Comédia, Terror
Direção: Anna Biller
Roteiro: Anna Biller
Elaine (Samantha Robinson) decide recomeçar a vida após a morte
de seu marido. Utilizando seus novos conhecimentos de bruxaria, ela procura um
novo amor a qualquer custo.
Eu andava
com saudades desse blogzinho e fico feliz em retornar para falar de um filme
maravilhoso dirigido, produzido, escrito, editado, cenografado, entre outros,
por uma mulher!
Começo
dizendo que eu totalmente não estava preparada para esse hino. Eu me sentei
completamente despretensiosa para ver um filme escolhido quase no aleatório. Primeira coisa que aparece
na tela é o rosto da Samantha Robinson, com aquela maquiagem e cabelos
maravilhosos. Eu até pausei e me acomodei melhor no sofá! E, para minha alegria, essa cena já assinala
o tom do filme todo.
Não é como
se o filme fosse um pastiche das produções das décadas de 60 e 70 (e mesmo bem anteriores),
tentando se passar por um produto de outra época. Anna Biller se apropria do
visual, se apropria da linguagem, os atores reproduzem os trejeitos afetados, mas
o texto é completamente outro. Aqui a história é contada do ponto de vista
feminino para o público feminino.
Aliás,
vamos aproveitar a deixa e sair da conversa técnica, que eu nem domino muito, e
partir para o que realmente me interessa.
A cineasta
traz estereótipos exagerados (como tudo no filme é) para evidenciar e criticar
comportamentos que já deveriam estar extintos no mundo. Elisa é tudo aquilo que
a (nossa) sociedade quer que a mulher seja e passa a vida aprendendo que deve
ser. Claro, em nome do argumento e da comédia, Anna Biller estica esse conceito
até seu máximo. Elisa é a versão hardcore da mulher bela, recatada e do lar. E
ela não tem a menor noção de quão nociva é por causa disso, tanto para si, quanto
para as outras mulheres (homens, o que tenho a ver). A amiga Trish (Laura Waddell)
faz o contraponto óbvio e exagerado, mas o tratamento que Biller dá a ela ressalta que essa pessoa (ainda) não tem seu lugar na sociedade. Ela é
coadjuvante na narrativa, enquanto Elisas são o produto que (ainda) se quer
ver. Com isso, não se quer dizer que mulheres empoderadas não são importantes, mas que o mundo continua a todo momento tentando nos empurrar para escanteio.
Igualmente, os homens retratados também são o resultado dessa mesma sociedade: precisam ser
racionais e desprovidos de sentimentos. Mas quando são enfeitiçados para que
sintam amor, se transformam em “menininhas choronas” e, literalmente, morrem
por não saberem lidar com isso (achei pesadíssimo quando Elisa reclama do amante usando essa expressão e, confesso, nem consegui achar engraçado na hora). Deste
modo, a nossa bruxa do amor procura por esse homem culturalmente tido como ideal
e rejeita todos aqueles que consegue “conquistar”, pois, assim que se tornam
seres sensíveis, perdem sua característica essencial de macho alfa.
E até mesmo o dito "esquerdomacho" está retratado no filme, através do Gahan (Jared Sanford), o
bruxo que usa de discursos de empoderamento feminino para tirar uma lasquinhas
de suas discípulas (e até abusar sexualmente mesmo).
Mas, não se
preocupe, nada disso vem mastigadinho pelo roteiro. Anna Biller tomou o cuidado
de construir uma narrativa que não fosse condescendente com seu público. A edição
é precisa e vai nos dando as informações suficientes para o entendimento da
trama, sem cair na explanação óbvia.
Entretanto, existe uma questão importante que precisa ser ressaltada. O filme tem um objetivo claro e não há desvio de foco. Não vemos ser levantada qualquer outra questão envolvendo outras minorias e a mulher negra tampouco entra em pauta. Ainda assim, acredito que é um filme extremamente relevante dentro do que se propõe a tratar. É uma desconstrução, através do exagero dos estereótipos, de uma ideia que permanece arraigada no nosso imaginário e que precisa ser debatida.
Assim, esse filme me conquistou imediatamente. Como amante do horror, não tem como não ficar atraída pelo visual extasiante. Não tem como não se afeiçoar a quem faz aqueles closes lindos nos olhos da bruxa, me lembrando tanto do meu queridíssimo Bela Lugosi com seu olhar arrebatador. Não tem como não ser conquistada pela afetação e estranhamento que perpassa todo o longa. Não tem como não se apaixonar pelo texto feminista que acompanha tudo isso. Não tem como não idolatrar essa cineasta que imaginou e executou essa obra toda.
Entretanto, existe uma questão importante que precisa ser ressaltada. O filme tem um objetivo claro e não há desvio de foco. Não vemos ser levantada qualquer outra questão envolvendo outras minorias e a mulher negra tampouco entra em pauta. Ainda assim, acredito que é um filme extremamente relevante dentro do que se propõe a tratar. É uma desconstrução, através do exagero dos estereótipos, de uma ideia que permanece arraigada no nosso imaginário e que precisa ser debatida.
Assim, esse filme me conquistou imediatamente. Como amante do horror, não tem como não ficar atraída pelo visual extasiante. Não tem como não se afeiçoar a quem faz aqueles closes lindos nos olhos da bruxa, me lembrando tanto do meu queridíssimo Bela Lugosi com seu olhar arrebatador. Não tem como não ser conquistada pela afetação e estranhamento que perpassa todo o longa. Não tem como não se apaixonar pelo texto feminista que acompanha tudo isso. Não tem como não idolatrar essa cineasta que imaginou e executou essa obra toda.
Mulheres
que amam o terror, e aquelas que nem tanto, uni-vos para abençoar essa nova
cineasta que surge, quase autossuficiente, com uma narrativa própria, para
criar produtos de uma qualidade incrível e que possuem foco em NÓS! Gente,
esse é só o segundo filme dela e eu estou louca para assistir Viva, seu
primeiro longa. Bora exaltar Anna Biller!
...
Aqui trago outros textos de mulheres lindas sobre esse filme lindo:
The Love Witch e a Falta de Amor (da Jéssica Reinaldo no Fright Like a Girl)
Bruxa e feminista, sim: assim é The Love Witch (da Jess no Medium)
The Love Witch: Investigando a Mulher Louca por Macho (no Deixa de Banca)
The Love Witch e os Estereótipos de Gênero nos Relacionamentos (da Camila Novaes em Valkirias)
3 comentários:
Sensacional!!!... quantos detalhes vocês consegue extrair das cenas de um filme!!! Nós pobres mortais apenas assistimos as sequências!!!
Obrigada, pessoa anônima! Eu sou uma pobre mortal também! Acontece que fico pensando muito sobre os filmes após assisti-los, quando eles me impressionam, como foi o caso desse. Além disso, ler outros textos ajuda muito a fomentar essa reflexão. Eu recomendo demais os textos que linkei ao fim do post, caso você ainda não tenha lido! Abraços!
Oi Tha. Sou Mônica.
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