobre a mãe de João (Júlia Lemmertz). Apesar de uma parca aparição ao longo do filme, a falha figura materna acabou se tornando o bode espiatório para toda a trama. Fica claro que a mãe do rapaz não tinha a menor preocupação em saber de onde seu filho tirava tanto dinheiro e, mesmo tendo literalmente o abandonado quando ele mais precisava dela, tenta posar de super mãe indignada. Assim, para quem ficou com um pé atrás com o fato de o filme 'perdoar' todos os erros de um marmanjo irresponsável, a figura da mãe ausente se encaixa perfeitamente como uma ótima desculpa para explicar essa questão.

Entretanto, ainda fica a dúvida: João poderia ser isento de seus 'pecados' com a simples justificativa de ter uma orientação falha? Apesar de o filme ter vendido que sim, eu não concordo muito. Mas deve-se louvar o fato de o filme ter conseguido construir um personagem que cativa sem precisar esconder seus malfeitos. Talvez não seja uma história comprada por todos; eu comprei. Eu sei que é contraditório, pois eu tenho conciência de que fui comprada, mas me vendi assim mesmo. Ponto para Mauro Lima.


Contudo, tirando esse grande mérito com relação à construção do personagem, Meu Nome Não É Johnny não traz mais outras grandes qualidades. É um filme muito bom e bem feito, porém um pouco superestimado.