25.9.19

Midsommar (Midsommar: O Mal Não Espera a Noite)







2019
Terror
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster







Enquanto tenta se recuperar de um trauma, Dani (Florence Pugh) viaja com seu namorado Christian (Jack Reynor) e seus três colegas Josh (William Jackson Harper), Mark (Will Poulter) e Pelle (Vilhelm Blomgrem) até o belíssimo vilarejo onde este último cresceu, na Suécia. Lá, participarão de festejos tradicionais que aos poucos passarão a se mostrar cada vez mais estranhos.

Tenho matutado sobre esse filme desde que eu saí do cinema, tentando descobrir o que de fato penso dele. Uma coisa era certa: eu estava gostando até um pouco mais da metade. Então, parece que eu enjoei. Mas o que de fato aconteceu para me deixar tão dividida?

Vou unir duas coisas: é um filme desnecessariamente longo e extremamente excessivo. Acredito que faltou uma edição mais rigorosa, no sentido de diminuir algumas sequências e cortar cenas gratuitamente chocantes. Somado a isso, parece que também faltou alguém falar no ouvido do Ari Aster "amigo, você não precisa colocar todas as suas ideias no mesmo filme só porque elas são legais ou bonitas". Há muita informação em tela. Muita mesmo. E eu entendo que isso esteja até de acordo com a proposta do filme, mas atinge-se o ponto de ser cansativo. Um pouco mais dosado que fosse, já resolveria o problema.

Apesar dos excessos, ele é indiscutivelmente um filme visualmente arrebatador. De um horror claro, colorido, vistoso e pulsante, que em diversos momentos dialoga com O Homem de Palha, de 1973 (se bem que o tom exagerado de Nicolas Cage na refilmagem O Sacrifício, de 2006, casa bem também). Midsommar é bonito e isso não se pode negar.

Além disso, as atuações são, da mesma forma, inegavelmente muito boas. O filme depende muito do desempenho de Florence Pugh e ela não desaponta. Só tive algum problema em desvincular o personagem do William Jackson Harper do Chidi, da série The Good Place - não por uma má interpretação, mas devido ao fato de os personagens terem certa semelhança entre si e ao fato de eu amar o Chidi (hahaha).

Acho interessante como, ao se analisar o processo pelo qual os personagens vão passando, é possível se pensar no modo como pessoas podem ser cooptadas por uma ideia, por mais absurda que ela seja. Vê-se ao longo da história do mundo, gente com instrução, conhecimento, boas intenções, mas que acaba se envolvendo em uma rede ideológica ou religiosa de forma extrema e cega, muitas vezes por estar passando por um momento de vulnerabilidade. Nesse sentido, faço um paralelo com Vestígios do Dia, de 1993, cujo pano de fundo apresenta um lorde inglês muito respeitado, um homem que poder-se-ia facilmente considerar bom, mas que, ao se envolver com os dramas da Alemanha pós primeira guerra, chega ao ponto de se colocar como defensor de Hitler, inclusive em seu tratamento aos judeus.

SPOILER:
É mais ou menos como eu vejo a trajetória de Dani, uma garota fragilizada pelo trauma familiar recente, que vai se envolvendo aos poucos com algo insidioso. Pois vemos que as tradições do vilarejo desumanizam qualquer pessoa que vem "de fora" e que não esteja de acordo com os padrões desejados por eles. Mesmo dentro de seu núcleo, a falta de apego que inicialmente pode ser tida como vinda de mentes evoluídas, indica, na verdade, algo como uma psicopatia coletiva. E, nesse sentido, seria possível justificar a morte de parte dos personagens dentro da ideia da supremacia racial que se evoca.


No entanto, eu ainda tenho muitas ressalvas com relação aos desfechos que Ari Aster dá a seus personagens não brancos. Porque me soa como a repetição de um padrão altamente indesejável dentro dos filmes de terror, um padrão o qual se vem reivindicando há alguns anos que seja quebrado.

Em contrapartida, uma sequência que gerou muito incômodo e diversas críticas, já próxima ao final do filme, me causou também incômodo, mas no sentido positivo quando se pensa nos objetivos de um filme de terror. É um momento tenso, desconfortável e que causa tamanho estranhamento que pode até nos levar ao riso.

Penso que filmes viscerais desse tipo acabam dependendo muito da subjetividade de cada um. Uma mesma cena pode despertar repulsa, assombro, desdém ou entusiasmo a depender de quem (ou em que momento) a está assistindo. Para se ter uma ideia, na sessão quase vazia em que estive, um senhor riu diversas vezes durante a sequência que mencionei logo acima, mas, ao término do filme, um rapaz atrás dele se levantou e aplaudiu sozinho, com exclamações de que "isso é que é cinema!".

Em suma, Midsommar chegou ao cinema não só para me deixar dividida, mas para dividir muitas opiniões. Racionalmente, posso dizer que ele é visualmente belo, instigante e criativo, porém, longo demais, cansativo e com desagrados na edição e no roteiro. Contudo, em grande parte, o que vai levar as pessoas a amarem-no ou odiarem-no, não poderá ser explicado racionalmente.

...

Atualização:

Sobre a questão racial que eu comentei no meu texto, indico este outro, escrito por alguém com muito mais propriedade do que eu: How Midsommar Utilizes and Subverts Horror Movie Tropes of People of Color.

O texto está em inglês, foi escrito por Mary Kay McBrayer e, depois de lê-lo, passei a gostar um pouco mais do filme. Recomendo muito essa leitura!

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