3.10.19

Blood Bath / The Velvet Vampire

No início dos anos 1960, Stephanie Rothman foi a primeira mulher a receber um prêmio dado anualmente a estudantes de cinema pelo Sindicado dos Diretores da América, o que a levou a ser convidada em 1964 pelo diretor Roger Corman para ser sua assistente. Foi um trabalho que lhe trouxe bastante experiência, tendo sido incentivada por Corman para que pudesse deslanchar em sua carreira.

Ficou mais conhecida por seus filmes de cinema sexualmente apelativo, como The Student Nurses (1970) e Terminal Island (1973), com os quais explorou também questões sócio-políticas e sua visão feminista. Contudo, ela posteriormente viria a afirmar que trabalhar com esse tipo de cinema não era algo que a deixava feliz, mas eram os filmes que lhes eram oferecidos e com os quais ela pôde se manter na ativa (ainda que, infelizmente, por poucos anos).

O meu foco aqui, no entanto, será sobre os dois filmes de terror que ela dirigiu:



Blood Bath

1966
Terror
Direção: Stephanie Rothman e Jack Hill
Roteiro: Stephanie Rothman e Jack Hill




Antônio Sordi (William Campbell) é um artista atormentado por um antepassado que toma conta de seu corpo, transformando-o em um vampiro. Se apaixona por Dorean (Lori Saunders) e tenta protege-la de sua persona monstruosa, enquanto é perseguido pelo marido (Karl Schanzer) e pela irmã (Sandra Knight) de uma de suas vítimas (Marissa Mathes).

Rodado ainda sob a tutela de Roger Corman e com uma pesada mão influente do diretor, além de ter incorporado 9 minutos de cenas retiradas de outro filme (que não foi lançado, mas originou também Portrait in Terror, de 1965),  Blood Bath acabou se tornando praticamente uma colcha de retalhos. Contribuiu para esse resultado, também, o fato de que Hill e Rothman assumiram a produção em momentos diferentes e acabaram por se dedicar, cada um, a partes específicas da obra: ele filmou as cenas mais boêmias e com William Campbell, enquanto ela se responsabilizou pelas sequências vampirescas.

Aliás, o roteiro foi inicialmente escrito por Jack Hill já pensando em aproveitar as cenas de Portrait in Terror, e posteriormente foi alterado por Stephanie Rothman, responsável por acrescentar o vampiro à história. Há um artigo bastante interessante na Wikipédia (em inglês), o qual explica o desenvolvimento da produção do filme até chegar a seu produto final - wiki: Blood Bath.

Trata-se de um filme muito irregular, com cenas galhofa ridículas e outras com uma fotografia linda e/ou de uma sensibilidade impressionante. Em determinados momentos, a sensação de que existe uma mão feminina comandando é muito forte, como por exemplo, na cena do vampiro lutando com a moça na piscina. Além disso, o modo como algumas mulheres são autossuficientes é algo que se destaca dentre os filmes de terror daquela época.

Por fim, queria apontar a presença do então jovem Sid Haig, falecido recentemente, que interpreta o árabe Abdul nesse filme. Sid, anos depois, iria ficar mais conhecido por seu bizarro Capitão Spaulding em A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados Pelo Diabo.


Imagem
The Velvet Vampire

1971
Terror
Direção: Stephanie Rothman
Roteiro: Stephanie Rothman, Charles S. Swartz e Maurice Jules.



Susan (Sherry E. DeBoer) e seu marido Lee Ritter (Michael Blodgett) são convidados pela bela e misteriosa Diane LeFanu (Celeste Yarnall) a visitá-la em sua longínqua casa. O casal prontamente aceita, sem desconfiar de sua natureza monstruosa.

Diferente da maioria dos filmes de vampiro lançados até então, Rothman inverte os papéis comuns de gênero, colocando o vampiro como uma mulher e a vítima como um homem. Assim, apesar de algumas situações questionáveis, reafirmando vários problemas inerentes à época em que foi filmado, o roteiro traz frescor ao tema. O desenvolvimento da personagem Susan, por exemplo, parece irregular em alguns momentos, mas traz ótimas sequências e diálogos quando ela decide reverter sua própria condição dentro do triângulo amoroso que desponta desde o início da trama.

O tratamento diferenciado ao feminino que se vê na tela é resultado de uma direção segura e respeitosa. Demonstrando imensa delicadeza para com seu elenco, Rothman fechava o set para gravar as cenas de nudez e sexo, deixando no local apenas os atores e o câmera, motivo pelo qual ela foi elogiada por Celeste Yarnall.

Visualmente, The Velvet Vampire é belíssimo, o que costuma ecoar muito bem em mim. As sequências oníricas parecem ter sido desenvolvidas de algo presente já em Blood Bath e são bastante interessantes. Mesmo com seus equívocos, é um filme que me agrada e que se mantém vivo no meu imaginário desde que o assisti pela primeira vez, há um ano.

The Velvet Vampire não obteve sucesso comercial quando foi lançado, mas parece ter sido redescoberto nos últimos anos, recebendo a atenção merecida. Hoje nota-se sua influência em diretoras que se aventuram pelo gênero terror, sendo, por exemplo, visivelmente uma das inspirações de Anna Biller em The Love Witch, com todo o seu esplendor setentista.

25.9.19

Midsommar (Midsommar: O Mal Não Espera a Noite)







2019
Terror
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster







Enquanto tenta se recuperar de um trauma, Dani (Florence Pugh) viaja com seu namorado Christian (Jack Reynor) e seus três colegas Josh (William Jackson Harper), Mark (Will Poulter) e Pelle (Vilhelm Blomgrem) até o belíssimo vilarejo onde este último cresceu, na Suécia. Lá, participarão de festejos tradicionais que aos poucos passarão a se mostrar cada vez mais estranhos.

Tenho matutado sobre esse filme desde que eu saí do cinema, tentando descobrir o que de fato penso dele. Uma coisa era certa: eu estava gostando até um pouco mais da metade. Então, parece que eu enjoei. Mas o que de fato aconteceu para me deixar tão dividida?

Vou unir duas coisas: é um filme desnecessariamente longo e extremamente excessivo. Acredito que faltou uma edição mais rigorosa, no sentido de diminuir algumas sequências e cortar cenas gratuitamente chocantes. Somado a isso, parece que também faltou alguém falar no ouvido do Ari Aster "amigo, você não precisa colocar todas as suas ideias no mesmo filme só porque elas são legais ou bonitas". Há muita informação em tela. Muita mesmo. E eu entendo que isso esteja até de acordo com a proposta do filme, mas atinge-se o ponto de ser cansativo. Um pouco mais dosado que fosse, já resolveria o problema.

Apesar dos excessos, ele é indiscutivelmente um filme visualmente arrebatador. De um horror claro, colorido, vistoso e pulsante, que em diversos momentos dialoga com O Homem de Palha, de 1973 (se bem que o tom exagerado de Nicolas Cage na refilmagem O Sacrifício, de 2006, casa bem também). Midsommar é bonito e isso não se pode negar.

Além disso, as atuações são, da mesma forma, inegavelmente muito boas. O filme depende muito do desempenho de Florence Pugh e ela não desaponta. Só tive algum problema em desvincular o personagem do William Jackson Harper do Chidi, da série The Good Place - não por uma má interpretação, mas devido ao fato de os personagens terem certa semelhança entre si e ao fato de eu amar o Chidi (hahaha).

Acho interessante como, ao se analisar o processo pelo qual os personagens vão passando, é possível se pensar no modo como pessoas podem ser cooptadas por uma ideia, por mais absurda que ela seja. Vê-se ao longo da história do mundo, gente com instrução, conhecimento, boas intenções, mas que acaba se envolvendo em uma rede ideológica ou religiosa de forma extrema e cega, muitas vezes por estar passando por um momento de vulnerabilidade. Nesse sentido, faço um paralelo com Vestígios do Dia, de 1993, cujo pano de fundo apresenta um lorde inglês muito respeitado, um homem que poder-se-ia facilmente considerar bom, mas que, ao se envolver com os dramas da Alemanha pós primeira guerra, chega ao ponto de se colocar como defensor de Hitler, inclusive em seu tratamento aos judeus.

SPOILER:
É mais ou menos como eu vejo a trajetória de Dani, uma garota fragilizada pelo trauma familiar recente, que vai se envolvendo aos poucos com algo insidioso. Pois vemos que as tradições do vilarejo desumanizam qualquer pessoa que vem "de fora" e que não esteja de acordo com os padrões desejados por eles. Mesmo dentro de seu núcleo, a falta de apego que inicialmente pode ser tida como vinda de mentes evoluídas, indica, na verdade, algo como uma psicopatia coletiva. E, nesse sentido, seria possível justificar a morte de parte dos personagens dentro da ideia da supremacia racial que se evoca.


No entanto, eu ainda tenho muitas ressalvas com relação aos desfechos que Ari Aster dá a seus personagens não brancos. Porque me soa como a repetição de um padrão altamente indesejável dentro dos filmes de terror, um padrão o qual se vem reivindicando há alguns anos que seja quebrado.

Em contrapartida, uma sequência que gerou muito incômodo e diversas críticas, já próxima ao final do filme, me causou também incômodo, mas no sentido positivo quando se pensa nos objetivos de um filme de terror. É um momento tenso, desconfortável e que causa tamanho estranhamento que pode até nos levar ao riso.

Penso que filmes viscerais desse tipo acabam dependendo muito da subjetividade de cada um. Uma mesma cena pode despertar repulsa, assombro, desdém ou entusiasmo a depender de quem (ou em que momento) a está assistindo. Para se ter uma ideia, na sessão quase vazia em que estive, um senhor riu diversas vezes durante a sequência que mencionei logo acima, mas, ao término do filme, um rapaz atrás dele se levantou e aplaudiu sozinho, com exclamações de que "isso é que é cinema!".

Em suma, Midsommar chegou ao cinema não só para me deixar dividida, mas para dividir muitas opiniões. Racionalmente, posso dizer que ele é visualmente belo, instigante e criativo, porém, longo demais, cansativo e com desagrados na edição e no roteiro. Contudo, em grande parte, o que vai levar as pessoas a amarem-no ou odiarem-no, não poderá ser explicado racionalmente.

...

Atualização:

Sobre a questão racial que eu comentei no meu texto, indico este outro, escrito por alguém com muito mais propriedade do que eu: How Midsommar Utilizes and Subverts Horror Movie Tropes of People of Color.

O texto está em inglês, foi escrito por Mary Kay McBrayer e, depois de lê-lo, passei a gostar um pouco mais do filme. Recomendo muito essa leitura!

31.8.19

Messiah of Evil (Zumbís do Mal)

Resultado de imagem para messiah of evil
1973
Terror
Direção: Gloria Katz e Willard Huyck
Roteiro:Gloria Katz e Willard Huyck




Arletty (Marianna Hill) viaja até uma cidadezinha litorânea à procura de seu pai, após ficar um tempo sem notícias suas. Chegando em Point Dune, descobre que ele está desaparecido e que há algo insólito acontecendo na cidade.

Gloria Katz foi roteirista e produtora, atuando principalmente na década de 1970 e 1980. Trabalhou com George Lucas no roteiro de Loucuras de Verão (1973), como roteirista em filmes dirigidos pelo seu marido Willard Huyck e como co-roteirista de alguns outros filmes - destes, destaco Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984). Gloria, inclusive, ajudou com seu marido na revisão do roteiro do Star Wars (1977), reescrevendo trechos e acrescentando um pouco mais de humor à obra. Porém, seu único trabalho reconhecidamente na direção foi em Messiah of Evil, também executado em parceria com Huyck.

Uma das coisas que eu gosto nesse filme é a ambientação da casa do pai da protagonista. Como pintor atormentado, ele deixou grandes pinturas parietais espalhadas pelas salas da casa, antes de sumir misteriosamente. Cada uma delas ocupa a parede inteira, onde são usados tons fortes e chapados, representando cenários em perspectiva cheios de personagens em tamanho real. Essas pinturas passam a desconfortável sensação de que o interior da casa está sempre sendo observado, além de criar uma espacialidade irreal, como se os ambientes fossem maiores e mais cheios de cantos obscuros do que realmente são. Dessa forma, a casa acaba por ganhar vida, aparentando estar sempre à espreita.

A cidade, por outro lado, parece despertar ao longo do filme. No início, o estranhamento se dá por conta de algumas personalidades singulares que Arletty encontra em seu caminho. Contudo, fisicamente ela é trivial. Lojas, supermercado, cinema... Arquitetonicamente não há nada de interessante ou assustador. Às vezes parece deserta, mas então nos deparamos com policiais, alguns atendentes, pessoas absolutamente comuns. Não demora, no entanto, para que o ordinário se torne ameaçador. E, antes da metade do filme, a cidade se torna palco de uma sequência angustiante - e essa será apenas a primeira!

Além da questão cenográfica, o que me chamou a atenção foi a mescla de narrações. Temos três narradores diferentes ao longo do filme, sendo Arletty aquela que estrutura toda a trama. Acho que todas funcionam bem, principalmente as duas narrações secundárias, que ajudam a fortalecer o clima de insanidade que a história vai ganhando.

Inclusive, há um movimento que aconteceu algumas vezes e que me agradou muito: algo como um eco das narrações secundárias. Em determinados momentos chave, fragmentos de falas se repetem orquestradamente, evidenciando o processo pelo qual Arletty está passando. Esse recurso foi utilizado de maneira magistral e
m uma das melhores cenas do filme.

Gostaria de salientar também a atuação de Marianna Hill. Só por esse meu texto, é possível notar que a personagem dela não só é a protagonista, mas alguém que realmente movimenta toda a história. Arletty conta, Arletty procura, Arletty se perde. Às vezes parece que Arletty apenas se deixa levar, mas ela está atenta, ela tem seus segredos. E Marianna Hill consegue dar profundidade e nos passar o desespero e a confusão crescentes nos quais Arletty se encontra.

Com relação aos outros papéis, acho interessante o modo como duas personagens que pareciam completamente planas e irrelevantes em seu surgimento, começam a ganhar camadas interessantes mesmo se mantendo como secundárias na narrativa. Gosto ainda do fato de que o mais próximo que temos de um protagonista masculino não chega a roubar a cena, e também não recai na mesmice do paladino salvador - além disso, ele também passa a se tornar um personagem mais cativante conforme cada acontecimento se desenrola.

Por força do destino, tive que rever várias vezes longos trechos de Messiah of Evil, o que acabou me chamando a atenção para muitos desses detalhes que mencionei ao longo do texto. Com isso, o filme foi me despertando cada vez mais interesse, de modo que hoje me vejo recomendando-o efusivamente. Assim, espero viver para vê-lo receber o reconhecimento que merece.

24.8.19

The Haunting of M.





1979
Terror
Direção: Anna Thomas
Roteiro: Anna Thomas






Nos primeiros anos do século XX, Halina (Nini Pitt), uma jovem de família abastada do leste europeu, descobre que a estranha doença de sua irmã mais nova pode ter alguma relação com uma fotografia recém tirada da família. Halina teme que a figura misteriosa registrada pela fotografia pode estar atormentado Marianna (Sheelagh Gilbey) e provocando sua aflição.

The Haunting of M. foi filmado em um castelo escocês com um baixíssimo orçamento e elenco desconhecido que, lamentavelmente, entrega uma atuação bastante fraca. Porém, apesar de a produção barata acabar por ficar evidente, há uma qualidade inegável na ambientação da época em que a história se passa.

Anna Thomas produziu e roteirizou alguns filmes dirigidos por seu marido, Gregory Nava, mas também foi co-roteirista de Frida(2002). No entanto, The Haunting of M. foi o único filme dirigido por ela e totalmente escrito por ela.

O ritmo do filme é um pouco lento e irregular. Por exemplo, quando o tempo destinado às situações envolvendo a doença de Marianna e às descobertas de Halina sobre a figura misteriosa parece se estender um pouco mais do que o desejado, surge uma bem-vinda festa que quebra com a morosidade iminente, mas que acaba ela mesma se prolongando mais do que o necessário.

Além disso, o terror presente é muito sutil. Trata-se de uma história de fantasma e Anna Thomas opta por mostrá-lo. As cenas em que ele aparece, no entanto, são poucas. A aparição surge como uma figura nas sombras e, por si só, pouco nos amedronta. Por isso, ainda que a trilha sonora me pareça consistente nesses momentos, ela não é suficiente para criar uma atmosfera aterrorizante.

Contudo, gosto muito do modo como a história desenvolve o drama familiar, mostrando pessoas presas a um passado que elas mesmas tentam esconder, e como isso acaba por criar um eco no presente. Me interessa também o fato de que pequenos detalhes desse passado continuam guardados, mesmo quando a história se encerra. Assim, as tensões giram em torno das relações, dos segredos, da preocupação com as aparências.

Dessa forma, talvez alguém que busque por um horror gráfico ou movimentado, irá se decepcionar com esse filme. Em contrapartida, quem está aberto para um terror mais insinuante, quase delicado, poderá até mesmo se fascinar com ele.

Infelizmente, não é fácil encontrar The Haunting of M. para assistir e eu acabei sendo obrigada a me contentar com uma versão de baixa qualidade. Também infelizmente, Anna Thomas nunca mais se aventurou sozinha pelo gênero, pois fico curiosa para saber como teria sido sua evolução como diretora e roteirista dentro do terror.

...

Uma curiosidade. Nesse link, podemos ler um comentário (em inglês) da própria Anna Thomas sobre seu filme:
https://bampfa.org/event/haunting-m

27.5.19

Especial Vincent Price - parte 4

Se você chegou até aqui sem ler as outras 3 partes, sugiro que comece pela parte 1, siga para a parte 2, depois a parte 3. Pois hoje é o último dia desta série de textos em homenagem a Vincent Price.

É também uma data muito... especial. Hoje, dia 27 de maio de 2019, é o dia em que ele faria 108 anos caso ainda estivesse vivo!

Tendo em vista esse momento comemorativo, eu havia reservado para o último dia os quatro filmes que eu acreditava serem os meus preferidos. Mantive a ordem inicial para a publicação, mas é interessante pensar que após finalizada a revisitação, minha opinião já não é mais a mesma. Dois desses quatro filmes caíram muito de posição no meu ranking particular, como pode-se ver nessa lista que eu mantenho no Letterboxd.

Enfim, sem mais delongas, vamos aos últimos quatro filmes.


A Orgia da Morte (The Masque of the Red Death)
Gif. Em um baile de máscaras, as pessoas dançam com seus corpos vermelhos de sangue, como se em transe. Em meio a eles, a morte vermelha caminha com Vincent Price, em fantasia negra de árabe, logo atrás. A morte anda com os braços cruzados e seu rosto coberto por uma máscara, olhando fixamente para a frente. Vincent Price a observa, com uma expressão de confusão em seu rosto, sem dar atenção às pessoas em redor.
1964
Terror
Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaumont, R. Wright Campbell e Edgar Allan Poe (conto)

Aqui, diferente de grande parte das histórias estreladas por Vincent Price, afastamo-nos do gótico e aproximamo-nos do medieval. Confesso que tenho a impressão de que toda a ambiência gótica geralmente trazida pelos contos de Edgard Allan Poe combina mais com Vincet Price do que qualquer outra coisa. Talvez por isso, o filme tenha me decepcionado um pouco dessa vez.

Além disso, o Príncipe Próspero é um personagem odioso, brilhantemente interpretado por Vincent Price, que me provocou inquietação com suas falas e ações grosseiras e desumanas. É esse personagem que justifica a ridicularização de um casal de anões, por exemplo. Mas não justifica a escolha de Verina Greenlaw, com menos de 8 anos de idade, para representar Esmeralda, uma bailarina anã adulta. Em compensação, Skip Martin já aparece em um personagem bastante interessante e complexo, que quebra a barreira inicial de uma representação falha.

De qualquer forma, a história é muito boa, várias das atuações são excelentes e o final é belíssimo! Na verdade, quanto mais eu penso nele, mais ele cresce no meu conceito e, apesar de não estar mais dentre os quatro que mais gosto (mais por uma questão temática), sem sombra de dúvida está entre os 10 melhores filmes de Vincent Price.

Obs: Vincent Price vestido de árabe correndo atrás e da morte é algo que beira o cômico e o deprimente.


Gif. Vincent Price com peruca de cabelos grisalhos muito longos e barba tão longa quanto os cabelos, as sobrancelhas mais fartas que o normal. Está quase irreconhecível. Segura em uma das mãos um coração ensanguentado (bem vermelho) e fumegante.As 7 Máscaras da Morte (Theater of Blood)

1973
Terror, Drama, Comédia
Direção: Douglas Hickox
Roteiro: Anthony Greville-Bell, Stanley Manne (ideia), John Kohn William Shakespeare (peças)

Acho que de todos os filmes que eu revi, esse era o que eu tinha menos lembrança (e eu não tinha me dado conta disso até eu efetivamente começar a revê-lo). Eu não fazia ideia nem mesmo que ele se passava nos dias "atuais" (década de 1970).

No início, eu estava gostando e me divertindo. As mortes são criativas e o humor é bem dosado, apesar de algumas piadas já não funcionarem tão bem.

Até que nas últimas três mortes eu tive uma decepção brutal. A antepenúltima, que considero a pior, é extremamente misógina e desnecessária - até porque foge completamente do padrão das outras. A partir daí, eu perdi a boa vontade e parei de relevar as piadas preconceituosas. Eu fico com a impressão de que o filme não cabe mais muito bem nos dias de hoje e que são necessárias muitas concessões para ele continuar funcionando.

As 7 Máscaras da Morte tem uma estrutura que se assemelha muito com O Abominável Dr. Phibes, mas é incomparável o modo como aquele falha em vários aspectos nos quais este é bem sucedido. Lançados com apenas dois anos de diferença, é como se um fosse uma tentativa de surfar no grande sucesso recente do outro.

Obs: confesso que faço sempre uma confusão danada com o nome desse filme e do acima por misturar as traduções com os nomes originais e com as histórias.


O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes)
Gif. Em primeiro plano, parte de um lustre de cristal reluzente. Logo atrás, de perfil, com a pedras brilhantes do lustre recobrindo o seu cabelo, Vincent Price usa uma máscara dourada que se assemelha a uma águia, onde o bico fica sobre o nariz. Podemos ver o bigode grisalho, a boca e as longas suíças.
1971
Terror, Comédia
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (conto)


Aqui está um filme primoroso que nada perdeu em sua revisão. Eu já havia feito um texto sobre ele em 2007 e tenho pouca coisa a acrescentar ou a alterar do que escrevi naquela época.

Por exemplo, hoje eu não sou tão dura com a jovem Virginia North, apesar de achar ainda que ela é um elo fraco dentro do filme. Contudo, há momentos lindíssimos que se devem somente à sua presença em cena.

Mas mantenho meu clamor pela interpretação do Vincent Price. Acredito ser esse um dos filmes em que ele está simplesmente excepcional. Ele consegue passar o tom exato da comédia enquanto faz uma cena dramática, usando apenas um olhar. Eu não me canso de elogiar a interpretação que ele faz enquanto fala sem mexer os lábios. A gente vê isso geralmente como recurso em que o personagem está pensando e costuma ser usado pontualmente - e eu nuca gosto do resultado final. Aqui, no entanto, o resultado é primoroso.

Também faço questão de salientar que Peter Jeffrey é peça fundamental na construção do humor nesse filme. Ele é carismático e engraçado de um jeito muito contido - e muito inglês. Todo o humor do filme é muito bem colocado, é sutil e muito bem equilibrado.



Gif em preto e branco. Vincent Price, de terno, gravata, bigode e sorrindo, diz: "Eu acho que todo mundo imagina o que faria se visse um fantasma". Em segundo plano, Alan Marshal move a cabeça, pensativo.A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill)

1959
Terror, Mistério
Direção: William Castle
Roteiro: Robb White




Talvez esse não seja o melhor filme da carreira de Vincent Price, mas não havia a possibilidade de não ser meu preferido. Principalmente por ter sido aquele que me colocou em maior contato com esse esplêndido ator, fazendo com que eu me aprofundasse em sua filmografia.

É também um dos primeiros filmes cujo mote central gira em torno de um grupo de pessoas que pretende passar uma noite em um suposto prédio mal-assombrado, repetido à exaustão até os dias atuais. Apesar de utilizar de efeitos práticos muito simples e quase infantis, o roteiro constrói muito bem o jogo de poder e a tensão entre os personagens.

Sobre o filme propriamente dito, eu escrevi um texto em 2007. De lá para cá, em geral, minha opinião permanece a mesma. O que posso acrescentar é a minha recomendação veemente para que vocês assistam essa obra em específico. Pessoalmente acredito que ela é a que mais representa quem é o Vincent Price simbolicamente dentro do cinema de horror. Um ator que traz personalidade aos seus papéis, que permite a complexidade de ser carismático mesmo quando personifica um vilão.

Contudo, há algo que eu queria pontuar, sobre a produção desse filme - e que foge um pouco do tema desse especial. Encontrei em alguns sites a menção de que A Casa dos Maus Espíritos havia sido co-dirigido por uma mulher chamada Rosemary Horvath. Intrigada com essa informação, que de início não me pareceu nem um pouco absurda, visto que não é incomum o apagamento de mulheres em diversas áreas do conhecimento, fiz uma extensa pesquisa para descobrir mais sobre o caso. Para a minha surpresa, não encontrei absolutamente nenhuma fonte segura que corroborasse sequer a existência da diretora Rosemary Horvath. No entanto, me deparei com o currículo de uma designer gráfica chamada Rosemary Horvath e, vejam só, esta não dirigiu o filme, mas foi a diretora criativa da colorização de A Casa dos Maus Espíritos, versão lançada em 2005. Percebi que alguns sites de venda do DVD da versão colorida informavam o nome de Rosemary Horvath como diretora (sem especificar que ela era a diretora criativa do trabalho de colorização). Imagino que o problema tenha nascido quando o primeiro site divulgou essa informação, mas não pude descobrir a data exata em que isso ocorreu.

Na Wikipedia, encontrei uma Lista de Filmes de Terror dos anos 1950 e, procurando nas datas das edições feitas nessa lista, descobri que o filme A Casa dos Maus Espíritos havia sido acrescentado com Rosemary Horvath como diretora em 2007. Foi a data mais antiga que pude encontrar que a menciona como co-diretora do filme. Entrei em contato com o autor da edição e ele não soube me dizer a fonte dessa informação, retirando-a, assim, da página. Quando entrei em contato com o IMDb e eles também retiraram os créditos a ela na página do filme. Também entrei em contato com os diversos sites que a mencionam como co-diretora ao lado de William Castle, mas os autores dos artigos me informaram que, de fato, não possuíam uma fonte para a informação e que apenas se basearam no que constava nos sites vizinhos - gerando uma cadeia de divulgação da informação sem a devida checagem de nenhum deles.

Outras referências que usei durante a minha busca pela verdade:
o linkedin da Rosemary Horvath;
- Movie Review: HOUSE ON HAUNTED HILL (1959 + 1999) and The Curse of Colorization!

Enfim, assim termina minha homenagem ao grande ator Vincent Price: com um pequeno trabalho investigativo a respeito da direção de um de seus melhores filmes. E a moral da história é: crianças, não passem a diante informações sobre as quais vocês não tem absolutamente certeza de estarem certas! (Eu inicialmente também fiz isso, e estou me esforçando para corrigir meu erro.)

No mais, meus eternos parabéns a esse homem e ator maravilhoso!

...

Fim.

20.5.19

Especial Vincent Price - parte 3

Já estamos na terceira semana! E, se você não leu os outros textos, pode começar pela parte 1 aqui.

A experiência de fazer esse especial se torna muito interessante quando confronto o que eu lembrava dos filmes, com como eles realmente são. Todo dia eu reorganizo minhas preferências, pois estas precisam ser reajustadas a cada obra revisitada.

Assim, vamos aos próximos quatro filmes!


O Castelo Assombrado (The Haunted Palace) Gif. Vincent Price com um sobretudo grosso estampado de gola vermelha sobre uma camisa branca e gravata vermelha. No rosto um cavanhaque bem aparado que se estende pela linha do maxilar até as costeletas. Ele observa com expressão de confusão um quadro de tom predominante azul que retrata um homem com a face muito semelhante à sua, inclusive no estilo da barba.

1963
Terror
Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaumont, Francis Ford Coppola (diálogos adicionais), H.P. Lovecraft (romance) e Edgar Allan Poe (poema)

Quando assisti pela primeira vez, eu ainda nem sonhava com a existência de H. P. Lovecraft, hoje um dos meus autores favoritos. Então foi somente quando o revi que percebi que se tratava de um filme baseado no livro "O Caso de Charles Dexter Ward", curiosamente, meu predileto dele.

Debra Paget aparece novamente como a boneca de porcelana apaixonadamente casada com um homem que tem idade para ser seu pai. Contudo, sendo ele o Vincent Price, não estou aqui para julgar ninguém!

É uma pena que o roteiro não aproveita o que a história tem de melhor e acaba focando no terror de forma mais tradicional. Entretanto, pensando ser este um filme tão curto, entendo que é muito difícil trazer para a tela toda a atmosfera de insanidade que os livros do Lovecraft evocam. Além disso, me entristeceu o modo como o roteiro se utiliza de corpos com deficiências para criar medo (algo comum à época).


Vincent Price em preto e branco. Tem um bigodinho fino, usa terno sobre camisa branca, mas a gravata está afrouxada e o botão da gola aberto. Em seu rosto, uma expressão de assombro.Mortos que Matam (The Last Man on Earth)

1964
Terror, Ficção Científica
Direção: Ubaldo Ragona e Sidney Salkow
Roteiro: William F. Leicester e Richard Matheson

Richard Matheson, autor do livro no qual o filme foi baseado, também participou da execução do roteiro, mas saiu creditado como "Logan Swanson" supostamente por não ter ficado satisfeito com o resultado final. Além dele e de Leicester, o IMDb ainda credita Furio M. Monetti e Ubaldo Ragona como roteiristas da "versão italiana", mas não consegui descobrir exatamente o que isso significa.

Esse filme tem um problema grave de ritmo, que é quebrado completamente devido a um flashback muito extenso bem no meio da história. Mas a sequência final é bastante tensa, apesar de que colocar o Vincent Price para correr é sempre um erro. Esse homem elegante, que coloca a camisa para dentro da calça mesmo quando é o último homem da terra, simplesmente é incapaz de correr sem parecer um pato.

Um fato interessante sobre esse filme é que George Romero alega que é a base para a sua ideia de A Noite dos Mortos-Vivos (1968).


O Solar Maldito (House of Usher)
Gif. Um quadro de um rosto feminino abstrato, uma explosão de cores, olhos muito grandes e escuros. Vincent Price está ao lado do quadro, olhando para ele, seu rosto de perfil. Não usa barba ou bigode, o cabelo tingido de loiro quase platinado. A iluminação da cena pisca em um tom forte de azul, deixando tudo, principalmente o quadro, em tonalidades neon.
1960
Terror, Drama
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (conto)

Vincent Price loiro? Trabalhamos!

Esse filme é lindo! Tanto os créditos iniciais, quanto os finais são realmente belíssimos. O departamento de arte desse filme está de parabéns! Os quadros feitos como "retratos" da família Usher são incríveis!

Os efeitos especiais e visuais são ótimos. A sequência do pesadelo é maravilhosa! Evoca com muita habilidade a sensação desconexa dos sonhos - e poucos filmes conseguem fazer isso tão bem.

Quero destacar a caracterização e atuação da Myrna Fahey na sequência final. Toda a sequência é primorosa e visualmente muito impactante, bem do jeitinho que eu gosto.


O Poço e o Pêndulo (Pit and the Pendulum)
Gif. Vincent Price, utilizando um roupão escuro e elegante sobre camisa branca de babados, está descabelado, segura Barbara Steele pelo rosto e a beija de um jeito desvairado. Barbara usa vestido azul claro de mangas bufantes e os cabelos longos, lisos e negros estão soltos.
1961
Drama, Terror, Mistério
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (conto)


De quem terá sido a brilhante ideia de colocar Barbara Steele em um filme com Vincent Price dando a ela tão pouco tempo em cena?! É bastante frustrante, para falar a verdade, esperar por tanto tempo até que ela finalmente apareça. Em compensação, o quadro com o retrato dela que aparece logo no começo do filme é uma das representações mais perfeitas que eu já vi dela, muito lindo!!

A estrutura e história desse filme é bastante similar à de O Solar Maldito. Inclusive o elogio aos créditos iniciais e finais que eu fiz anteriormente vale também para O Poço e o Pêndulo. Os filmes são tão parecidos, que é muito fácil misturá-los na nossa memória pouco tempo depois.

A sequência final desse filme também é muito boa. Gosto muito de ambos os filmes. Talvez um pouquinho mais do anterior por causa da sequência do pesadelo - e pela decepção de ter pouca Barbara Steele nesse (aliás, ela é outra que merece um especial só dela).

Foto de cena do filme. Um quadro pindurado na parede por trás de cortinas vermelhas. As cortinas estão abertas, revelando o retrato de Barbara Steele. Seu olhar oblíquo parece nos observar do alto, os olhos bem delineados têm iluminação que os destacam. O retrato é bastante fiel e tem um tom levemente azulado. A expressão no rosto dela é quase de superioridade. Ela usa os cabelos negros presos, mas a franja longa cai levemente sobre a orelha semi-aparente. sobre uma gola alta de estruturada branca, outra gola alta em "v", de um casaco ou vestido escuro.

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A parte 4 estará disponível aqui a partir do dia 27/05/2019.

13.5.19

Especial Vincent Price - parte 2

Continuando essa série dedicada ao querido Vincent Price, para esse momento selecionei alguns filmes que por algum motivo desapareceram por completo da minha memória, mas que eu sentia que mereciam minha atenção (sim, a seleção dessa semana foi puramente instintiva!).

Caso queria ler desde o início, a parte 1 do especial está aqui.

Assim, abaixo mais quatro filmes revisitados:


Foto em preto e branco. Vincent Price acuado de costas para uma janela aberta, com as mãos agarradas no peitoril, olha para algo fora da cena, seus olhos estão arregalados e a boca aberta, em sinal de absoluto pavor. Usa jaleco branco sobre camisa.
Força Diabólica (The Tingler)

1959
Terror
Direção: William Castle
Roteiro: Robb White



Tem tanta coisa errada e tanta coisa certa ao mesmo tempo que eu nem consigo mensurar.

A relação do personagem do Vincent Price com a esposa segue por um caminho muito delicado e normaliza uma situação em particular que é bastante problemática. Ainda com relação à esposa dele, a trilha sonora chega a atingir momentos não intencionais de comicidade ao tocar melodias sensuais executadas por saxofone praticamente toda vez que a personagem entra em cena.

Contudo, existe muita habilidade em se criar tensão ao longo do filme. Além disso, em vários momentos há a quebra da quarta parede efetuada de maneira bastante interessante e que funciona muito bem com a história.

Ponto positivo: há uma personagem deficiente auditiva.
Ponto negativo: essa personagem sofre violência psicológica extrema tendo sua deficiência como condicionante (ela é mulher, claro).


Em primeiro plano e embaçadas, duas fileiras de garrafas de vinho sobre uma mesa. Centralizado, no fim do corredor de garrafas, Vincent Price segura delicadamente um suporte metálico pela alça (isso substitui uma taça de vidro, mas é bem mais raso). Seus olhos estão comicamente arregalados e sua boca faz um biquinho de quem se prepara para sorver o vinho.Muralhas do Pavor (Tales of Terror)

1962
Terror, Comédia
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (poema)


Temos aqui três contos novamente baseados em poemas de Edgar Allan Poe - é um nome comum de se ler ao lado do de Vincent Price.

A qualidade dos contos vai crescendo ao longo do filme. O primeiro é uma história absurda em todos os sentidos, que se salva apenas pela atuação de Vincent Price (o modo como ele consegue interpretar alguém que fez algo absolutamente horrível no passado e mesmo assim ser muito carismático).

O segundo é uma comédia maravilhosa em que Peter Lorre nos premia mais uma vez com um alcoólatra muito bem executado e engraçado. As caras e bocas de Vincent Price ao degustar vinho são, também, um presente.

E o terceiro é, de longe, o mais impactante! Cria um clima de terror absoluto durante toda a história, apelando para os efeitos visuais grotescos apenas nos últimos minutos. Seria esse um exemplo de "pós-horror"? (risos)


O Caçador de Bruxas (Witchfinder General)

1968
Terror, Drama
Direção: Michael Reeves
Roteiro: Tom Baker, Michael Reeves, Louis M. Heyward (cenas adicionais) e Ronald Bassett (romance)

É muito difícil ser mulher e fã de filmes de terror. É com frequência que nos deparamos com nossos corpos sofrendo todo tipo de violência em função de uma narrativa. Ainda assim, é com alegria que eu vejo que não era o costume levar essas situações ao extremo nos filmes em que Vincent Price participou, ainda que pontualmente isso ocorresse invariavelmente em muitos de seus filmes.

Mas é com profundo pesar que me deparo com O Caçador de Bruxas. Assisti à versão do diretor, que possui as cenas que não foram exibidas à época do lançamento por serem fortes demais. Temo que essas cenas são de fato muito pesadas até mesmo para os padrões do cinema atual.

O filme é desagradável e parece extremamente longo, apesar de possuir apenas uma hora e 26 minutos. Eu me lembrava de não ter gostado dele quando o vi pela primeira vez e, se me lembrasse o motivo, não o teria visto novamente. Foi realmente difícil aguentar até o final.

Apesar disso, achei interessante pensar em como Vincent Price tem uma atuação muito contida nesse filme, o que coloca o caçador de bruxas bem distante daqueles personagens dramáticos que ele costumava fazer.




O Solar de Dragonwyck (Dragonwyck)

1946
Suspense, Drama, Terror
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Roteiro: Joseph L. Mankiewicz e Anya Seton (romance)



Uau!

Esse filme tem um discurso muito poderoso e inusitadamente atual. Baseado no livro de Anya Seton, há uma atmosfera de suspense crescente e o terror é pontual e bastante sutil. No entanto, há algumas ressalvas; por exemplo, quanto a ligar o ateísmo ao caráter do arrendador Nicholas Van Ryn ou quanto ao modo como Johanna parece ser ridicularizada por seu apetite voraz e, consequentemente, pelo seu corpo.

Gene Tierney tem uma atuação primorosa como a protagonista Miranda Wells e Vincent Price está insuportavelmente lindo (ou seria insuportável e lindo?). É uma pena que o roteiro tenha se esquecido da pequena Connie Marshall, visto que sua participação é de tamanha importância na primeira metade da história. Mas me agrada muito a presença de Jessica Tandy como a criada Peggy.

Eu poderia escrever um texto muito maior para discutir as questões levantadas por esse filme, e quem sabe, um dia o farei. Por enquanto, contudo, fica apenas a minha recomendação veemente para que seja assistido!


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A parte 3 estará disponível aqui a partir do dia 20/05/2019.

6.5.19

Especial Vincent Price - parte 1

Neste texto decidi mudar um pouco as coisas. Aproveitando a oportunidade que surgiu de rever um dos meus filmes favoritos com o Vincent Price, resolvi reassistir outros títulos estrelados por esse que é o meu ator preferido de todos os tempos. Aproveito também que maio é o seu mês de aniversário, então mais um motivo para homenageá-lo.

O primeiro filme que assisti com Vincent Price foi Edward Mãos de Tesoura (1990). Não fazia ideia de quem era aquele velhinho e fiquei encantada com ele, sem saber inclusive que aquele havia sido seu último filme. Contudo, somente muitos anos depois (em 2007), ao começar uma busca por filmes de casas mal assombradas, me deparei com A Casa dos Maus Espíritos (1959), sobre o qual eu falei à época neste blog e voltarei a falar ao final deste especial.

A partir daquela data, mergulhei em uma empreitada cujo objetivo era tentar assistir o máximo possível de filmes protagonizados por esse ator incrível. Fiquei obcecada com Vincent Price! Agora, muitos anos depois, revisito seus filmes e aproveito esse momento para divulgar três preciosidades:

- O áudio somente da voz do Vincent Price quando ele faz a narração da música Thriller, do Michael Jackson (incluindo um trecho que não foi na gravação final da música). Eu tenho absoluta loucura por essa narração e a risada final é uma das melhores coisas do universo.
- Vincent Price declama o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe. A voz desse homem foi feita para esse tipo de coisa, eu simplesmente não dou conta.
- O curta do Tim Burton, Vincent (1982), narrado por nada menos que... sim. O link leva ao texto que escrevi uns anos atrás, mas dentro deste há outro link para o curta.

O último filme que eu havia assistido com ele foi em maio de 2017, quando fiz uma maratona de filmes estrelados pela maravilhosa Bette Davis (que provavelmente um dia terá seu próprio especial neste blog, já que é minha atriz favorita de todos os tempos). Trata-se não de um terror, mas sim de um drama bastante delicado chamado Baleias de Agosto (1987).

A seguir, vou comentar brevemente sobre cada um dos filmes revisitados nos últimos dias, os quais selecionei por serem os mais famosos e, alguns, por estarem entre os meus preferidos. O especial foi dividido em quatro partes, para que as publicações não ficassem muito grandes, e se encerrará no dia 27, quando Vincent Price, se vivo estivesse, estaria completando 108 anos!


Vincent Price está sentado em uma cadeira com encosto de vime. Está grisalho, usa bigode pontudo e cavanhaque, e seus olhos azuis brilham. Veste terno preto e gravata de laço (não exatamente a borboleta). Está sério e bastante bonito. Alguém segura à sua frente uma caixa, cujo conteúdo é uma cabeça feminina (de cera), muito bem feita).
Museu de Cera (House of Wax)

1953
Terror
Direção: André de Toth
Roteiro: Crane Wilbur e Charles Belden


Optei por começar por um dos primeiros que assisti dele.

Eu pouco me lembrava da história e me surpreendi positivamente nessa experiência. Eu não me lembrava, por exemplo, como o roteiro é eficiente e como ele já provoca grande aflição logo a partir dos 10 minutos iniciais.

Apesar de apresentar o problema comum à época da falta de diversidade*, gostei de ver como a personagem de Phyllis Kirk tem grande importância no desenvolvimento da trama. Também me conquistaram detalhes como a amizade genuína entre duas personagens femininas; a dona da pensão, apesar de megera, é colocada como uma mulher corajosa; mesmo a cena com as dançarinas de can-can e os closes em suas pernas tendo sido totalmente gratuitos, há comentários progressistas com relação a elas.

Em 2006 escrevi um textinho bem sem-vergonha sobre o remake de 2005 - não recomendo o texto, mas está aí caso haja curiosidade.


O Corvo (The Raven)
gif com Vincent Price (de bigode), usando uma veste de veludo cinza claro decorado, adornado com uma jóia fechando o colarinho. Um corvo se apoia no braço direito enquanto bebe de uma taça que Vincent segura com sua mão esquerda (nesta mão, seu dedo anelar possui um anel com uma grande pedra vermelha). Vincent Price quase sorrindo observa o corvo acompanhando a ação levemente com sua cabeça.
1963
Terror, Comédia
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson e Edgar Allan Poe (poema)

Adoro esse filme! Tenho um problema apenas com a trilha sonora nos momentos em que tenta forçar a graça, o que ocorre bastante principalmente na primeira metade do filme, pois esse tipo de apelo não funciona mais nos dias de hoje. Ainda assim, no restante do tempo, a trilha ainda é bastante eficiente.

O Vincent Price tem muita aptidão para a comédia, isso é inegável. Eu amo suas expressões de espanto, seu sorriso condescendente ao mesmo tempo que simpático. Aliás, o elenco desse filme é um desbunde! Temos Boris Karloff, o amorzinho Peter Lorre e até mesmo um rapazola Jack Nicholson. É uma pena que a parte feminina deixe tanto a desejar, não no sentido de atuação, mas de ter comparativamente pouco tempo de câmera.

Recomendo também mais um filme, chamado Farsa Trágica (1963), em que o trio Price - Lorre - Karloff se reencontra, outra comédia de horror divertidíssima.

Foto em preto e branco. Boris Karloff em pé à esquerda apoia seu braço no espaldar alto e ornamentado de uma cadeira onde está sentado Peter Lorre. No alto do espaldar há um corvo. Vincent Price está em pé à direita olhanado diretamente para o corvo que o olha de volta. Todos possuem vestes elegantes e cheias de adornos e chapéus.


Gif. Vincent Price usa terno preto, gravata borboleta e echarpe vermelhos. O cabelo bigode grisalhos, as faces apresentando rugas e sinais da velhice. Ele se serve de uma bebida com uma concha. Em primeiro plano algumas velas iluminam o ambiente.A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows)

1983
Terror, Comédia, Mistério
Direção: Pete Walker
Roteiro: Michael Armstrong e Earl Derr Biggers (romance)

Esse é o mais novo dos filmes dentre os selecionados para este especial. Reúne um trio inestimável, pois juntam-se a Price os incríveis Peter Cushing e Christopher Lee. O elenco também conta com John Carradine, que faleceu poucos anos depois.

A entrada de Vincent Price é pomposa e dramática, tal qual ele próprio. Não querendo puxar sardinha, mas a presença dele em cena imediatamente dá luz ao filme. A frase "please, don't interrupt me while I'm soliloquizing"** simplesmente me faz sorrir.

Uma das coisas que eu gosto desse filme é que a primeira parte dele é quase como um remake das inúmeras versões de "A Casa Deixada de Herança" do Chapolin Colorado - mas menos galhofa! Já a segunda metade tem um quê de Os 7 Suspeitos (1985) - repito, 'mas menos galhofa!' -, apesar de este ser posterior.

O filme tem problemas principalmente com a atuação do elenco mais jovem. De qualquer forma, é um filme bastante despretensioso e todo o seu clima assustadoramente encantador me agrada muito.

Posando para a foto estão todos de pé, da esquerda para a direita: Christopher Lee, John Carradine, Peter Cushing e Vincent Price. Christopher é visivelmente o mais novo com cerca de 60 anos, Vincent e Peter com cerca de 70 anos cada, e John o mais velho, com quase 80 anos.Todos com roupas muito elegantes, de ternos escuros, e sérios. Ao fundo, o cenário de uma casa antiga cheia de teias de aranha, velas, objetos ornamentando as paredes escuras.

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A parte 2 estará disponível aqui a partir do dia 13/05/2019.




* Aliás, o problema da diversidade é algo que será uma constante nos filmes sobre os quais falarei nesse especial, então não irei ficar repetindo todas as vezes. Apenas tenha isso em mente.

** "Por favor, não me interrompa enquanto estou monologando".

Obs: se você clicar no gif com o corvo, você será redirecionado para uma página recheada de gifs maravilhosos de Vincent Price!