25.8.08

Saam Gaang Yi (Três... Extremos)

2004
Suspense, Drama

Três... Extremos é o segundo volume a juntar três contos de três diferentes diretores e três diferentes localidades, tendo sido o primeiro volume chamado apenas Três. Para Três... Extremos foram selecionados três diretores asiáticos conceituadíssimos: Takashi Miike, do Japão; Fruit Chan, de Hong Kong; e Chan-wook Park, da Coréia do Sul.
 
Todos os contos têm em comum o que o próprio nome do filme já pressupõe: situações extremas. Todos abordam temas como a vaidade, inveja, ciúme, culpa, remorso; e sempre de forma crítica e inusitada. São contos sobre os seres humanos, quem quer que sejam e onde quer que estejam, e suas falhas. São contos que colocam as pessoas em situações adversas e extremas: o que você faria se não existissem os limites? Até onde o homem é capaz de chegar?




Box (A Caixa)
Direção: Takashi Miike
Roteiro: Haruko Fukoshima
e
Bun Saikou





A escritora Kyoko (Kyoko Hasegawa) sonha todas as noites que está envolta em plástico, dentro de uma caixa, conforme é enterrada viva. Tristes lembranças de seu passado começam a se tornar cada vez mais recorrentes, enquanto ela tenta sobreviver ao presente.
 
De todos os contos, este é o que mais remete ao cinema oriental de terror que vem se tornando cada vez mais convencional. Mas, ainda assim, em nada ele é como os outros. Adimito, porém, que quando comecei a assistí-lo, fiquei meio preguiçosa de prosseguir, por crer ser mais do mesmo. Por sorte, insisti e descobri que na verdade ele é realmente mais do mesmo, ou melhor, muito mais. O tipo de narrativa faz-nos lembrar muitas vezes de A Tale of Two Sisters, mas o roteiro e a direção extravasam um pouco mais para o onírico. Bem, onírico talvez não seja uma definição exatamente precisa, mas acho que é a que mais se enquadra aqui.
 
Miike tem uma filmografia que o deixou mais conhecido por seus filmes de um terror mais gore e extremamente violento. E, somado ao título de Three... Extremes, o espectador acaba esperando por algo nessa linha. Porém, o curta é muito mais poético, suave e delicado do que se espera - mas ainda é possível reconhecer o Takashi Miike de Imprint. A história é confusa, e vai se tornando pesada conforme se torna clara, até culminar em um clímax denso e num final que causa certa angustia e estranhamento.
 
A fotografia é belíssima, assim como a trilha sonora; e o roteiro expesso se torna mais agradável em uma segunda vista, onde ele pode ser mais absorvido em alguns detalhes impossíveis de serem percebidos numa primeira instância. Destaque para algumas cenas com o uso já conhecido (e batido) da câmera que caminha lenta, seguida por dois cortes que adiantam a imagem - mas aqui, o recurso é somado a uma trilha sonora delicada que, ao contrastar com o efeito da câmera, evita o exagero que costuma resultar em seu uso mais recorrente (ou seja, quando combinado a trilhas sonoras pesadas e 'impactantes').




Dumplings (Escravas da Vaidade)
Direção: Fruit Chan Kwoh
Roteiro: Lilian Lee







A Sra. Li (Miriam Yeung Chin Wah) é uma atriz que vê sua carreira perder o brilho e seu marido se afastar. Culpando o avanço da idade, resolve recorrer a uma cozinheira local, Tia Mei (Bai Ling), cujos dumplings (uma espécie de pastel de carne, prato típico chinês) possuem a fama de rejuvenescer as mulheres.

O segundo curta conta com direção e edição um pouco mais tradicionais, chamando a atenção pelo tema, o modo de abordagem e pela fotografia de Christopher Doyle (A Dama na Água).
 
A câmera segura somada a uma fotografia colorida (com predominância do verde e do vermelho) deixam o filme visualmente belo e simples. Em contrapartida, Dumplings aborda a temática do apreço demasiado pela beleza física e pela juventude, além de também citar a questão do aborto e, mais superficialmente, o incesto. Essa abordagem é feita de uma forma drástica e exagerada, remetendo ao horror a que a vaidade pode levar. Assim, a beleza visual do curta mascara o grotesco brilhantemente retratado pelo roteiro – exatamente como acontece com seus personagens.
 
As atuações são primorosas, tanto de Bai Ling, indicada para o Hong Kong Film Awards como melhor atriz, quanto de Miriam Yeung. Destaque para uma das cenas finais, quando a Sra. Li está na banheira e a câmera dá um close em seu rosto – a expressão no rosto dela, que vem a seguir de movimento assustador (prefiro não relatá-lo aqui) que ela faz, é algo de gelar a espinha. Cheguei a ficar na dúvida quanto a possibilidade se ser essa a melhor cena para fechar o curta, apesar de a cena final ser psicologicamente ainda mais impactante.

Outro ponto de interesse são os efeitos sonoros. É fato que os efeitos sonoros dos filmes asiáticos têm muito peso e destaque. Isso acontece também nos três curtas de Three... Extremes. Porém, o fator psicológico fez com que o efeito do som dos dumplings sendo mastigados pela Sra. Li produza um resultado ainda mais efetivo do que o nos outros dois contos. Aliás, Dumplings me parece ser verdadeiramente o mais chocante dos três curtas apresentados.
 
Dumplings conta também com uma versão longa-metragem, de mesmo nome.





Cut
Direção: Chan-wook Park
Roteiro:
Chan-wook Park






Um cineasta (Byung-hun Lee) e sua esposa pianista (Hye-jeong Kang) são presos em um set de filmagem por um figurante (Won-hie Lim). O figurante alega que o cineasta é um homem demasiado bom e que precisará provar ter alguma maldadedentro de si estrangulando uma garotinha. O tempo corre, e cada cinco minutos de exitação lhe custará um dos dedos de sua mulher.

Chan-wook Park. Aquele da trilogia Sympathy for Mr. Vengeance / Oldboy / Lady Vengeance. Aquele do humor negro estranho e inusitado. É também o diretor e roteirista do conto que eu mais gostei em Three... Extremes.

Este talvez seja o mais estranho dos três, cuja história parece mais violenta, descabida e tétrica (mas menos grotesca). Me chama a atenção por ser tão diferente dos outros (ou de qualquer outro filme). Assim como também me agradou o cenário; a fotografia, muito colorida e extravagante; e o domínio que o diretor tem com relação ao uso da câmera – visivelmente mais aprimorado e seguro do que nos outros curtas.
 
O tema do conto é a inveja (e, talvez mais mascarado, também o é nos outros dois). Da mesma forma, também em Cut, o desenrolar da trama tem conseqüências extremas – trama que, por sinal, é pouco complexa, diferentemente de seu final. Aliás, o final é algo que deixa o espectador catatônico e confuso.
 
Por fim, como não podia faltar, encontramos nesse curta o recorrente humor desajustado e ‘fora de lugar’ de Park – mas que também existe em uma dosagem que chega a ser impressionante. É um humor que nos pega desprevenidos, da risada que resulta mais pela surpresa e estranhamento do que pela verdadeira graça. E logo o tom do filme volta ao seu rumo anterior, como se nada tivesse acontecido. Não sei bem se é um humor negro tanto quanto é apenas humor, um humor à lá Chan-wook Park.
Um filme à lá Chan-wook Park.

3 comentários:

Dr Johnny Strangelove disse...

Filme perfeito do J-Horror.
Um novo clássico, junto com Ringu.
Primoroso em todos os contos ...


e se tiver uma duvida sobre o ultimo conto ... acredite ... nada é o que parece ...


um grande abraço Thá!

wender. disse...

Legal o teu trabalho neste blog, estou pesquisando alguns gostos em comum e acabei por aqui. Então te deixo o convite pra conferir meu blog .Sou envolvido em cinema também, faço parte de um coletivo e se tiver interesse de saber mais aparece lá.ehehe.
Abração

Wender Zanon
www.discoduplo.blogspot.com

Annix disse...

Achei seu blog através do Lixomania - e gostei tanto! Acho que li todos os arquivos, he. Não conhecia esse "Três...Extremos", já estou correndo atrás ;)