7.3.10

No Country for Old Men (Onde os Fracos não Têm Vez)




2007
Suspense
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen





Não é fácil. Depois de um tempo sem escrever sobre filmes, me sinto um pouco enferrujada. E ainda escolho escrever sobre um filme que eu não assisti há tão pouco tempo quanto eu gostaria. Mas, a bem da verdade, não há nenhum filme que eu tenha assistido há tão pouco tempo quanto eu gostaria. Por isso, dessa vez, vou direto ao assunto.

Llewelyn Moss (Josh Brolin) está caçando numa área rural do Texas quando descobre um cenário inusitado: vários homens assassinados espalhados entre carros abandonados. A cena demonstrava o que parecia ter sido uma negociação de venda de drogas que não havia sido bem-sucedida. Após encontrar uma mala contendo 2 milhões de dólares, Moss decide não contar nada à policia e ficar com o dinheiro. Porém, um matador psicopata, Anton Chigurh (Javier Bardem), parte em seu encalço para conseguir reaver o dinheiro. Moss tem poucas chances de escapar vivo, e uma delas está nas mãos do Xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), que tenta desvendar o caso.

Quando eu penso em um filme de suspense, eu penso em muita coisa, mas eu não penso exatamente em Onde os Fracos não Têm Vez. Não que não haja suspense nesse filme, pois há e bastante. Mas ele não é um filme igual aos outros. Não é muito fácil de se explicar isso, pois na verdade ele também não é daqueles filmes que têm cara de vanguarda, todo cheio de inovações técnicas. O roteiro também não é dos mais anormais, tampouco a história em si. No entanto, quando penso em Onde os Fracos não Têm Vez, eu sei que ele é simplesmente diferente dos outros. E aí, eu me pergunto: a que se deve isso?

Acho que a resposta mais exata seria: se deve à direção. Os irmãos Coen já possuem em seu passado filmes que possuem esse mesmo ar diferenciado – porém, talvez nesses filmes anteriores isso seja um pouco mais evidente. O que acontece é que, acredito eu, a direção de Onde os Fracos não Têm Vez conseguiu colocar um toque peculiar muito sutil no roteiro e nos personagens, principalmente em Anton Chigurh.

O psicótico matador possui umas tantas características que o fazem se tornar um tanto irreal e, ao mesmo tempo, real até demais. É um personagem extremamente complexo, com um sem número de manias e uma enorme frieza. Ele é bastante tridimensional, tão esquisito que é fácil acreditar que é muito possível de se existir alguém assim – tem tanta gente estranha no mundo, não é mesmo? Porém, também são essas características, somadas a um roteiro que o transforma no homem mais temível e invencível que já se viu, que o faz, de certa forma, um homem mistificado. Não são apenas seus atos que o colocam em evidência, mas o modo como ele é visto pelos outros personagens. O nome chega antes do homem, o homem se torna uma lenda. Para interpretar um personagem como esse, não é à-toa que Javier Bardem tenha ganhado o Oscar. Mais do que merecidamente. Até agora ele me dá calafrios.

Em contrapartida, Llewelyn Moss é o que poderia se chamar homem comum. Ele não é um exímio atirador, como se prova logo no início do filme; não é um homem maldoso, violento, vagabundo; mas não é também o mais cheio de princípios. Só que o modo como ele consegue manter-se vivo, sendo perseguido por um matador do calibre de Anton, é, mesmo que verossímil, inacreditável.

E enquanto o ‘pega pra capá’ corre solto entre o mocinho e o bandido, temos, por outro lado, o Xerife Ed Tom Bell. O xerife passa uma sensação de segurança, mas é pacato. Homem da razão, menos do que da ação. Ed Tom Bell pensa, raciocina, segue pistas e tenta compreender e proteger. Quando ele aparece na tela, você sabe que poderá respirar novamente por alguns segundos. Tommy Lee Jones cai como uma luva no papel, apesar da sensação de ‘já te vi’ que algumas vezes ele nos proporciona.

A câmera é usada sem muitas delongas. Mostra tudo o que acontece, mas consegue manter uma certa distância dos personagens, sem muito drama ou blábláblá. Com exceção do final. Na minha casa, chegamos a parar o filme e voltar a cena, na tentativa de ver direito o que tinha acontecido. Não ajudou muito, mas também o mistério não é tão grande quanto parece. O final é anti-climático, mas é mais interessante do que se não o fosse. Porém,o recurso de se abafar a visão durante a cena ‘mais importante’ pode parecer inteligente à princípio, mas não me parece ter sido tão eficaz quanto os irmãos Coen poderiam ter desejado. Não vemos, mas deduzimos, até com certa facilidade, o que pode ter acontecido.

Onde os Fracos não Têm Vez é um filme ótimo, diferente do cinema-pipoca de sempre e que prende a atenção do início ao fim, mas ele é menos perfeito do que foi pintado. Isso não tira seus méritos, apesar de ser o que muitos já tentaram alegar. Um filme que não é perfeito? Sim, mas um filme ótimo.

3 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Este é um filme que ainda não entendo pra que veio...

abraço!

Anônimo disse...

Bom filme.

Apesar da violência.

Beijão!

M.A.B.

tha disse...

Cristiano, não sei se concordo com sua colocação - apesar de eu mesma já tê-la usado algumas vezes. Mas ultimamente tenho tentado não exigir dos filmes algum objetivo além do entretenimento. Nesse caso, acredito que o objetivo se cumpriu, pois muita gente gostou do filme.

Lembrando, claro, que se além do entretenimento, o filme vier recheado com algo a mais (seja visualmente, intelectualmente, ou o que for), tanto melhor!

MAB, concordo! ^^

bjs!